1040 - Macbeth: Ambição e Guerra

Lançado em 2015 e dirigido pelo australiano Justin Kurzel, "Macbeth: Ambição e Glória" é mais uma montagem cinematográfica da tragédia de William Shakespeare, escrita em 1606, que narra a queda moral do rei escocês Macbeth e de sua amada esposa, Lady Macbeth, ambos movidos pela ambição.



Baseada nas Crônicas e Inglaterra, Escócia e Irlanda, trata-se de uma estória fictícia, inspirada em eventos e personagens reais, que se passa na Escócia, ano de 1040. O país é governando pelo honrado Rei Duncan, pai de Malcolm, príncipe de Cumberland, e de Donalbain.

Em Fife, uma das regiões do país, o lorde da Noruega (viking) sob o comando de Sweno, Reio da Noruega, dá início a um conflito, apoiado pelo impiedoso Macdonwald, Barão de Cawdor, das Ilhas Ocidentais, traidor dos escoceses. 

Porém, o general Macbeth, Barão de Glamis e primo do rei Duncan, juntamente com o General Banquo, derrotam bravamente a insurreição. Macbeth é chamado de noivo de Belona, a Deusa da Guerra, romana de origem etrusca de onde vem o termo "bélico. Seu castelo fica em uma região aprazível em Inverness.

Voltando vitoriosos da batalha, quando estavam passando por um pântano, entre trovões e relâmpagos, Macbeth e Banquo se deparam com três "Mulheres Esquisitas": três irmãs bruxas, seguidoras da deusa Hécate, que proferem duas profecias, uma para cada um dos dois homens. 

Sobre Macbeth, a quem saúdam como se ele fosse o Barão de Cawdor, elas dizem que ele será rei.

Sobre Banquo, elas chamam de "menos feliz e, no entanto, muito mais feliz", seus filhos viriam a ser reis, embora ele não o seria. 

Aquelas profecia tocam profunda e perturbadoramente o coração de ambos.

Enquanto isso, no acampamento perto de Forres, o rei Duncan e os nobres aliados recebem um soldado ferido vindo dessa batalha e que relata tudo o que se passou. Como gratidão a Macbeth pela bravura,o rei decide executar Macdonwald e transferir para Macbeth o título de Barão de Cawdor, como haviam profetizados as bruxas.

Macbeth escreve uma carta para sua esposa e ela desperta uma ambição ainda mais desmedida que a dele, chegando a suplicar para as forças do mal para que lhe deem a frieza necessária para atingir seu objetivo. O Rei Duncan decide visitar Inverness, passando uma noite no castelo de Macbeth. Lady Macbeth quando fica sabendo da chegada do ilustre visitante, determina para si e para o marido que o rei não chegará a ver a luz do dia.

Macbeth titubeia diante da perturbadora proposta de sua esposa, e se vê incapaz de cometer qualquer ato de traição contra seu primo e seu rei, que foi tão amável e generoso com ele, infringindo a sagrada lei da hospitalidade cometendo um dos piores crimes que é o regicídio. Mas Lady Macbeth, habilidosa com as palavras e com a sedução, enche de motivação o coração de seu marido. 

Cumprindo o plano à risca, ela coloca uma poção no vinho dos seguranças do rei, deixando o caminho livre para que Macbeth o ataque no meio de uma noite pavorosa, de fortes ventos e que deixaram até mesmo os animais descontrolados.

Aterrorizado com o ato cometido após ver em delírio uma adaga flutuando em sua frente em direção aos aposentos do rei, Macbeth volta com as mãos cheias de sangue e com as armas que pegou dos seguranças do rei para assassiná-lo. Lady Macbeth vendo que seu marido está em estado de choque pega ela mesma as adagas e vai ao quarto para deixar as provas do crime e a cena mais convincente para que todos pensem que foram os guardas que o mataram por encomenda de um traidor. 

Pela manhã, a culpa acaba caindo sobre os filhos de Duncan, Malcolm e Donalbain. Percebendo a trama contra o pai os dois fogem, o primeiro para a Inglaterra e o segundo para a Irlanda, ficando Macbeth como o parente mais próximo a assumir o trono da Escócia.


A sede do reino ficava na cidade de Scone, para onde parte Macbeth e sua comitiva, para vestir o manto real.

Já o corpo de Duncan segue para Colmekill, onde jazem seus antepassados.

Conspiração da Pólvora

Sorte / Heroísmo  / Justiça / Estado / Destino / Paraíso / Ambição / Noite / Dia / Escuridão / Luz / Terra / Céus / Honra / Graça Divina / Vida / Morte / Apocalipse / Templo / Inferno / Diabo / Netuno / Medusa / Sono / Amém / Natureza / Tarquínio (último rei de Roma) / Hécate (deusa das feiticeiras) / Assassínio / Medo.

