Cidadão Kane

 Um grande marco do cinema, esse filme de 1941 dirido por Orson Welles está comentado no texto abaixo, de Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram).




Orson Welles e Cidadão Kane

           Para iniciarmos, eu gostaria de trazer uma reflexão que eu repito sempre: não existe uma obra ou movimento artístico que não carregue influências de obras que a precedam; nada se cria do nada, e isso vale principalmente para Cidadão Kane, que é uma das mais prestigiadas, estudadas e analisadas obras cinematográficas de todos os tempos.

          Na época da produção desse filme, o ator, diretor e roteirista Orson Welles era muito jovem, ele tinha cerca de 25 anos; porém já trazia muita experiência de seu trabalho no teatro e no rádio. E toda essa bagagem foi trazida por Orson Welles ao cinema e incorporada ao filme Cidadão Kane; o que fez com que ele se tornasse um filme revolucionário em para a linguagem cinematográfica, e também questões estéticas, técnicas e narrativas.

          Outra coisa muito importante para termos em mente: Cidadão Kane é um filme de indústria, foi concebido como tal, produzido para ser distribuído em massa e vender ingressos. Não se enganem, apesar de cultuado, ele nunca foi um filme de arte, tampouco uma obra erudita.

          Mas se tornou importante, também pelo fato de ser o único filme 100 por cento autoral, que é o resultado de absoluta liberdade criativa por parte de Orson Welles. Isso poque a divulgação de Cidadão Kane foi muito dificultada e boicotada pelos meios de comunicação, principalmente os comandados por William Randolph Hearst, um poderoso magnata de imprensa da época que serviu de inspiração para o personagem Charles Foster Kane.

          Observem este cartaz original da época, o que chama a atenção são os elementos de “força” que a publicidade tenta colar ao filme. A cor vermelha ao fundo representa a força, o poder e a gana do protagonista. Note-se também que a figura de Charles Foster Kane é grande e ocupa boa parte do cartaz, deixando todos os outros elementos ao seu redor demasiadamente pequenos. Contornando a figura do homem, há uma branquidão que emana dele como uma luz, um raio.

          Como bem definiu o crítico Roger Ebert em seu livro A magia do cinema, Cidadão Kane cobre o nascimento dos jornais populares (tendo como modelo Joseph Pulitzer), a guerra hispano-americana promovida por Hearst, o nascimento do rádio, o poder das máquinas políticas, o surgimento do fascismo e o crescimento do jornalismo de celebridades.

          Devido ao desconforto de William Randolph Hearts para com Cidadão Kane, nenhum outro estúdio voltaria a dar plena liberdade criativa e autoral para Orson Welles. Todos os seus filmes seguintes sofreram interferência dos produtores na trama e na montagem final.


Texto de Vitor Grané Diniz, página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram)

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Vídeo do YouTube no canal "Lizandra Soave"

https://youtu.be/WNc1yIeU6N8


Nabucco (Ópera)


Ópera escrita em 1842 pelo compositor italiano Giuseppe Verdi, então com 29 anos de idade. 

Inspirada nas passagens bíblicas que relatam a situação do povo hebreu durante o cativeiro na Babilônia, após a queda de Jerusalém, em 587 a. C., sob o jugo do rei Nabucodonosor II.



Em meio a fatos históricos e bíblicos, ocorre também uma história de amor fictícia. 

Composta por quatro partes, conta com os seguintes personagens principais:

Nabucodonosor - rei da Babilônia

Abigail - suposta filha do rei, mas na verdade não era filha legítima e sim de um escravo

Fenena - filha legítima do rei

Zacarias - Sacerdote dos hebreus

Ismael - embaixador dos hebreus na Babilônia (Abigail e Fenena são apaixonadas por ele mas ele gosta apenas de Fenena)

Coro de levitas e virgens judaicas

Coro de magos da Babilônia

Na terceira parte a canção "Vá Pensiero" inspirou o povo italiano a lutar por sua independência, despertando um espírito de patriotismo e nacionalismo.


Assim disse o Senhor: "Eis que eu dou esta cidade nas mãos do rei da Babilônia; ele a queimará com fogo." Jeremias 32, 28

Parte 1  - Jerusalém

No interior do Templo de Salomão estão os judeus, levitas e virgens judaicas.

Zacarias, Fenena e Ana entram. Zacarias entra portando o tumim e urim.

Pedem que confiem em Deus e desata a corda que prende as mãos de Fenena.

Ismael, embaixador de Judá na Babilônia, chega e conta que o Rei Nabuco está chegando. Zacarias está confiante que Deus os ajudará.

Todos saem e ficam  Ismael e Fenena, que se amam. Ela o libertou das garras de sua irmã Abigail. Ambas são filhas de Nabucodonor II.

Abigail, seguida pelos guerreiros babilônicos camuflados em roupas hebraicas entram com espadas na mão.

O hebreus no templo comandados pelo sacerdote Zacarias, ficam sabendo que Nabucodonosor, rei da Babilônia, está vindo com seus soldados para destruir a cidade. 

Chegam suas duas filhas Abigail e Fenena. Fenena está com as mãos amarradas, ela chega como prisioneira. As duas são apaixonadas por Ismael, embaixador de Israel na Babilônia. Mas ele ama Fenena. Abigail fica enciumada.

Nabucodonor chega com seus soldados trazendo ameaça e destruição.


0:46:00

Parte 2  - O Blasfemo (O Ímpio)

No palácio de Nabucodonosor, Abigail encontra uma carta deixada pelo rei dizendo que ela não era sua filha legítima, e sim de um escravo. Ela se revolta.

O sumo-sacerdote entra e diz que Fenena está libertando os hebreus e que eles precisam que ela assuma o trono. Eles já inventaram que o rei foi morto em batalha.

1:00:00 

Em outra sala estão Zacarias e um levita que carrega as tábuas da lei.

