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A Vida é Bela

Vencedor de três Oscars, essa belíssima obra de 1997, do diretor italiano Roberto Benigni,  ambientado no período da segunda guerra mundial, é um exemplo bem sucedido do desafio de atuar e dirigir ao mesmo tempo, como muito bem comentado no texto abaixo, de Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cimena" (Facebook e Instagram). 




Atuar e dirigir

Na história do cinema, durante muito tempo, o diretor não passava de um membro anônimo da equipe, geralmente subordinado ao produtor. O grande público lotava as salas cinemas pela temática do filme ou para ver os grandes astros, mas não pelo diretor. Porém essa cultura mudou em meados dos anos 50, quando a revista francesa Cahiers du cinéma apresentou a chamada “teoria do auteur” defendida por Françoise Truffaut, que pregava que, apesar do trabalho coletivo, o principal responsável pela obra era sempre o diretor; a teoria foi difundida nos Estados Unidos pelo crítico Andrew Sarris e influenciou a visão do grande público em relação à essa função, o diretor passou a ser então o “progenitor” da obra. Por conta disso, hoje é impossível desvincular o nome de determinadas obras de seus diretores, por exemplo: Titanic é “um filme de James Cameron”, Fale com ela é “um filme de Pedro Almodovar”, Cidadão Kane é “um filme de Orson Welles”, Touro indomável é “um filme de Martin Scorsese”, Psicose é “um filme de Alfred Hitchcock”, Farrapo humano é “um filme de Billy Wilder”, Laranja mecânica é “um filme de Stanley Kubrick” e Os imperdoáveis.

A prática de dirigir e atuar no mesmo filme existe desde os primórdios do cinema, é quando o diretor resolve atuar em seus próprios trabalhos, assumindo assim uma dupla função. Isso existe desde a época de Georges Mélìes, no final do século XIX. Méliès dirigiu, atuou, escreveu e produziu centenas de produções curtas. Ainda na era cinema mudo, grandes astros como Buster Keaton, Erich Von Stroheim e o sueco Victor Sjöström assumiram alguns de seus trabalhos tanto à frente quanto atrás das câmeras.

O astro maior da comédia dos anos 10, 20 e 30, Charles Chaplin criou o seu famoso personagem, o vagabundo e dirigiu e atuou em dezenas de filmes, além de produzir, roteirizar e compor as trilhas sonoras sem nunca perder a mão. Mas mesmo após Chaplin abandonar seu famoso personagem, ele ainda teve fôlego para continuar dirigindo e atuando em alguns de seus projetos da fase falada.

Nos anos 40, novos cineastas e atores se aventurariam em dirigir e atuar em seus filmes, Orson Welles se eternizou como o diretor e protagonista de Cidadão Kane (1941), Laurence Olivier dirigiu a si mesmo em algumas ocasiões, principalmente nas versões cinematográficas adaptadas da obra de Shakespeare, como Henrique V (1944), Hamlet (1948) e Ricardo III (1955); Gene Kelly se tornou famoso por estrelar e co-dirigir alguns de seus musicais mais famosos, principalmente Um dia em Nova York (1949) e Cantando na chuva (1952); Jerry Lewis, talvez se inspirando em Chaplin e Buster Keaton, também dirigiu e atuou em várias de suas grandes comédias como O mensageiro trapalhão (1960), O terror das mulheres (1961) e O professor aloprado (1963).

Entre os anos 70 e 2000, surge uma leva de grandes atores e diretores, e logo, o movimento de dirigir e atuar retorna com força. Tanto que alguns dos filmes mais bem-sucedidos e premiados variam dessa época. Vale destacar Sem destino (estrelado e dirigido por Dennis Hopper); Noivo neurótico, noiva nervosa (estrelado e dirigido por Woody Allen); Coração valente (estrelado e dirigido por Mel Gibson); Os imperdoáveis e Menina de ouro (ambos estrelados e dirigidos por Clint Eastwood) e A vida é bela (estrelado e dirigido por Roberto Benigni). Aliás, Roberto Benigni e Laurence Olivier são os dois únicos atores que já venceram o Oscar na categoria de Melhor Ator atuando sob a direção de si próprio.

Cineastas reconhecidos como Quentin Tarantino e Spike Lee ainda hoje mantém o hábito de reservarem a si próprios alguns pequenos papéis em seus filmes.

Outros grandes atores reconhecidos já se arriscaram na direção e na atuação simultânea, como por exemplo Jack Nicholson, Robert DeNiro e Anthony Hopkins. O que leva um ator profissional a abrir uma exceção em sua carreira e se aventurar como diretor é o fato de que, em suas experiências anteriores, ele ter sido dirigido por outros diretores e, a certa altura, ter tido a vontade de fazer o filme em questão à sua maneira, discordando das técnicas dos diretores com os quais trabalhou, por isso ele decide fazer o “seu” filme ao “seu” estilo. 

Analisando friamente esta questão, geralmente quando um ator tenta assumir a função de diretor, mesmo que por um filme, este filme tende a não ser uma obra-prima. Tomemos como exemplo o ator Robert DeNiro, que já entregou belíssimas atuações sob a direção de nomes como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Michael Cimino, Penny Marshall e David O. Russell, porém quando ele mesmo se dirigiu, em duas ocasiões, o resultado não foi tão satisfatório.