"Dormir, nunca mais! Glamis matou o Sono, e, portanto, Cawdor não mais dormirá. Macbeth não mais dormirá."

"O belo é podre, e o podre, belo sabe ser."

"...sim, sentiu medo como uma água diante de um pardal."

"pareciam canhões supercarregados, prontos para tiros duplos."

"Tão feio e tão lindo, dia assim eu nunca tinha visto."

"... no intuito de conduzir-nos até a destruição, os instrumentos de Satã contam-nos verdades, só para trair-nos em consequências as mais profundas."

"Que o olho se feche ao movimento da mão."


1953 - A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday)

Roma, início da década de 1950. O filme "A Princesa e o Plebeu" (Roman Holiday), do diretor William Wyler


A princesa Ann, interpretada pela atriz Audrey Hepburn, vem de uma nação fictícia que não identificada no filme, e está visitando a cidade cumprindo uma exaustiva agenda diplomática, vindo de uma série de viagens em diversos países. Cansada de seguir o rigoroso protocolo e rígido código de conduta, ela tem uma crise nervosa e decide deixar a embaixada de seu país, onde está hospedada, para se aventurar anonimamente pela cidade.

Conhece então o repórter falido Joe Bradley, vivido pelo ator Gregory Peck, que a ajuda numa situação de vulnerabilidade mas que não a reconhece de imediato. Apenas no dia seguinte ele vem a saber a verdadeira identidade da moça, que se apresenta apenas como Ain Smith. Ele também não revela sua verdadeira profissão e resolve conseguir um furo de reportagem, aproveitando-se desse inesperado encontro com a princesa.


Ann decide passar um dia como uma moça comum, rompendo com seu antigo padrão, a começar pelo corte de cabelo, trocando as longas madeixas por um curto bem ousado. Resolve também experimentar pequenos prazeres como provar um gelato, fumar um cigarro pela primeira vez e pilotar uma scooter, sempre acompanhada de Joe e mais um amigo dele, um fotógrafo de jornalismo, que também não se identifica.

Passeando pelos pontos turísticos de Roma, o casal visita a "Boca da Verdade" (Bocca della Verità), uma face esculpida em mármore que teria o poder de revelar se uma pessoa está ou não mentindo, caso ela introduza a mão na boca semi aberta da escultura. 




A mentira está muito presente no filme, já que nenhum dos personagens revela verdadeiramente suas identidades nem tão pouco suas intenções. No entanto, o tema principal do filme gira em torno da incipiente emancipação feminina no pós II Guerra Mundial.

Apesar de tratar-se de uma princesa, ou seja, oriunda de uma monarquia, a impressão é de que refere-se aos Estados Unidos mesmo, pois esse país passava por um amplo crescimento econômico e tornou-se um dos dois polos da Guerra Fria, portanto todas as nações de mesmo espectro político estavam dispostas a intensificar suas relações diplomáticas.

A princesa em questão representa a nova mulher americana que tinha recém adentrado ao mercado de trabalho durante a guerra, anseando por romper velhos padrões, começando a tomar mais controle sobre a própria vida.

Esse dia na vida da princesa, marca a transição de uma jovem manipulada e servil para uma mulher determinada, ciente de seus deveres e responsabilidades de seu papel, porém assumindo um pouco mais o controle das suas escolhas.

A cena da entrevista coletiva no filme foi gravada na Galeria do Salão dos Lustres (Sala della Protomoteca) no Palazzo dei Conservatori, localizado na Piazza del Campidoglio em Roma, Itália. Esse palácio faz parte dos Museus Capitolinos e é conhecido por sua arquitetura renascentista, projetada por Michelangelo. 

A Piazza del Campidoglio, onde o palácio está situado, é uma das praças mais famosas de Roma e oferece uma vista icônica da cidade. 








1838 - Giuseppe Verdi (1953)

Milão, 1838. O jovem maestro Giuseppe Verdi chega à cidade com sua bela esposa Marguerita e seu pequeno filho Gino, muito animado com uma oportunidade de apresentar seu trabalho para os grandes teatros em busca de um contrato.



Giuseppe Verdi nasceu em 1813, na província de Parma, região da Emilia-Romanha, no norte da Itália, morrendo em 1901, aos 88 anos de idade. O norte da Itália era dominada pelo Império Austríaco. 

No início de sua carreira, ainda em Parma, ele foi financiado pelo empresário Antônio Barezzi, pai de Marguerita, que pagou por suas aulas de música e pelas suas necessidades básicas de vestimenta para o frio e para frequentar as altas rodas sociais do mundo música. 

Barezzi contratou Verdi para ser professor de música de sua filha, Marguerita Barezzi. Os dois, que praticamente cresceram juntos, apaixonaram-se e se casaram. Ela era uma grade apoiadora de seu trabalho como músico.