Levitas e Ismael entram nos aposentos de Fenena. Eles foram convocados por Ismael mas estão com raiva dele.

Fenena, Ana, Zacarias e o levita com as tábuas da lei. Abigail chega se autoproclamando rainha.

Nabucodonosor volta querendo sua coroa de volta. Revolta-se contra os seus próprios sacerdotes que o traíram. Ele diz que não é mais um rei e sim um deus.

Um raio cai ao lado de Nabucodonosor enlouquecido. Abigail se torna rainha.


1:20:00

Parte 3  - A Profecia

Nos jardins suspensos Abigail reina ao lados dos magos, dos sacerdotes  junto a uma estátua de Baal.

Nabucodonosor chega com os cabelos desalinhados e maltrapilho. Tenta recuperar sua coroa mas é impedido por Abigail.

Às margens do rio Eufrates os hebreus cantam "Va Pensiero"


1:50:00

Parte 4 - O Ídolo Destruído

Nabucodosor dorme e tem um sonho. 

Acorda acreditando que o período que passou na selva como um animal tenha sido apenas um sonho também. 

Vê ao longe Fenena acorrentada, prestes a ser executada, juntamente com os hebreus, e se descobre também um prisioneiro e recobra sua sanidade.

Pede perdão aos Deus dos hebreus. Ele tem o exército a seu lado e seu general o ajuda. 

Ele procura Fenena e os hebreus e se converte. Manda derrubar o ídolo mas ele tomba e se quebra por si só.

Abigail acaba se arrependendo também.

Zacarias o abençoa como rei por ter se convertido.


História Bíblica:

Ana e Fenena - Em Samuel 1, Ana e Fenena eram esposas de Elcana. Fenena tinha filhos e filhas, já Ana era estéril, mas muito amada por Elcana. Ana suplicou a Deus que se tivesse um filho varão, o consagraria ao Senhor. Assim, em 1056 a. C., nasceu Samuel, que foi o último dos Juízes e o primeiro profeta depois de Moisés. Ungiu os reis Saul e Davi.

Abigail - Samuel I, era a segunda esposa do rei Davi, viúva do rico Nabal.

Ismael - Gênesis - Filho de Abraão com a escrava Agar.

Zacarias - Zacarias - Profeta do exílio e pós-exílio. Participou da reconstrução de Jerusalém.

Nabucodonosor II - Daniel - Rei da Babilônia responsável pela queda de Jerusalém. Como castigo pela sua soberba, sofreu por um distúrbio mental o que fez passar "sete períodos de tempo" vivendo com um animal. Depois recobrou sua sanidade mental e passou a glorificar a Deus.

A libertação dos hebreus do cativeiro foi realizada pelo rei da Persia, Ciro, quando conquistou a Babilônia, em 538 a. C.


Sequência de eventos bíblicos:



Doze Homens e Uma Sentença

 Filme de 1957, do diretor Sidney Lumet, ilustra o texto abaixo sobre o surgimento na indústria do cinema de um movimento muito marcante que ficou conhecido como "Nova Hollywood". 

Um texto escrito por Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram).




            Nova Hollywood

             Em 1966, o cinema americano passava por uma transformação; a essa altura, chegava com força o movimento que ficou conhecido como Nova Hollywood, uma revolução cinematográfica que chegou para abordar temas polêmicos e desafiar tabus.

Como se vê, a temática da segregação racial já começava a ser explorada no cinema norte-americano, destaquemos também alguns exemplos como Em Doze homens e uma Sentença (1957),  primeiro filme de Sidney Lumet, doze jurados discutem o destino de um homem negro acusado de matar o pai; em Acorretandos (1958), dois prisioneiros fugitivos, um negro (Sidney Poitier) e um branco (Tony Curtis) se vêm obrigados a passar toda a fuga juntos, uma vez que estão acorrentados pelo pulso; em Anatomia de um crime (1959), o advogado interpretado por James Stewart tem a função de defender um tenente do exército branco acusado de matar um homem negro que, supostamente, teria violentado sua esposa. Uma das obras mais notáveis da época, O sol é para todos (1963) apresenta Gregory Peck como um advogado que defendia um negro acusado de estupro em uma cidade do Sul dos Estados Unidos. Porém foi em 1967, um ano após o lançamento de Caçada humana, que o tema racismo deixaria uma real marca no cinema norte-americano, e isso se deve ao lançamento de três filmes em específico: Ao mestre com carinho, Adivinhe quem vem para jantar e No calor da noite (1967), todos estrelados por Sidney Poitier, um dos primeiros atores negros a gozar de certa popularidade em Hollywood.

De acordo com o autor Mark Harris em seu livro Cenas de uma revolução: o nascimento da nova Hollywood, “mais de uma década depois de a lista negra do senador McCarthy terem feito com que boa parte da produção cinematográfica se afastasse das questões políticas, o movimento pelos direitos civis vinha se tornando a oportunidade ideal para que muita gente em Hollywood radquirisse o direito de se manifestar nesse sentido”.

Vale destacar que grandes nomes do cinema adotaram o ativismo político paralelamente à sua profissão: Marlon Brando, Paul Newman, Gregory Peck, Robert Wise, Jane Fonda e Barbra Streisand. Newman, por exemplo, chegou a marchar ao lado de Brando na capital Washington, em agosto de 1963, em um famoso ato pelos direitos civis. “A marcha pelos direitos civis de agosto de 1963, em Washington, foi um momento de renascimento da politização em Hollywood, que segundo o colunista do The New York times Murray Schumach: ‘decidiu reunificar o país depois de quase dezesseis anos de secessão espitirual’”, explica Mark Harris. Como ator e ativista, Gregory Peck rejeitava o status de “benfeitor”, no entanto não escondia suas posições político-sociais a ponto d’elas inteferirem em seu trabalho como ator, o que ocorreu no filme O sol é para todos, "Não sou um benfeitor. Me envergonharia ser classificado como humanitário. Eu simplesmente participo de atividades em que acredito", afirma Peck.

