Despedindo-se do século XX e do segundo milênio temos o 19o filme da franquia James Bond: "The World is Not Enough", ou "O Mundo Não é o Bastante", de 1999, o terceiro dos quatro filmes em que o ator Pierce Brosnan interpreta o papel do espião 007. Dessa vez a direção coube ao cineasta britânico Michael Apted.
Contando com as cenas iniciais (antes da abertura) de mais longa duração, a história começa em Bilbao, no País Basco, norte da Espanha, tendo como cenário de fundo o emblemático Museu Guggenhein, que tinha sido inaugurado dois anos antes, em 1997, causando grande alvoroço.
Bond está em uma reunião com representantes não muito confiáveis de um banco suíço para recuperar o valor equivalente a cinco milhões de dólares que um empresário chamado Robert King havia pago por um relatório que havia sido roubado de um outro agente do MI6, e que havia sido morto.
O envolvimento do MI6 no caso de King, trata-se de um tema pessoal de M, já que King era um amigo do passado, com quem tinha estudado direito em Oxford.
Porém, quando Robert vai pessoalmente à sede do MI6 retirar à quantia, acaba sofrendo um atentado e perdendo sua vida, o que, além de ser uma perda pessoal de M, causa uma humilhação pública à agência de inteligência britânica.
No momento da explosão Bond reconhece em uma lancha no rio Tâmisa uma mulher que trabalhava junto com os suíços em Bilbao, e a persegue com um mini barco ultra tecnológico que estava sendo desenvolvido por Q.
Essas cenas de perseguição com muita ação bem ao estilo de James Bond, culmina em uma trágica fuga da moça em um balão no Millennium Dome, outro importante marco arquitetônico que havia sido inaugurado naquele mesmo ano, em 1999. Ao tentar impedir em vão a moça de explodir o balão, Bond acaba caindo sobre o domo, deslocando o ombro e ferindo-se levemente.
Após o funeral de Robert King, começam as investigações a partir de uma outra base do MI6 na Escócia. Ao iniciar as investigações a partir do valor recuperado, Bond suspeita que haja uma ligação com um evento do passado que marcou a vida do empresário: sua filha Elektra King, interpretada pela atriz francesa Sophie Marceau, tinha sido sequestrada por um anarquista, ex agente da KGB, chamado Victor Zokas, mais conhecido como Renard, vivido pelo ator Robert Carlyle.
Na época do sequestro, Robert procurou M para ajudá-lo a lidar com a situação, e, por ter a convicção de que não se deve negociar com sequestradores, M o orientou a não pagar o resgate e tentar recuperar a filha de outra foram, o que acabou por aumentar e prolongar o sofrimento de Electra no cativeiro.
Electra agora herdou a fortuna de seu pai, uma empresa de exploração de petróleo e que está implantando um oleoduto atravessando o Cáucaso, unindo a Ásia com o Ocidente em uma quarta via de distribuição. Os outros três oleodutos existentes estariam seriamente afetados pela chegada desse forte concorrente.
Bond vai até o Azerbaijão onde estão as atividades da empresa, e lá ele se encontra com Electra, iniciando suas investigações. Também reencontra um velho conhecido, Valetin Zukovsky, aquele ex agente da KGB que agora está tentando se adaptar à Economia de Mercado. Ele apareceu também no filme Goldeneye. Agora é dono de um cassino em Baku, capital do país, chamado L'Or Noir, ou Ouro Negro, fazendo alusão ao petróleo e também ao caviar, produzido na região, e outra atividade a qual Zukovsky se dedica.
O Azerbaijão, um país do Cáucaso, que fica na fronteira entre a Ásia e o Ocidente, é um dos países que têm acesso ao Mar Cáspio, o maior lago de água salgada do planeta, que possui grandes reservas de petróleo e que é o habitat natural do estrujão, peixe de cujas ovas é feito o legítimo caviar. Essas referências remetem à riqueza natural, ao luxo e poder econômico, mas também vêm acompanhadas de exploração e corrupção.
A família da mãe de Electra era proveniente daquela região, e ela vive em um belíssimo palacete em Baku, que na verdade é uma locação que fica e Istambul, na Turquia, o Palácio de Küçüksu, que era usado por sultões otomanos em períodos de caça.
Sobre Renard, no passado uma bala tinha ficado alojada em seu crânio, fazendo com que ele perdesse a sensibilidade de todos os sentidos e aumentasse sua força com o tempo, até que seu corpo sucumbisse a essa condição. A teoria de Bond é a de que ele pretendia se vingar de King, M e agora, de Electra.
Mas a moça não está disposta a viver com medo, dizendo a frase "Não há sentido em viver se você não consegue se sentir vivo." Essa frase depois é dita também por Renard, levando Bond a suspeitar que a ligação de Electra e seu algoz, tivesse resultado em uma relação de Síndrome de Estocolmo, quando a vítima desenvolve afeto e até amor pelo sequestrador.
Na verdade o que movia Electra, que se revela a verdadeira vilã da história, e o sentimento de vingança contra seu próprio pai e pelo MI6, por terem-na deixado sofrer ainda mais nas mãos de Renard. Electra acabou aprendendo cedo a usar sua beleza para manipular todos a sua volta, e assim atingir seus objetivos.
Ela contradiz a referência a seu nome, já que Electra, na mitologia grega, era a filha do rei Agamenon, e buscou vingança contra os inimigos de seu pai, dando origem ao termo "Complexo de Electra", para as meninas, similar ao "Complexo de Édipo", para os meninos.
O Azerbaijão também é conhecido como "A Terra do Fogo", pois existe um local de montanhas nas proximidades de Baku, chamado Yanar Dag, que, devido aos bolsões de gás natural, possui chamas que nunca se apagam. E esse local é usado por Renard para pressionar seus subordinados, já que ele mesmo não sente os efeitos do calor das pedras flamejantes.
No filme temos o início da despedida de Q, que pensa em se aposentar e está preparando seu substituto. Essa não era a intenção do filme mas tragicamente, semanas após a estreia, o carismático ator Desmond Llewelyn, que participou de 17 filmes da franquia James Bond, veio a falecer em um acidente de automóvel.