Quando tinha 25 anos deixa sua cidade natal e vai com sua jovem esposa e seu pequeno filho para Milão. Lá a família passa por muitas dificuldades, enfrentando fortes privações financeiras, pois Verdi não consegue encontrar logo um teatro que queira montar sua primeira ópera. 

Porém, seu trabalho cai nas graças de uma famosa e influente soprano, Giuseppina Strepponi, que convence seu protetor e dono do teatro Scalla a patrocinar a primeira montagem, que foi “Oberto”. A ópera foi muito bem recebida e Verdi foi contratado para fazer a melodia de uma ópera bufa, ou seja, cômica, e que não trouxesse abordagens políticas que gerassem conflitos com a Áustria. 

Nesse momento o pequeno filho do casal vem a falecer e Verdi, por causa do luto e da tristeza, não tinha nenhuma inspiração para compor algo alegre e engraçado. Porém, por precisar do dinheiro do contrato, ele escreve a ópera "Un Giorno de Regno" (Um Dia de Rei), que foi um verdadeiro fracasso.

Para aumentar ainda mais o momento infeliz da vida de Verdi, sua esposa Marguerita também perde sua vida. Ele desiste de tudo e cai em profunda crise emocional e financeira, passando fome e frio.

Novamente aparece em sua vida o verdadeiro anjo que foi a sua admiradora Giuseppina Strepponi, e lhe oferece o libreto daquela que foi a grande oportunidade de sua vida: "Nabuco", sobre a história do rei Nabucodonosor e o cativeiro dos hebreus na Babilônia.

Os dois iniciaram um breve romance, mas foram separados pelas circunstâncias. Porém, a partir daí, sua carreira teve uma ascensão meteórica, apesar de ter incomodado politicamente o Império Austríaco, pois o tema "Va Pensiero" da obra Nabuco, tornou-se um verdadeiro hino do nacionalismo italiano.

Em 1851 escreveu a ópera "Rigoletto", inspirada na peça de Victor Hugo e em 1853, compõe "La Traviata" (A Dama das Camélias ou Camille), em 1853, baseada no livro de Alexandre Dumas. 

Em um segundo momento de sua vida reencontra Giuseppina Strepponi em os dois se casam em 1859 e permanecem juntos por 38 anos, até a morte da esposa. 

Durante todos esses anos compôs diversas obras, entre elas: "Macbeth", de Shakespeare, em 1847,  ''Aida", em 1871, sobre o Egito Antigo, "Otello", também de Shakespeare, em 1887, e finalmente "Falstaff", mais uma de Shakespeare, em 1893, sua última obra antes de seu falecimento, em 1901.

O diretor Gabiele D’Annunzio escreveu um poema sobre sua morte. 

2022 - Soylent Green (No Mundo de 2020)

A perturbadora distopia apresentada no filme "Soylent Green", lançado no ano de 1973 e dirigido pelo americano Richard Fleischer, traz o ator Charlton Helston no papel do policial Robert Thorn, que tenta revelar ao mundo a terrível descoberta que fez acerca da indústria de alimentos ao investigar o assassinato de um alto executivo da empresa que dá nome ao filme: Soylent Green, que por sua vez é um cobiçado suplemento alimentar fornecido à população.


O filme aborda assuntos indigestos e desconcertantes, mas extremamente importantes para a humanidade nos dias de hoje.

Baseando no livro de 1966, "Make Room! Make Room!", do escritor Harry Harrison. 



A história se passa na cidade de Nova York, no futuro ano de 2022, com uma população de 40 milhões de pessoas (atualmente, no ano de 2024 a cidade conta com 8,8 milhões de pessoas). A ecologia e a natureza tinham sido totalmente destruídas devido ao aquecimento global que mantinha o desconforto de um calor permanente.

Para chegar ao extremo da total insegurança alimentar, outras mazelas além do aquecimento global assolaram a humanidade, como a superpopulação, o consumismo exacerbado e a objetificação das mulheres.

A grande maioria da população vivia de maneira precária, com várias famílias dividindo o mesmo espaço. Inclusive as igrejas eram tomadas por pessoas que não tinham onde morar. A alimentação era basicamente à base de uns biscoitos de várias cores feitos de certos nutrientes, produzidos pela empresa Soylent. 

O biscoito verde Soylent Green, era o mais nutritivo e por isso o mais consumido, por ser supostamente feito de planctons, um tipo de alga marinha. No entanto, as pessoas nem imaginavam qual era a verdadeira origem daquele macabro biscoito. 

 Alimentos tradicionais eram difíceis de encontrar e passaram a ser artigos de luxo, consumidos apenas pelos poucos privilegiados. 