Os anos 70 vem chegando para reescrever a história do cinema, nessa fatídica década, seriam produzidos filmes incríveis, uma nova geração formidável de cineastas que incluía Martin Scorsese, Woody Allen, Steven Spielberg, George Luccas, Michael Cimino, Brian de Palma, Peter Bogdanovich, Paul Schrader, Paul Mazursky, John Milius, John Carpenter, William Friedkin e Francis Ford Coppola começaria a ganhar notoriedade. Uma nova leva de atores brilhantes com Al Pacino, De Niro, Gene Hackman, Robert Duvall, Diane Keaton, Dustin Hoffman, Jack Nicholson, Robert Redford, Jane Fonda, Barbra Streisand, Elliott Gould, Richard Dreyfuss e Meryl Streep também surgiria.

Em 1967, Luis Buñuel lança A bela da tarde, que narra a história de uma dona de casa casada que decide adentrar o mundo da prostituição. Na Itáia, dois importantes diretores, Luchino Visconti e Pier Paolo Pasolini lançam filmes escandalosos que abordam a liberdade sexual, piadas escatológicas, nudismos e símbolos fálicos. Em 1974, chega aos cinemas Emmanuelle, de Just Jaeckin, que conta a história de uma mulher casada que explora as várias possibilidades do sexo; um ano depois Pier Paolo Pasolini lança Saló, que aborta temas como nazismo e estupro. Já em 1976, é produzido na Dinamarca O império dos sentidos, história de amor de uma ex-prostituta.

Era o cinema europeu se desvinculando do conservadorismo, embora na mesma época o cinema norte-americano já apresentava indícios de que iria produzir, em breve, obras que abordassem temáticas polêmicas como sexualidade, drogas e violência explícita, nesse contexto, destaca-se dois poderosos e importantes filmes da época: Laranja mecânica (1971), de Stanley Kubrick e Taxi driver (1976), de Martin Scorsese. 

Os anos 60 estão chegando ao fim, e ficaram pelo caminho seus grandes símbolos: Marilyn Monroe, Montgomery Clift, Martin Luther King, Robert Kennedy, Sharon Tate, dentre outros. Marlon Brando, para o bem ou para o mal, ainda era um dos poucos símbolos dos anos 50 e 60 que estava na ativa.

E juntamente com tudo isso, os anos 60 levava consigo uma década extremamente atípica para o cinema, o grande sucesso Se meu apartamento falasse (1960) abordou temas polêmicos como adultério, Adivinha quem vem para jantar (1967) tocou na delicada questão racial, Perdidos na noite (1969) aborta o tema da prostituição masculina; outro filme decisivo foi o clássico de Mike Nichols, A primeira noite de um homem (1967), estrelado por Dustin Hoffman e Anne Bancroft, “se a maior parte do cinema americano fora até então convencional, esse filme de Nichols conecta o velho mundo com o novo apontando para o cinema mais experimental que viria na década de 70”, conclui a escritora e editora Carol King. O cineasta Michelangelo Antonioni lança Blow-up (1966), com cenas explicitas de sexo e consumo de drogas, já o surrealista Luis Buñuel chocou a todos ao contar a história de uma tímida dona de casa que, por livre iniciativa, adentra o mundo da prostituição em A bela da tarde (1967). John Cassavetes introduziu o cinema independente em plena Hollywood; alguns diretores de sucesso da televisão como Arthur Penn, Norman Jewison, Mike Nichols e Sidney Pollack migraram para o cinema; diretores americanos de sucesso como Stanley Kubrick e Richard Lester optaram por se estabelecer na Grã-Betanha, por outro lado cineastas estrangeiros como John Schlesinger, John Boorman e Roman Polanski partem para Hollywood; níveis nunca vistos antes de violência são mostrados explicitamente em Os doze condenados e Bonnie e Clyde (ambos de 1967), e Meu ódio será tua herança (1969); o western, gênero tipicamente americano, começa a ser produzido na Itália – um movimento que ficou conhecido como Spaghetti Western – revelando três grandes nomes do cinema, o ator Clint Eastwood, o diretor Sergio Leone e o compositor Ennio Morricone. “A história dos filmes de Hollywood da década de 60 também pode ser considerada pelo viés da mudança dos padrões de censura e das atitudes político-sociais. Aquela foi uma época de transição entre o Rat Pack e Woodstock, entre a camelot idealista de John Kennedy e as mobilizações fervorosas a favor dos direitos civis e contra a Guerra do Vietnã”, analisa o romancista, crítico e locutor Kim Newman.

Sem contar que os anos 60 foram dominados por grandes filmes de espionagem, como os da série James Bond; revolucionárias ficções científicas como O planeta dos macacos e 2001: uma odisseia no espaço (ambos de 1968); além de novos terrores como A aldeia amaldiçoada (1960), A noite dos mortos vivos e O bebê de Rosemary (ambos de 1968).

Vale destacar também que a Hollywood dos anos 60 recebeu influência direta da Nouvelle vague francesa, movimento cinematográfico liderado por Jean Luc-Godard e Françoise Truffaut, o diferencial desse novo movimento é que os filmes apresentariam uma abordagem mais ambiciosa, pessoal e liberal do ponto de vista formal narrativo do que o restante dos filmes comerciais produzidos pelos grandes estúdios na época, e portanto surgiram novos atores, diretores, gêneros e subgêneros de filmes influenciados diretamente pela vanguarda e contracultura da Nouvelle vague, enquanto outros tipos de filmes ficaram ultrapassados. Todo o movimento cinematográfico dos anos 60 – principalmente o da segunda metade da década – ficou conhecido como a “nova Hollywood”. A essa altura, cineastas como William Wyler, Billy Wilder e Elia Kazan representavam o que havia de mais antiquado. Nas palavras de Sidney Pollack, a velha Hollywood simbolizava “as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas que vêm fazendo nos últimos 25 anos”.

