"007 Contra Octopussy" é o 13º filme da franquia James Bond, lançado em 1983, 6º estrelado por Roger Moore como 007.
A história envolve contrabando de joias, a ameaça de um ataque nuclear na Alemanha Ocidental durante a Guerra Fria e uma misteriosa mulher chamada Octopussy, que lidera uma irmandade de mulheres em sua ilha particular na Índia.James Bond investiga a morte de um agente britânico em Berlim Ocidental que carregava um valioso ovo de Fabergé. Isso leva 007 a descobrir um esquema de contrabando internacional ligado a Kamal Khan, um príncipe exilado que trabalha com o general soviético Orlov.
Orlov pretende detonar uma bomba nuclear em uma base da OTAN na Alemanha Ocidental. O plano é fazer parecer um acidente com armas americanas, o que forçaria a Europa a exigir o desarmamento nuclear dos EUA — deixando o caminho livre para a expansão soviética.
Bond descobre que Khan trabalha em parceria com Octopussy, uma mulher misteriosa que chefia um grupo de mulheres em uma ilha privada na Índia. Ela inicialmente acredita em Khan, mas depois se alia a Bond. No clímax, 007 consegue impedir a explosão do artefato nuclear dentro de um circo em uma base da OTAN, salvando milhões de vidas.
O filme reflete as tensões da Guerra Fria nos anos 80:
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O general Orlov representa a ala dura do Exército Vermelho, desejando expandir o domínio soviético sobre a Europa.
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A bomba atômica na Alemanha Ocidental mostra o medo de um conflito nuclear acidental, tema recorrente na época.
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O contrabando de joias e obras de arte também faz alusão ao tráfico de riquezas no Oriente e à cooperação entre elites corruptas do Leste e do Sul global.
O que foi o Pacto de Varsóvia?
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Criado em 1955, em resposta à entrada da Alemanha Ocidental na OTAN.
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Era uma aliança militar entre a União Soviética e seus países satélites do Leste Europeu (Polônia, Alemanha Oriental, Hungria, Tchecoslováquia, Bulgária, Romênia e Albânia – que saiu em 1968).
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O objetivo era garantir defesa coletiva caso algum membro fosse atacado e manter a influência soviética sobre o bloco socialista.
Dissolvido em 1991, junto com o fim da URSS
O general Orlov, vilão soviético, reflete exatamente o espírito militarista dentro do Pacto de Varsóvia:
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Ele acredita que o Ocidente é fraco e que a União Soviética deve expandir-se.
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Seu plano (detonar uma bomba nuclear em uma base da OTAN na Alemanha Ocidental e fazer parecer acidente) mostra o medo real da época: que um incidente nuclear forçasse a Europa Ocidental a exigir o desarmamento dos EUA, desequilibrando a balança de poder e deixando a Europa vulnerável ao Pacto de Varsóvia.
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A disputa entre os “falcões” (linha dura militar, como Orlov) e os “moderados” soviéticos (como o resto da liderança no filme) também reflete as discussões internas do bloco socialista nos anos 70-80.
O filme foi lançado num momento de renovada tensão da Guerra Fria (era Reagan vs. URSS).
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Orlov (general soviético) → representa a ala “falcão” do Pacto de Varsóvia: queria expandir o território socialista para além do que o equilíbrio militar permitia.
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Bomba na Alemanha Ocidental → OTAN tinha armas nucleares na região. O plano de Orlov era fazer parecer um acidente da OTAN, enfraquecendo a confiança da Europa nos EUA.
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Consequência → se a Europa Ocidental pressionasse os EUA a retirar suas armas nucleares, a balança de poder OTAN x Pacto de Varsóvia se romperia em favor do bloco soviético.
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Mensagem política do filme → A liderança soviética oficial (mostrada nos generais que repreendem Orlov) não queria a escalada nuclear, refletindo o realismo dos anos 80, mas dentro do sistema sempre havia o risco de radicais como Orlov.
Ovo de Fabergé
No filme, a cena do leilão em Londres mostra um ovo de Fabergé verdadeiro sendo vendido na casa Sotheby’s. O dono do ovo no filme é o Governo Britânico (através do MI6), que coloca a peça no leilão como parte de uma operação de vigilância.
O objetivo era atrair e observar quem faria lances pelo ovo, já que havia suspeita de que uma cópia falsa estava circulando no mercado.
Durante o leilão, James Bond percebe a jogada do vilão Kamal Khan, que dá lances inflados para recuperar o ovo (pois ele já havia se envolvido no esquema de contrabando com as cópias falsas).
Bond, para confirmar suas suspeitas, entra no jogo: ele faz lances e até substitui o ovo verdadeiro pela réplica sem que ninguém perceba.
Ou seja, no filme, o “dono” formal do ovo é o tesouro britânico (sob custódia da Sotheby’s), mas a trama mostra como ele vira peça de espionagem para expor o esquema de Khan e Orlov.
O ovo verdadeiro é revelado como uma distração. O que realmente importa é o que está escondido dentro do ovo, e o leilão é usado como cobertura para o contrabando de materiais nucleares.
Khan e Orlov manipulam o mercado de arte e joias para financiar seus planos bélicos e garantir que suas armas nucleares sejam entregues ao seu destino final.
Khan é contratado por Orlov para atuar como intermediário: ele fornece logística, transporte e cobertura para o contrabando de joias e ouro que financiará a operação nuclear.
A famosa operação do circo (onde a bomba é escondida em um vagão) depende da rede de Khan, que controla movimentação de pessoas e objetos entre a Índia e a Alemanha Ocidental.
Orlov e Khan não são iguais em poder: Orlov dá ordens, Khan executa, mas também tenta tirar proveito próprio (ganância).