Esses moravam em apartamentos modernos e tecnológicos, bem equipados com água corrente, ar condicionado, comida à vontade eu um tipo bem peculiar de "mobília": uma bela jovem que vinha com o apartamento para servir ao morador do imóvel de todas as maneiras.


No livro a história se passa num futuro 1999 e o biscoito é feito de soja e lentilha. Já no filme o ingrediente principal da ração foi substituído por algo muito mais perturbador e que fez com que o filme se tornasse tão icônico. Essa base do produto é revelada na cena final e o objetivo do filme foi realmente o de chocar a sociedade e trazer a reflexão sobre os riscos aos quais a humanidade estava  (e de certa forma ainda está!) exposta.

Felizmente a tecnologia no setor da agricultura evoluiu muito nas últimas décadas, principalmente no Brasil, onde a Embrapa, Esalq e outras instituições tiveram papel preponderante no desenvolvimento de grãos e de uma pecuária sustentável, garantindo que um maior número de pessoas tenha acesso a quantia necessária de nutrientes para uma vida saudável.

No entanto, por interesses políticos alguns ditadores muitas vezes impedem que esses alimentos cheguem à sua própria população, pois assim conseguem mantê-la subjugada sob seu poder. 

Além disso, em países como China e Índia o crescimento da população realmente atingiu níveis tão altos que fontes mais diversificadas de proteína passaram a fazer parte da dieta das pessoas desses países.

Outro risco alimentar é a excessiva industrialização, como acontece nos Estados Unidos, onde alimentos altamente processados substituem quase que integralmente os alimentos tradicionais. Até mesmo as frutas lá estão ganhando novas consistências e texturas, parecendo mesmo que são sintéticas.

Em vários sentidos o filme foi "avant gard", e foi pioneiro também em fazer a primeira publicidade de um vídeo game tipo fliperama, no caso o Computer Space Arcade Game, que usava moedas.

Apesar de se passar no futuro, o filme mantém a estética do início dos icônicos anos 1970.




1453 - A Rainha Vermelha

 Inglaterra, 1453. Logo após o término da Guerra dos Cem Anos, travada com a França, que saiu em grande vantagem devido à ajuda da jovem Joana D'Arc, a Donzela de Orléans. Anos depois, Lady Margaret, uma pequena jovem inglesa de 9 anos de idade e que também viria a ter um papel importante na história alguns anos mais tarde, tem visões com a francesa e nutri por ela imensa admiração. 

Assim começa o livro "A Rainha Vermelha", da escritora britânica Philippa Gregory, narrado pela pela própria Lady Margaret em primeira pessoa, ao longo de sua vida.



Antes de completar seus 10 anos de idade, já com "joelhos de santa" conquistados por longos períodos de oração, a pequena Lady Margaret Beaufort, passa horas refletindo sobre a vida da mártir francesa, sonhando em um dia poder também ser importante para seu país, governado pelo Rei Henrique VI e por sua esposa, a controversa francesa Margarida D'Anjou.

Margaret tem alta posição no reino da Inglaterra, por ser filha de um dos maiores comandantes do país nas guerras com a França, e é parente do Rei Henrique VI (o avô do rei e o avô dela eram meios-irmãos, o que colocava a família Beaufort legitimamente na linha de sucessão. Vive em Bletsoe, no coração do condado de Bedfordshire, longe dos grandes centros, tendo por companhia os criados da casa e seus meios-irmãos e meias-irmãs, todos bem mais velhos.

Quando tinha 6 anos de idade, foi acertado seu casamento de conveniência com o também infante John de la Pole, mas naquele momento o compromisso estava sendo rompido. Ela e sua mãe estavam partindo de viagem para a anulação formal do casamento. Mas a alegria de Margareth dura muito pouco. Seu grande sonho era seguir uma vida religiosa, tornar-se uma abadessa, porém logo ela estaria comprometida com outro senhor, como era o costume entre as famílias importantes.


O livro se passa durante um período de 32 anos entre 1453 ate 1485, e começa com Lady Margaret então com 9 anos de idade em sua casa em Bletsoe, no coração do condado de Bedfordshire

Descendente do Rei Eduardo III, grande patriarca da dinastia Plantageneta da qual descendiam as linhagens York e Lancaster, seu sonho era o de dedicar-se à vida religiosa, ser uma abadessa, mas seu dever, devido à sua posição na família, era o de gerar um herdeiro para a casa Lancaster, como uma ponte para a próxima geração.

A Inglaterra é governada pelo Rei Henrique VI, da família Lancaster, que estava no poder há 31 anos, mas que vinha demonstrando problemas de saúde mental, e por isso era aconselhado por Ricardo, Duque de York, que por sua vez era influenciado por Richard Neville, Conde de Warwick, o "fazedor de reis". 