Nessa época e nesse contexto, estava surgindo uma nova tendência em Hollywood: a das superproduções Hollywoodianas, os produtores criando obras que pretendiam seguir a popularidade de produções recentes e de considerável sucesso como Aeroporto (1970), O destino de poseidon (1972), O inferno na torre (1974), Tubarão (1975), Guerra nas estrelas e Contatos imediatos do terceiro grau (ambos de 1977). “A superprodução talvez possa ser mais bem definida como um filme que usa um estreito conjunto de parâmetros – ficção científica, terror, comédia, fantasia, catástrofe ou ação – para atrair o maior público possível”, explica o crítico e redator Tom Huddleson, mais a frente em seu artigo ele ainda reflete que “a superprodução valoriza o drama com efeitos especiais e sonoros maiores ou melhores. Para o público eles acentuam a sensação de terror ou de encantamento quando o Bem triunfa sobre o Mal ou quando a humanidade sobrevive a todas as dificuldades”.

Desde o surgimento desta nova onda, os maiores campeões de bilheteria haviam sido direcionados a plateias mais jovens, essa mudança representou um aumento significativo nos lucros, não contanto apenas com o valor das bilheterias, mas também de brinquedos, vídeos e DVDs, que por vezes geram mais receita que os próprios lançamentos no cinema. Senão vejamos, O exorcista (1973) ultrapassou a marca de 200 milhões de dólares de receita, um feito inédito para o cinema até então. Tubarão (1975) ultrapassou a marca de O exorcista em mais de 60 milhões. Dois anos depois, o primeiro filme da saga Star wars (1977) desbancou os sucessos anteriores com um impressionante lucro de mais de 500 milhões de dólares. Nunca números tão altos haviam sido vistos no cinema até então.




Rebelião em Alto Mar

 Filme de 1984, do diretor neozelandês Roger Donaldson, ilustra o texto abaixo, de Vitor Grané Diniz da página "Noites de Cinema" - , a respeito do motim a bordo do navio HMS Bounty, uma história real ocorrida em 1787.




Filmes sobre o Bounty

Até hoje já foram realizados alguns filmes sobre a revolta do Bounty, os principais foram: O grande motim (1935), O grande motim (1962) e Rebelião em alto mar (1984). O primeiro foi um enorme sucesso e é considerado o melhor, com um forte elenco encabeçado por Charles Laughton, Franchot Tone e Clark Gable. Gable fez o papel de Fletcher Cristian, o astro apresenta o personagem de forma viril e heroica, que lidera o motim com pulso firme e convicção, bem diferente do que faria Marlon Brando anos depois. Nesse sentido, a versão de Fletcher Cristian interpretada por Mel Gibson no filme de 1984 está muito mais próxima à versão de Brando do que de Gable. Tanto no filme de 1962 quanto no de 1984, Fletcher Cristian se vê em um beco sem saída, tomado pelo desespero e por um sentimento de revolta, ele toma a posse do navio sem creditá-lo com um ato heroico. Aliás, a versão de 1984 é amplamente considerada por críticos e especialistas como a mais fiel aos fatos, pois nesse filme não há heróis ou vilões, mas sim excessos e exageros de ambos os lados, o capitão Bligh, interpretado por Anthony Hopkins é mais “humanizado” do que nas versões de Charles Laughton e Trevor Howard.

Dentre as três versões, pode-se dizer com certeza, que a de 1962 é a que mais se distancia dos fatos reais, basta comparar os finais dos três filmes, o único em que Fletcher Cristian morre é na versão com Marlon Brando, ele falece na praia em meio à sua esposa e amigos, uma morte muito poética com diálogos existencialistas e humanistas, onde ele expõe sua generosidade, dignidade e amor. Porém ainda assim, a morte retratada no filme é bem diferente da vida real, a versão oficial conta que Fletcher Christian morreu assassinato por outros habitantes da ilha em 1793. No filme, Fletcher morre após tentar recuperar alguns objetos do Bounty, que estava sendo destruído pelo fogo. Já nas duas outras versões, é o próprio Fletcher Cristian que ateia fogo no navio. Nunca se soube o verdadeiro destino do amotinado, por isso ele não é especificado nos filmes de 1935 e de 1984, apenas na versão de 1962.


Texto de Vitor Grané Diniz, página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram)

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007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro

Filme de número nove na franquia, de 1974, traz de volta Roger Moore no papel principal e também e a direção continua com Guy Hamilton. O filme é baseado no décimo terceiro livro de Ian Fleming, de 1965.




O contexto é a crise do petróleo, de 1973, quando os membros da OPEP, os países produtores, fizeram um embargo petrolífero contra alguns países que apoiaram Israel na guerra do Yom Kippur e aumentaram o preço do insumo em quatro vezes.

O excentrico assassino profissional Francisco Scaramanga, interpretado pelo ator britânico Christopher Lee, cobra um milhão de dólares para realizar seu serviço, e utiliza uma pistola de ouro de 4,2mm com capacidade para um único tiro, montada com três peças: uma caneta, uma cigarreira e um isqueiro.


Christopher Lee como Scaramanga

Filho de pai cubano dono de circo e mãe inglesa encantadora de cobras, Scaramanga nasceu no circo e cresceu nesse universo. Nas primeiras cenas, em sua ilhal particular em território chinês, deixa à mostra a anomalia genética que o destaca ainsa mais, um terceiro mamilo. E na casa da ilha ele utiliza uma sala decorada e adaptada com uma bizarra temática circence para eliminar um comparsa da máfia Spangled Mob (Diamonds are Forever).

*O ator Christopher Lee era primo de Ian Fleming e tinha sido congitado para fazer o papel de Dr. No, primeiro filme da franquia.

Seu assistente Nick Nack é interpretado pelo ator francês Hervé Villechaize, então com 30 anos, que viria a se tornar também muito conhecido pelo personagem Tatoo na série de TV "Ilha da Fantasia" (1977-1984).