No clímax, Khan trai Orlov, porque quer lucrar sozinho, mas Bond consegue impedir tanto o plano nuclear quanto os esquemas de Khan.
Orlov = cérebro militar soviético, com objetivos geopolíticos.
Khan = executor e intermediário, com objetivo financeiro pessoal.
Bond se infiltra nesse elo entre poder político e crime internacional, descobrindo como os dois vilões se conectam.
Orlov, o general soviético, representa a linha dura do Pacto de Varsóvia e, ao longo do filme, faz comentários que refletem a visão soviética da época:
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Ocidente como fraco e corrupto
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Orlov acredita que a Europa Ocidental e os EUA estão politicamente divididos e moralmente decadentes.
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Ele vê os líderes ocidentais como incapazes de manter a ordem e proteger seus interesses, o que, na visão dele, abre espaço para ações ousadas da União Soviética.
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Dependência de armas nucleares
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Ele ironiza a dependência do Ocidente em deterrentes nucleares, sugerindo que eles confiam em tecnologia e ameaças ao invés de coragem ou estratégia militar real.
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Seu plano de fingir que a bomba nuclear foi da OTAN é uma crítica indireta: mostra que o Ocidente não percebeu seus próprios riscos, deixando-se manipular.
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Interesse próprio sobre diplomacia
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Orlov vê a política ocidental como egoísta e cheia de interesses econômicos, sem visão de longo prazo.
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Ele se apresenta como alguém que tem clareza estratégica e coragem de agir, contrastando com o que ele considera inércia ocidental.
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O filme usa Orlov para mostrar a percepção soviética da fragilidade ocidental durante a Guerra Fria.
Não é apenas vilania: há um subtexto político, sugerindo que o Ocidente, apesar da superioridade tecnológica, poderia ser vulnerável à astúcia e audácia soviética.
Esse discurso reforça o clima de tensão e paranoia nuclear típico dos anos 80.
Papel da União Soviética moderadora
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Controle sobre oficiais radicais
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Orlov age de maneira extrema, querendo detonar uma bomba nuclear para ganhar vantagem política.
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Outros líderes soviéticos, porém, não apoiam essa escalada. Eles repreendem Orlov e mostram preocupação com as consequências internacionais.
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Isso reflete a realidade histórica: mesmo dentro da URSS, havia divisões entre radicais e realistas sobre a Guerra Fria.
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Imagem de poder racional
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O filme sugere que a União Soviética “oficial” não busca guerra aberta desnecessária.
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O objetivo deles é proteger interesses estratégicos sem provocar conflito nuclear direto, contrastando com a audácia imprudente de Orlov.
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Equilíbrio narrativo
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Cinematograficamente, essa postura serve para evitar caricaturar toda a União Soviética como vilã absoluta.
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Mostra que o perigo real vem da ambição individual de Orlov, não de todo o bloco soviético.
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No filme, a União Soviética moderadora funciona como freio moral e estratégico: permite que o espectador veja que Orlov é um radical, não a representação total do bloco socialista, e reforça a tensão entre ação individual imprudente e política de Estado calculada.
Papel de Gogol em Octopussy
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Supervisão de Orlov
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Gogol acompanha Orlov e outros oficiais soviéticos, lembrando-os das regras políticas e estratégicas.
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Ele representa a linha oficial do governo soviético, que prefere manter o equilíbrio e não arriscar uma guerra nuclear.
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Mediador diplomático
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Sempre tenta reduzir tensões e evitar ações precipitadas que possam prejudicar a imagem ou os interesses da União Soviética.
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Serve como lembrete de que nem todos os soviéticos no filme são radicais ou vilões como Orlov.
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Função narrativa
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Gogol cria um contraste com Orlov: enquanto Orlov é audacioso e perigoso, Gogol mostra que há racionalidade e política por trás do bloco soviético.
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Esse contraste aumenta a tensão e a complexidade política do filme.
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O General Gogol é o moderador soviético, a “voz da razão” que lembra o espectador que Orlov age por iniciativa própria, e que a União Soviética oficial não apoia terrorismo nuclear.
Orlov age por ambição pessoal e radicalismo militar, enquanto Gogol representa a voz da razão e da política oficial soviética, tentando impedir que Orlov provoque um desastre internacional.
Sátira ao socialismo latino-americano
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No prólogo, o país é uma caricatura de uma ditadura comunista caribenha, lembrando Cuba sob Fidel Castro.
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O exército é mostrado como pomposo, desorganizado e facilmente enganado por Bond.
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O humor está no contraste entre a astúcia e improviso britânicos (Bond) e a ineficiência do regime socialista local.
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Há também uma crítica velada: esses regimes eram vistos como extensões da influência soviética nas Américas, e o filme os retrata como alvos fáceis da inteligência ocidental.
Na sequência inicial do filme, Bond se infiltra em uma base militar de um país latino-americano fictício, inspirado em Cuba. Ele utiliza o Acrostar, que está disfarçado como um cavalo em um trailer, para escapar de uma perseguição. A cena é famosa por mostrar Bond pilotando o avião em manobras ousadas, incluindo voar através de um hangar e destruir um míssil com uma manobra habilidosa.
O Acrostar não apenas impressionou os fãs de James Bond, mas também se tornou um ícone da aviação. Ele apareceu em diversos comerciais, programas de televisão e até mesmo em outros filmes da franquia, como Die Another Day (2002), onde aparece em pedaços no laboratório de Q. O Acrostar original usado em Octopussy foi pilotado pelo piloto de acrobacias J.W. "Corkey" Fornof e está em exibição no Pima Air & Space Museum, em Tucson, Arizona.
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