Margaret nasceu em 1443 e casou-se aos 09 anos de idade, por conveniência, com Edmond Tudor, conde de Richmond. O casamento veio a ser consumado apenas quando chegou a idade de gerar filhos e, aos 12 anos, Lady Margaret deu à luz a seu primeiro e único filho, Henrique, quem aos depois viria a se tornar rei da Inglaterra dando início à era da Dinastia Tudor no poder. Foi um parto extremamente difícil e com muito sofrimento para ela. Edmond era meio irmão do rei Henrique VI por parte de mãe, Catarina de Valois. Morreu logo após Margaret ter engravidado, sem nem mesmo conhecer seu filho, que foi criado pelo tio, irmão de Edmond, Jasper Tudor, que será o tutor de Henrique e grande amor da vida de Margaret.

Seu segundo casamento, também arranjado, foi com o pacífico e pacato Sir Henry Stafford, filho do Duque de Buckingham, com quem permaneceu casada até a morte dele, decorrente de ferimentos em batalha. O casamento ocorreu em 1458 e ela tinha 15 anos de idade. Devido ao título de nobreza do filho, ele precisou ficar sob os cuidados da família do pai. 

Após ficar viúva pela segunda vez, veio a se casar novamente, em 1472, aos 29 anos, com pragmático Thomas Stanley, Conde de Derby, lorde condestável (uma espécie de chefe do exército) que foi seu companheiro de conspirações e que veio a ter papel decisivo na ascensão de Henrique VII ao poder. O casamento era apenas de fachada, um contrato para interesse de ambos, sem contato físico entre os dois, mas de grande cumplicidade.

Margaret passou grande parte de sua vida separada de seu filho e de Jasper, teve que conviver cordialmente contra a sua vontade na corte de York, mas nunca deixou de ter esperanças de ver seu filho, o verdadeiro herdeiro do trono da Inglaterra, coroado como rei. Conspirou o quanto pode e mesmo com sucessivas derrotas, manteve-se  paciente e firme em seu propósito até alcançá-lo. 

Pesam sobre ela terríveis suspeitas de que tenha encomendado a morte dos dois filhos do Rei Eduardo IV com Elizabeth Woodville, sua grande rival (a Rainha Branca, de Philippa Gregory). Os meninos, então com 13 e 9 anos, era os próximos na linha de sucessão, e foram presos na torre de Londres pelo tio, então rei Ricardo III, que os declarou ilegítimos. O misterioso desaparecimento dos dois, é um dos maiores enigmas da história. 

Mesmo sendo uma religiosa devota, é bem provável que ela tenha realmente desejado e contratado esse terrível assassinato, já que distorcia a sua interpretação das "vontades de Deus" conforme a sua própria conveniência. 

Só mesmo Deus para conhecer a verdade sobre esses fatos e só Ele para julgar e redimir a alma de Margaret Beaufort. Pelo menos em vida, ela alcançou a graça que tanto buscou, pois em 1485 seu filho foi coroado rei da Inglaterra. 

Para unir o país e colocar fim na guerra entre primos, Henrique se casou com a Elizabeth York, filha de sua maior rival e a quem a escritora Philippa Gregory retratou no livro "A Princesa Branca".



2019 - Blade Runner - O Caçador de Androides

 "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?" (Do Androids Dream of Electric Sheep?" - Esse é o inusitado título do livro de ficção científica escrito em 1968 pelo escritor americano Philip K. Dick, e que serviu de inspiração para o filme Blade Runner - O Caçador de Androides, de 1982, do diretor britânico Ridley Scott.



O Livro





Philip K. Dick tinha então 40 anos quando o livro foi lançado, em 1968, em meio ao contexto da Guerra Fria. 

A história se passa num futuro distópico, altamente tecnológico, no ano de 1992, após uma guerra nuclear, a "Guerra Mundial Terminus", ou GMT, que deixou o planeta com condições muito precárias para qualquer forma de vida, devido à poeira radioativa que predominava na maior parte do planeta, impedindo o sol de brilhar sobre a Terra. 

1.  Colônias: Os humanos já haviam colonizado outros planetas, principalmente Marte, para onde grande parte da população remanescente da Terra foi incentivada a migrar após a guerra. A colônia se chamava Nova América e havia a cidade de Nova Nova York. Além das colônias, as pessoas também passaram muitos anos em naves como Salander 3 e Proxima.

Em algumas cidades litorâneas, na costa oeste dos Estados Unidos, a poeira estava mais branda devido aos ventos, permitindo que pequenos aglomerados de pessoas pudessem viver com as devidas adaptações. A história se passa na cidade de San Francisco, no norte da Califórnia.