A ilha que serviu de locação para a casa e o quartel general de Scaramanga é a Ilha Khao Phing Kan, que fica no sul da Tailândia, mais conhecida hoje em dia como ilha James Bond.




O filme também traz de volta o impagável personagem Xerife J. W. Pepper, de "Live and Let Die". Ele está com a esposa fazendo turimso em Macau e acaba se envolvendo em uma das perseguições ao lado de James Bond.






Em uma manobra acrobática com o carro, Bond lembra o lendário piloto Evel Knievel (filme "Evel Knievel - Desafio em Duas Rodas").


O piloto Evel Knievel


Prólogo


Scaramanga e sua companheira tomam sol à beira da praia em sua ilha e o seu mordomo e comparsa Nick Nack traz champagne e um petisco que parece ser ostras. Ele esquece de levar a pimenta Tabasco.

Do outro lado da ilha chega então um mafioso da Spangled Mob para pegar a primeira parcela do pagamento de um serviço para o qual será contratado. Mas na verdade ele será uma vítima para que Scaramanga possa treinar suas habilidades de exímio atirador em sua sala dos horrores.

E nessa sala, além de uma decoração circense, estão também diversos aparatos acionados a partir de uma sala de controle comandada por Nick Nack, com jogos de luzes e espelhos, além de bonecos de cera de personagens como o mafioso Al Capone e seus capangas e também James Bond.

Nesse treinamento, Nick Nack é quem estipula os desafios, e seu objetivo é fazer com que Scaramanga também seja morto para ficar com a herança. Aparentemente esse é um acordo entre os dois.



Primeira parte

No escritório de M em Londres, James Bond é questionado sobre o nome Scaramanga e ele dá então a ficha completa do bandido: o homem da pistola de ouro, filho de pai cubano dono de circo e mãe inglesa encantadora de cobras, foi mágico até os 10 anos de idade e pistoleiro no Rio de Janeiro aos 15 anos. Recrutado pela KGB na Europa, onde se tornou um assassino mal pago. Depois tornou-se independente e cobra 1 milhão de dólares por serviço. E ninguém tem uma foto dele.

"M" mostra a Bond uma bala de ouro com seu número, 007, entalhado, juntamente com um bilhete, levando o MI6 a pensar que James Bond é a próxima vítima. E para preservar Bond, "M" libera o agente de sua atual missão, que está associada à crise energética pela qual o mundo está passando naquele momento, e uma nova tecnologia envolvendo energia solar. Sua missão é encontrar um tal Gibson e uma célula solar.

Mas Bond conclui que precisa encontrar Scaramanga primeiro, antes que ele o encontre. Ele se lembra que o agente 002, Bill Fairbanks, foi assassinado também com uma bala de ouro,em Beirute em 1969, num cabaré com uma dançarina chamada Saida, e Bond começa por aí a sua investigação.

Atriz inglesa Carmem du Satoy como Saida

0:15:00

Em Beirute Bond vai à procura de Saida, que usa a bala de ouro como adorno em seu umbigo durante uma apresentação de dança do ventre. Mas sua presença chama a atenção dos mafiosos locais e numa luta com esses capangas Bond acaba engolindo a bala sem querer.


0:19:58

De volta a Londres, no laboratório de "Q", especialistas analisam a bala e concluem, pelas suas características, que ela tenha sido produzida por um artesão português chamado Lazar, que mora em Macau.

* Macau era uma colônia portuguesa na China até 1974. Nesse ano, após a Revolução dos Cravos em Portugal, e início da liberação das colônias portuguesas ao redor do mundo, Macau passou a ser um território chinês com administração portuguesa e em 1999 foi transferida definitivamente para a China.

0:21:30

Em Macau Bond se encontra com Lazar, e o pressiona para tirar dele as informações sobre a última remessa de balas de ouro. Ele cede e diz que a próxima entrega será feita como de costume, no cassino da cidade.

No cassino, Bond vigia a mulher que coleta as balas, a companheira de Scaramanga. Ele a segue no barco que faz o tranporte até Hong Kong, e o piloto do barco mostra aos passageiros os restos do famoso navio inglês Queen Elizabeth, que encalhou na China em 1971.

* O navio Queen Elizabeth, depois de ter seu uso oficial "aposentado", passou por diversas vendas até ser comprado por um empresário chinês que pretendia fazer dele uma universidade flutuante. Mas durante as reformas ele pegou fogo e virou na baia chinesa.






0:27.00

Em Hong Kong Bond se encontra com outra agente de campo do MI6, a Mary Goodnight, que também sera a principal Bond Girl do filme. Eles vão até o hotel The Peninsula, Andrea Anders, amante de Sacaramanga está hospedada.

A atriz sueca Britt Ekland como Goodnigth

Hotel Península em Hong Kong


No quarto do hotel Bond pressiona Andrea para que ela dê mais informações sobre Scaramanga e ela acaba contando que vive com ele mas que ele só a procura antes de realizar alguma missão, ou seja, antes de um trabalho como assassino.

A atriz sueca Maud Adams
 como Andrea Anders

Ela revela também que naquela noite Scaramanga estará num lugar chamado Bottoms Up Club, e que eles usa sempre um terno branco de linho, uma gravata preta e acessórios de ouro.

0:33:00

À noite, Bond observa o movimento do bar do lado de fora, numa zona do "baixo meretrício". Em frente ao estabelecimento, por traz do luminoso de um outro local chamado Golden Dragon, Scaramanga está à espreita. Mas seu alvo não é Bond, e sim o cientista  Gibson, especialista em energia solar, que estava no bar juntamente com um agente chines do MI6, o tenente Hip, que estava trabalhando na investigação à procura de um aparato chamado Solex, que é roubado por Nick Nack no meio do tumulto, e vai até o barco de Scaramanga, uma embarcação chinesa do tipo "junco", que também serve de residência móvel para o assassino.