2. Habitantes da Terra: Permaneceram na Terra basicamente dois tipos de pessoas: os Normais e os Especiais

Os Normais eram pessoas mais jovens, saudáveis e intelectualmente capacitadas, que optaram por ficar na Terra, mas que poderiam emigrar caso quisessem. Para sair de casa os homens precisavam usar um protetor genital de aço, para preservar a possibilidade de gerar filhos. Além disso, precisavam se submeter a exames médicos mensais para avaliação de sua saúde. Permanecer na Terra, exposto à radioatividade, era uma ameaça à hereditariedade da raça.

Já os Especiais eram pessoas que tinham algum tipo de limitação física ou intelectual, pessoas mais velhas ou que tiveram algum tipo de sequela devido à radioatividade. Ou seja, que não poderiam contribuir com a perpetuação da espécie. Os mais limitados intelectualmente eram chamados de "cabeça de galinha" ou "cabeça de formiga", e trabalhavam em sub empregos.


3. Religião: As pessoas seguiam uma religião chamada de Mercerismo, onde o líder, Wilbur Mercer, pregava a "empatia" como maior valor a ser almejado pelo ser humano, ou seja, a maior virtude que diferenciava um humano de outros seres. Havia um dispositivo chamado "Caixa de Empatia", onde a pessoa poderia ter, por realidade virtual, uma comunhão com Mercer, uma "fusão", em que a pessoa passava pelo "calvário" que Mercer passou, descendo ao "mundo tumular" e retornando dele, e com isso compartilhava as emoções com outras pessoas que estivessem conectadas a essa caixa no mesmo momento. A religião era muito parecida com o Cristianismo e era muito combatida pela mídia.

4. Mídia:  era composta por apenas um canal transmitido a partir de Marte, que passava o mesmo programa 23 horas por dia: o "Buster Gente Fina e Seus Amigos Gente Boa", que intercalava programas de entrevistas com conteúdo escapista e previsão meteorológica, informando sobre a previsão de precipitação radioativa obtida pelo satélite Mongoose. O Buster era o maior rival de Mercer.

5. Animais: após a GMT a maior parte das espécies de animais entrou em extinção, a começar pelas corujas. Os poucos exemplares que resistiram passaram a ser o maior objeto de cobiça das pessoas e um sinal de status social, já que custavam caríssimo. O preços eram tabelados pelo catálogo de uma loja especializada e possuir um animal de verdade era o sonho de consumo e até mesmo de vida das pessoas na Terra. Era mesmo como ter um filho, e cuidar de um animal era a maior demonstração de empatia que alguém poderia apresentar.

Aqueles que não podiam pagar por um animal de verdade optavam por ter réplicas elétricas, muito semelhantes às versões verdadeiras, até mesmo com doenças semelhantes às naturais, para que ninguém desconfiasse que se tratava de um robô, o que seria uma desonra e vergonha para a família. Por isso, até as empresas de manutenção dessas máquinas se disfarçavam de clínicas veterinárias e seus técnicos usavam roupa branca.

6. Tecnologia: além de carros voadores, os hovercars, existia um aparelho chamado "Sintetizador de Ânimo Penfield". Ele emitia ondas que interferiam no funcionamento do cérebro e alteravam o estado de humor da pessoa dependendo da frequência da onda escolhida, com as opções de Supressor Talâmico, que anulava o sentimento de raiva, por exemplo, e Estimulador Talâmico, que deixava a  pessoa mais irritada e agressiva. Cada pessoa possuía o seu dispositivo e programava a frequência conforme a sua necessidade (criatividade, produtividade, positividade, gratidão, etc).

7. Androides: Havia sido criada uma arma de guerra chamada "Guerreiro Sintético da Liberdade": tratava-se de robôs humanoides sintéticos, os androides (ou andys), que serviriam para explorar as colônias e trabalhar para os humanos. As pessoas que emigravam para as colônias recebiam um andy como incentivo à colonização. Existiam os mais variados modelos e versões de androides, fabricados por diversas companhias do setor privado, assim como veículos.

Os androides mais avançados eram muito similares aos humanos e a diferença só poderia ser confirmada através de um teste de empatia  (fictício) chamado "Teste Voigt-Kampff", que media a dilatação capilar na face, a condutividade da pele, a respiração, a frequência cardíaca e a tensão dos músculos oculares. Um teste de medula óssea também era feito para a confirmação, mas já era bem mais invasivo.

Esse teste era inspirado no real Teste de Turing, criado em 1950 por Alan Turing, e que avalia a capacidade de uma máquina de se comportar como um ser humano. Ele é aplicado hoje em dia nas Inteligências Artificiais.

Os androides tinham uma vida útil breve, em torno de 4 anos, pois não havia sido resolvido o problema de renovação celular. Não era permitida a presença de androides na Terra, a menos que o proprietário tivesse uma licença. Pousos de naves não autorizados também eram monitorados pela polícia.