Hip não se identifica de imediato para Bond e o leva escoltado até o navio Queen Elizabeth, fingindo ser da polícial local. A bordo do navio Bond vem a saber que ele foi adaptado para servir de quartel general para o MI6 e que "M" está lá à sua espera, juntamente com "Q' e o Professor Frasier.

*O cenário do interior do navio é muito interessante, pois como a embarcação está tombada, o ambientes estão todos inclinados, rotacionados em um ângulo de 45 graus.

No navio "M" menciona o nome do filme "O Mundo de Suzie Wong", de 1960. Ele diz a Bond que no futuro, da proxima vez que ele quiser visitar "O Mundo de Suzie Wong" à noite, que ele avise antes o agente Hip.




Em suas investigações, Hip descobre que Gibson estava tentando obter imunidade trabalhando para um empresário de Bangkok, na Tailândia, o multimilionário Hai Fat. Em troca da imunidade ele iria oferecer a tecnologia solex, que poderia ajudar a resolver a crise energética, já que o carvão e o petróleo são finitos e escassos, o urânio é muito perigoso e as usinas geotérmica é muito cara. 

Juntos, Hai Fat, Scaramanga e Gibson, tinham construído uma usina para geração de energia solar em grande escala, e o "agitador solex" seria uma peça fundamental para o funcionamento dessa usina. Ele faz a conversão da radiação solar em eletricidade industrial.

Mas Bond ainda não sabe disso e acredita que Hai Fat tenha contratado Scaramanga para matar Gibson, mas que não o conheça pessoalemente. Então ele decide ir a Bangcoc e se fazer passar pelo assassino. Pede até para que "Q" providencie para ele um terceiro mamilo falso.

Segunda Parte


0:44:15

Bond vai a Bangkoc e finge ser Scaramanga quando invande a residência de Hai Fat. O empresário finge que acredita em seu disfarce e o convida para jantar, o que na verdade é uma armadilha, pois o verdadeiro Scaramanga já está na casa do milionário.

Chegando para o jantar, Bond é então atacado pelos capangas de Hai Fat, que o levam para uma escola de artes marciais do empresário, para lutar com os  melhores alunos da escola.


Depois de vencer a maioria dos rivais a arrumar a maior confusão, Bond escapa com a ajuda de Hit que chega com suas duas sobrinhas adolescentes, exímias lutadoras de Karatê.

Durante a fuga, Bond usa um barco a motor e sai pelos canais turísticos de Bangkok, os khongs que fazem a cidade ser conhecida como a "Veneza do oriente". E é justamente nesse local que encontramos nosso impagável xerife J. W. Pepper, passando férias com a esposa. 

Ao saber da fuga de James Bond, Hai Fat decide fugir do país temendo que o serviço secreto britânico o encontre. Ele entrega o agitador solex para Scaramanga, mas acaba sendo traído pelo sócio e levando um tiro da arma de ouro. Scaramanga assume então o controle total da usina de energia solar.

1:05:00

De volta ao hotel, Bond tem um pequeno flerte com Goodnight, primeiro no restaurante e depois em seu quarto. até que Andrea vai també até o quarto para ter uma conversa com ele, contando que odeia seu parceiro Scaramanga, e que foi ela quem mandou a bala com o número 007 entalhado, pois somente ele poderia matá-lo. Em troca, Bond pede que ela lhe entregue o agitador solex.

Ela volta para o barco de Scaramanga depois de combinar com Bond um encontro em um torneio de luta para entregar o dispositivo, mas ele já a encontra morta. Scaramanga chega e tem uma conversa com Bond, que vê o aparelho no chão, consegue pegá-lo e entregá-lo a Hip, que o entrega a Goodnight.

Só que Goodnight vai colocar um transmissor no porta-malas do carro de Scaramanga, ele a vê e a empurra para dentro do carro. Começa então uma perseguição de carro e novamente entra em cena o xerife J. W. Pepper,  que acaba inclusive participando da alucinante perseguição de carro que atingirá o ápice com a manobra a la Evel Knievel.

Até que Scaramanga entra com seu carro em um galpão e rapidamente o transforma numa máquina voadora. 




1:30:00

Em Hong Kong, Bond e Hit prestam contas a "M" que fica enfurecido com a péssima condução da operação. Mas os britânicos conseguem rastrear o sinal do dispositivo de Goodnight e descobrem que ela está num conjunto de ilhas no interior da China comunista. 

Bond se oferece para ir até lá pessoalmente, sobrevoando com um vôo baixo, de maneira a não ser visto pelos radares chineses. Ao se aproximar da ilha ele é detectado pelos soldados chineses que avisam Scaramanga. Esse fala para que eles deixem o avião se aproximar pois trata-se de um hóspede que está esperando.

Conclusão


1:35:00

Ao pousar na ilha é recepcionado com champagne por Nick Nack. Scaramanga também faz uma recepção calorosa e pede que Nick Nack prepare o almoço, contando a Bond que seu assistente é um chefe de cozinha formado na escola francesa Le Cordon Bleau.

Scaramanga mostra a Bond a impressionante usina de geração de energia solar e diz que essa tecnologia estará diponível a nação que pagar mais. Bond diz que os sheiks árabes pagariam para ele não vender. Ele mostra que a instalação não apenas gera energia mas também é uma poderosa arma e ele demonstra isso colocando fogo no avião de Bond.

Durante o almoço, na companhia também de Goodnight, começa uma animosidade entre Bond e Scaramanga e esse propõe um duelo. Mas Scaramanga não cumpre as regras do embate e o confronto acaba transferido para a sala dos horrores de Scaramanga. Os dois se enfrentam até que Bond, depois de muita tensão, elimina de vez seu inimigo.

Ao fugir do vigia que a mantinha prisioneira, Goodnight o empurra para dentro dos tambores cheios de líquidos, dando início a uma pane na usina e dando muito trabalho para Bond eliminar o risco de explosão e ainda recuperar o agitador solex. 


1:58:00 

Bond  e Goodnigth fogem da ilha no barco de Scaramanga, mas ainda há um último confronto final com Nick Nack, que acaba sendo preso no mastro do barco enquanto o casa curte a viagem para Hong Kong.

A Vida é Bela

Vencedor de três Oscars, essa belíssima obra de 1997, do diretor italiano Roberto Benigni,  ambientado no período da segunda guerra mundial, é um exemplo bem sucedido do desafio de atuar e dirigir ao mesmo tempo, como muito bem comentado no texto abaixo, de Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cimena" (Facebook e Instagram). 




Atuar e dirigir

Na história do cinema, durante muito tempo, o diretor não passava de um membro anônimo da equipe, geralmente subordinado ao produtor. O grande público lotava as salas cinemas pela temática do filme ou para ver os grandes astros, mas não pelo diretor. Porém essa cultura mudou em meados dos anos 50, quando a revista francesa Cahiers du cinéma apresentou a chamada “teoria do auteur” defendida por Françoise Truffaut, que pregava que, apesar do trabalho coletivo, o principal responsável pela obra era sempre o diretor; a teoria foi difundida nos Estados Unidos pelo crítico Andrew Sarris e influenciou a visão do grande público em relação à essa função, o diretor passou a ser então o “progenitor” da obra. Por conta disso, hoje é impossível desvincular o nome de determinadas obras de seus diretores, por exemplo: Titanic é “um filme de James Cameron”, Fale com ela é “um filme de Pedro Almodovar”, Cidadão Kane é “um filme de Orson Welles”, Touro indomável é “um filme de Martin Scorsese”, Psicose é “um filme de Alfred Hitchcock”, Farrapo humano é “um filme de Billy Wilder”, Laranja mecânica é “um filme de Stanley Kubrick” e Os imperdoáveis.

A prática de dirigir e atuar no mesmo filme existe desde os primórdios do cinema, é quando o diretor resolve atuar em seus próprios trabalhos, assumindo assim uma dupla função. Isso existe desde a época de Georges Mélìes, no final do século XIX. Méliès dirigiu, atuou, escreveu e produziu centenas de produções curtas. Ainda na era cinema mudo, grandes astros como Buster Keaton, Erich Von Stroheim e o sueco Victor Sjöström assumiram alguns de seus trabalhos tanto à frente quanto atrás das câmeras.

O astro maior da comédia dos anos 10, 20 e 30, Charles Chaplin criou o seu famoso personagem, o vagabundo e dirigiu e atuou em dezenas de filmes, além de produzir, roteirizar e compor as trilhas sonoras sem nunca perder a mão. Mas mesmo após Chaplin abandonar seu famoso personagem, ele ainda teve fôlego para continuar dirigindo e atuando em alguns de seus projetos da fase falada.

Nos anos 40, novos cineastas e atores se aventurariam em dirigir e atuar em seus filmes, Orson Welles se eternizou como o diretor e protagonista de Cidadão Kane (1941), Laurence Olivier dirigiu a si mesmo em algumas ocasiões, principalmente nas versões cinematográficas adaptadas da obra de Shakespeare, como Henrique V (1944), Hamlet (1948) e Ricardo III (1955); Gene Kelly se tornou famoso por estrelar e co-dirigir alguns de seus musicais mais famosos, principalmente Um dia em Nova York (1949) e Cantando na chuva (1952); Jerry Lewis, talvez se inspirando em Chaplin e Buster Keaton, também dirigiu e atuou em várias de suas grandes comédias como O mensageiro trapalhão (1960), O terror das mulheres (1961) e O professor aloprado (1963).

Entre os anos 70 e 2000, surge uma leva de grandes atores e diretores, e logo, o movimento de dirigir e atuar retorna com força. Tanto que alguns dos filmes mais bem-sucedidos e premiados variam dessa época. Vale destacar Sem destino (estrelado e dirigido por Dennis Hopper); Noivo neurótico, noiva nervosa (estrelado e dirigido por Woody Allen); Coração valente (estrelado e dirigido por Mel Gibson); Os imperdoáveis e Menina de ouro (ambos estrelados e dirigidos por Clint Eastwood) e A vida é bela (estrelado e dirigido por Roberto Benigni). Aliás, Roberto Benigni e Laurence Olivier são os dois únicos atores que já venceram o Oscar na categoria de Melhor Ator atuando sob a direção de si próprio.

Cineastas reconhecidos como Quentin Tarantino e Spike Lee ainda hoje mantém o hábito de reservarem a si próprios alguns pequenos papéis em seus filmes.

Outros grandes atores reconhecidos já se arriscaram na direção e na atuação simultânea, como por exemplo Jack Nicholson, Robert DeNiro e Anthony Hopkins. O que leva um ator profissional a abrir uma exceção em sua carreira e se aventurar como diretor é o fato de que, em suas experiências anteriores, ele ter sido dirigido por outros diretores e, a certa altura, ter tido a vontade de fazer o filme em questão à sua maneira, discordando das técnicas dos diretores com os quais trabalhou, por isso ele decide fazer o “seu” filme ao “seu” estilo. 

Analisando friamente esta questão, geralmente quando um ator tenta assumir a função de diretor, mesmo que por um filme, este filme tende a não ser uma obra-prima. Tomemos como exemplo o ator Robert DeNiro, que já entregou belíssimas atuações sob a direção de nomes como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Michael Cimino, Penny Marshall e David O. Russell, porém quando ele mesmo se dirigiu, em duas ocasiões, o resultado não foi tão satisfatório. 


Os Três Mosqueteiros

Filme de 1948, do diretor George Sidney, ambientado na corte francesa do século XVII, é trazido aqui como um exemplo da modalidade de contratação de atores que ficou conhecida como Star System, e que vigorou por um período da primeira metade de século XX, nos estúdios de Hollywood.