Devido a um histórico de problemas envolvendo androides que se rebelavam contra seus donos, e se mostravam extremamente perigosos justamente devido à falta de empatia, surgiu uma categoria de profissionais que prestava serviço para a polícia oficial. Eram mercenários que caçavam essas criaturas e ganhavam muito bem para isso: em torno de mil dólares por androide "aposentado", ou seja morto. Recebiam também uma verba mensal da polícia para subsistência. Eram conhecidos como blade runners, ou caçadores de androides. 

8. Associação Rosen: empresa privada, da cidade de Seattle,  fabricante de androides do modelo Nexus-6, os mais modernos. Era presidida pelo fundador, o milionário Eldon Rosen, com ajuda de sua bela sobrinha, Rachel Rosen, de 18 anos de idade, e que havia passados 14 anos de sua vida à bordo da nave Salander 3, o que justificada a sua aparente inabilidade no convívio com outras pessoas. 

No entanto, Rachel era também uma androide na qual foram implantadas lembranças falsas em sua memória, sendo assim, ela mesma desconhecia sua real condição, acreditando ser uma humana.

9. Rebelião em Marte: alguns androides do modelo Nexus-6, começaram a desenvolver consciência e passaram a se revoltar contra as condições de escravidão com que eram tratados nas colônias. Um grupo de 8 androides, liderados pelo androide farmacêutico  Roy Baty, chega ilegalmente à Terra. Dois deles já tinham sido "aposentados" por um caçador veterano. Restavam 6 androides que estavam à solta, disfarçados e convivendo normalmente com a população. Eram eles:

- Roy Baty: farmacêutico em Marte

- Irmgard Baty: esposa de Roy, lidava com produtos de beleza

- Pris Stratton: uma jovem do mesmo modelo de Rachel Rosen

- Max Polokov: um caçador de androides afiliado à polícia soviética WPO (similar à KGB)

- Luba Luft: cantora de ópera, que atua na apresentação de "A Flauta Mágica", de Mozart

- Garland: chefe de polícia

10. Personagens principais e enredo: O caçador de androides Rich Deckard vivia com sua esposa Iran, que o criticava por ter essa profissão. Ela tinha uma personalidade melancólica e às vezes programava seu Sintetizador de Ânimo na frequencia de Depressão Auto Acusatória para poder sentir a desilusão pelo ensurdecedor silêncio dos apartamentos vazios, abandonados às pressas pelas pessoas na Terra.

Eles tinham uma ovelha elétrica e Rick se envergonhava muito por não poder ter novamente um animal de verdade. Esse era o seu maior sonho. Quando recebeu a missão de aposentar os seis androides restantes, viu como oportunidade de finalmente realizar esse desejo. 

Mas antes de começar seu trabalho, e ele é orientado a procurar a Associação Rosen para se atualizar sobre o comportamento do modelo Nexus-6 e validar a eficiência do teste Voigt-Kampff, evitando assim que algum humano pudesse vir a ser morto por engano.

Ele vai até Seattle e fica conhecendo Rachel, que se oferece para se submeter ao teste, já que ela julgava ser uma mulher humana. A intenção de seu tio, Eldon Rosen, era a de desacreditar o teste, o que abalaria as estruturas do sistema policial, tendo assim o caçador Rick Deckard em suas mãos. O que quase chega a ocorrer, mas em uma derradeira pergunta, Rick descobre que Rachel é na verdade uma androide e inverte a situação e deixa a moça completamente abalada.

Rachel causa uma sensação estranha em Rick, e ele realmente não consegue entender ou lidar com aquelas emoções. Começa a sentir empatia pela androide, o que o confunde. Ela aparentemente também demonstra ter sentimentos por ele, e o ajuda com informações sobre o comportamento desse modelo de androides.

Assim começa a caçada pelos androides, onde os sentimentos conflitantes só aumentam.

Enquanto isso, o solitário John Isidore, um "cabeça de galinha" e fervoroso devoto do Mercerismo que morava em um prédio abandonado no subúrbio segue sua vida pacata trabalhando como motorista em uma empresa de manutenção de animais elétricos. Até que é surpreendido com barulhos em seu prédio, onde vivia totalmente solitário. Animado com a chegada de novos moradores, vai até o apartamento de onde vieram os ruídos para se apresentar e oferecer as boas vindas aos vizinhos.

Ali então ele conhece a androide Pris Stratton, por quem se encanta e oferece seus préstimos ingenuamente, o que irá atrair para seu prédio o casal Roy e Irmgard Baty.

Os caminhos de Deckard e Isidore irão se cruzar e o sentimento de empatia que nutrem pelos androides, bem como as experiências místicas com Mercer, serão algo transformador na vida de ambos.


11. Curiosidades:

O autor faz uso da impressão gerada pela obra do pintor norueguês Edvard Munch, "O Grito", de 1893, para expressar como provavelmente um androide deveria se sentir.