O formato alçava a imagem do artista ao estrelato, mas também o aprisionava de certa forma tanto legamente como também dentro de um comportamento estabelecido artificialmente para aquela "persona" que ele incorporava.

Essa fase da história do cinema está contada no texto abaixo, de autoria de Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram).



Em meados do século 20, Hollywood passava por um momento em que os grandes estúdios como a Fox, Warner, MGM, Paramount, Universal, Columbia e RKO haviam desenvolvido e aperfeiçoado um mecanismo quase infalível para produzir e controlar o que o público americano consumia. Esse fenômeno ficou conhecido como “sistema de estúdio”. Inclusive, vários destes estúdios mencionados tinham suas próprias redes de cinema. Parecia um excelente negócio para qualquer ator estar amparado por um longo e duradouro contrato, o que significava estabilidade e pagamento por todo o tempo de contrato. Porém os contratos também davam aos estúdios total domínio sobre as imagens públicas dos artistas, isso quer dizer que eles tinham o poder de definir as pautas de suas entrevistas, as poses de suas fotografias e os dias e horários de suas aparições e declarações públicas. “Durante a vigência do contrato, os artistas não tinham direito a aumento de salário, mesmo que se tornassem mais populares com o público ou obtivessem mais destaques na mídia do entretenimento”, explica o autor Edward Jay Epstein no livro O grande filme: dinheiro e poder em Hollywood.

Os contratos com duração de sete anos eram padrões em Hollywood na época. Em 1947, quase quinhentos atores e atrizes, dentre eles Bing Crosby, Bob Hope, Betty Gable, Gary Cooper, Ingrid Bergman, Humphrey Bogart, Clark Gable, John Wayne, Alan Ladd, Gregory Peck, James Stewart e até mesmo o diretor Alfred Hitchcock estavam presos a esse tipo de contrato temporário.

Há uma boa explicação para esse tipo de acordo em específico: em 1931, o Código Civil original da Califórnia previa que um contrato artístico deveria durar ao máximo sete anos. E assim foi feito, Durante os anos 30 a atriz Olivia de Havilland, famosa por seus papéis em ...E o vento levou (1939), Só resta uma lágrima (1946) e Tarde demais (1949) assinou um contrato padrão com a Warner Brothers, porém em alguns momentos Havilland recusou alguns papéis que ela considerava inferiores; como forma de puni-la, o estúdio a suspendeu durante alguns meses. O contrato venceu em 1943, porém a Warner não queria liberá-la alegando que a atriz não havia cumprido integralmente os sete anos de contrato, em outras palavras, ela não havia sido produtiva durante os sete anos.

Olivia de Havilland discordou, e o caso foi parar nos tribunais. Em uma decisão histórica, a atriz ganhou o processo e foi liberada, a partir daí o contrato de sete anos deveria ter a duração literal de sete anos, não importando se o contratado prestou serviço durante todo o período. Ou seja, o máximo que um artista podia ficar sob contrato de um estúdio era pelo período de sete anos, e não mais, a partir desse ocorrido surgem os contratos padrões que previa o período de sete anos como o máximo de tempo que um estúdio poderia segurar um artista contratado.

No entanto contratos desta natureza tendiam a impedir os atores de trabalhar em outros lugares, tornando-os praticamente propriedade do estúdio e não tendo a liberdade de recusar um papel sob pena de serem suspensos sem remuneração, exatamente como fez a MGM com a atriz Lana Turner, que foi forçada a aceitar um papel em Os três mosqueteiros (1948).

A canadense Florence Lawrence (1886-1938) foi a primeira atriz a reivindicar o título de estrela do cinema, sendo sucedida por Theda Bara, Mary Pickford, Max Aronson, Rodolfo Valentino, Douglas Fairbanks nos anos 10/20; na década 30, o cenário foi dominado por Fred Astaire, Ginger Rogers, Joan Crawford, Spencer Tracy, Clark Gable, Katherine Hepburn, Cary Grant, Errol Flynn, William Powell e Myrna Loy; nos anos 40 por Gary Cooper, Rita Hayworth, Humphrey Bogart, Lauren Bacall, dentre outros. Esses foram os artistas que se valeram do título de “astros e estrelas” do cinema até o advento dos anos 50 e das novas gerações.

Àquela altura, Hollywood vivia uma época de grandes astros e estrelas, esse era o chamado star system, o público lotava os cinemas para verem seus ídolos. Alguns atores e atrizes da época como Marlon Brando, Cary Grant, Elizabeth Taylor, Paul Newman, John Wayne, Bette Davis, Marilyn Monroe, Gregory Peck, Audrey Hepburn, Rita Hayworth, Kirk Douglas e Grace Kelly eram capazes de levar multidões às salas de cinema e causar muito rebuliço com suas presenças em eventos e estreias.

Era comum na época [e também na atualidade] novas estrelas adotarem nomes artísticos mais populares e rentáveis que seus próprios nomes, por exemplo: Roy Scherer tornou-se Rock Hudson; Issur Danielovitch tornou-se Kirk Douglas; Archibald Alexander Leach tornou-se Cary Grant; Frances Ethel Gumm tornou-se Judy Garland; Annie Bridgwood tornou-se Theda Bara; Julius Ulman tornou-se Douglas Fairbanks; Emmanuel Goldenberg abriu mão de seu nome judeu e tornou-se Edward G. Robinson; Marie Magdalena Von Losch adotou um pseudônimo muito mais comerciável, o de Marlene Dietrich; Marion Morrison – um primeiro nome geralmente utilizado em mulheres – tornou-se John Wayne; Margarita Carmen Cansino trocou seu nome latino pelo o de uma estrela, Rita Hayworth; e Norma Jean adotou o glamouroso pseudônimo de Marilyn Monroe.


Texto de Vitor Grané Diniz da página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram)

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