 

O Grito, de Edvard Munch - 1983



Uma analogia interessante feita pelo personagem John Isidore sobre o acúmulo de objetos e tranqueiras, deixado pelas pessoas em seus apartamentos, que ele chama de "bagulho", é o poder que ele tem de multiplicar e impedir que a ordem, a limpeza e organização possam se impor. Essa entropia gerada pela "bagulhificação" teria a Primeira Lei do Bagulho: "Bagulho expulsa o não bagulho." - como a lei de Gresham sobre o dinheiro ruim ("o dinheiro ruim expulsa o bom dinheiro da circulação.").

 

O Filme

Em estilo Cyberpunk Neo Noir, e trazendo o ator Harisson Ford no papel do solitário e aposentado Rick Deckard, a história agora se passa no ano de 2019, na cidade de Los Angeles, onde a poeira é substituída por uma permanente chuva radioativa, o que dá uma atmosfera escura e sombria à fotografia do filme.

A empresa criadora dos androides Nexus-6, chamados de "replicantes", é a Tyrlell Corporation, com sua sede em uma enorme edificação em forma de zigurate (templo sumério) e uma coruja em seu logotipo. Aliás a coruja, presente no livro, também aparece no filme.


A casa de Rick Deckard também é um ícone da arquitetura, aparecendo em vários outros filmes, omo 13th Floor. É a Ennis House, do arquiteto Frank Lloyd Wright. 




Contra sua vontade, Deckard se vê forçado a capturar quatro androides que, assim como no livro, chegaram clandestinamente à Terra, agora com o objetivo de pressionar seu criador, Eldon Tyrell, a ampliar a longevidade de sua breve existência. São eles:

- Roy Batty (Rutger Hauer)

- Pris (Daryl Hanna)

- Leon

- Zhora Salome (no filme uma dançarina stripper e não uma cantora de ópera)

No lugar de John Isidore, temos agora J. F. Sebastian, um engenheiro genético, funcionário da empresa Tyrell, e que também irá se solidarizar com a situação de Pris e Roy.

No filme, o tema da "humanidade" é abordado de forma ainda mais profunda e filosófica, trazendo o questionamento sobre o que é ser humano de fato, pois em algumas situações os androides são "mais humanos que os humanos", deixando um enigma indecifrável quanto à verdadeira origem do próprio Rick Deckard, se ele é realmente humano ou se é também um replicante com memórias implantadas.

O envolvimento de Rick Deckard com a androide Rachael Tyrell também se dá com maior intensidade no filme, e a consequência do relacionamento deles será o tema da continuação: Blade Runner 2049, lançado em 2017, do diretor canadense Denis Villeneuve. 


A Continuação

O filme, um grande sucesso assim como primeiro, traz o excelente ator Ryan Gosling no papel de um solitário androide mais evoluído, mas que também é um caçador de androides rebeldes, e que passa por uma crise existencial, principalmente após descobrir que sua origem possui profundas ligações com um milagre envolvendo a lenda Rick Deckard.











2018 - Aniquilação (Annihilation)

Três anos antes dos acontecimentos narrados, um meteoro tinha atingido a terra na costa americana, mais precisamente em um farol abandonado no Parque Nacional Blackwater. 

No local começaram a aparecer eventos estranhos e a área atingida foi cercada por uma luz densa, fluida e furta-cor, chamada de "o brilho" (The Shimmer). Essa área começou a se expandir, engolindo povoados vizinhos e até mesmo uma base militar que havia sido montada pelas autoridades nas proximidades para estudarem o fenômeno. O local foi chamado de "Área X".

Esse é o cenário do filme "Aniquilação" (Annihilation), de 2018, do diretor britânico Alex Garland, o mesmo de "Ex Máquina".



 Os habitantes da região foram evacuados, transferidos de suas casas para outros locais sob a justificativa de contaminação química. Todas as expedições militares, equipamentos e até mesmo animais mandados para dentro da Área X nunca retornavam ou conseguiam transmitir sinais de comunicação.

Até que um agente da última expedição, o sargento Kane (Oscar Isaac), aparece em sua própria casa onde sua amada esposa, a bióloga e ex-militar Lena (Natalie Portman) vive um luto há um ano sem notícias do marido e sem esperanças de seu retorno.

Muito feliz pela volta de Kane mas ainda perplexa pelo comportamento estranho e falta de respostas do marido sobre seu paradeiro no último ano, Lena percebe que algo não está certo e Kane começa a ter uma forte crise de saúde. 

Ao chamar por socorro e despertar a atenção das autoridades, o casal é sequestrado pelos militares e levado para a Área X, para que Kane possa ser tratado e avaliado e onde Lena então é colocada a par de toda a situação.