Maria Antonieta

Áustria, 1768.

A jovem princesa Maria Antonieta, da poderosa família dos Habsburgos, aos 14 anos deixa seu país para se casar com o também jovem tímido príncipe da França, Luís Capeto, de 15 anos, neto do então rei Luís XV, selando assim um pacto de amizade entre a França e a Áustria.

Ela era filha de Maria Teresa, Imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico e Arquiduquesa da Áustria.

A história da vida do casal, que mudaria definitivamente o curso da civilização ocidental, está lindamente contada no filme da diretora americana Sofia Coppola, Maria Antonieta, de 2006.



Apesar de ser um filme de época, ele é muito moderno, com uma trilha sonora irreverente e uma fotografia lindíssima.

Ele gira em torno da personagem principal, Maria Antonieta, apelidada de Rainha Déficit, por gastar demais, e famosa pelos extravagantes penteados que se tornaram sua marca registrada, o filme mostra seu lado mais frívolo, seus romances mas também seus dramas pessoais.

Outro filme muito bonito que retrata bem a vida da polêmica rainha da França é Maria Antonietta, de 1938, já postado aqui no blog.


Mas vamos falar aqui um pouco mais sobre o contexto histórico do filme e seus desdobramentos. 
 
O reinado de Luís XVI e a Queda da Bastilha
 
"Proteja-nos Senhor, pois reinamos jovens demais". Foi o que disse Luís Capeto ao assumir o trono da França, em 1774, aos 20 anos, completamente despreparado, após a morte de seu avô, Luís XV, vítima de varíola, tornando-se então o rei Luís XVI.

Luís XVI, rei da França
 
Luis XVI era tímido, gorducho e desajeitado. Também não era um líder nato e não tinha nenhum interesse nos assuntos do Estado. Seus maiores interesses eram a caça e a confecção de cadeados.

Passaram-se alguns anos antes que o seu casamento com Maria Antonieta fosse de fato consumado, e um delfim (um herdeiro do trono) fosse gerado,  causando comentários maldosos e humilhantes para o jovem casal. A falta de interesse do príncipe em consumar o casamento foi posteriormente justificada por um problema físico, uma fimose. Após a cirurgia tudo ficou resolvido e os filhos vieram.

A vida no magnífico castelo de Versalhes era cercada por luxo, fartura e exuberância. Maria Antonieta gastava demais com vestidos, sapatos e festas, completamente alheia à situação do povo francês, que estava na mais completa miséria, passando fome e todo tipo de privação.

Maria Antonieta


 
Palácio de Versalhes
 
 
 
O Palácio de Versalhes foi construído em 1682, por Luís XIV, o “Rei-Sol”, bisavô de Luís XV, em um vilarejo que ficava a 19 km de Paris, e era residência oficial da nobreza.
 
Seu objetivo era se distanciar da população de Paris e assim exaltar ainda mais o poder da nobreza.
 
Considerado uns dos maiores palácios do mundo, chegou a abrigar mais de 36 mil pessoas.

Luís XIV viveu no auge do absolutismo francês.

Ele foi vivido por Leonardo DiCaprio no cinema, no filme “O Homem da Máscara de Ferro”, baseado no romance “O Visconde de Bragelonne”, de Alexandre Dumas, que conta a saga de d’Artagnan e dos três mosqueteiros.
 
 
Luís XV, avô de Luís XVI, havia gastado muito dinheiro apoiando as lutas de independência das Américas da sua eterna rival, a Inglaterra. Em 1763 ele havia perdido a Guerra dos Sete Anos para a Inglaterra, por disputas de territórios na América do Norte, gastando quase todos os recursos da França. Já ao fim da vida, sabendo que não estava deixando a França em boas condições, Luís XV disse profeticamente "Depois de mim, o dilúvio". E foi o que aconteceu.
 
Os cofres franceses já estavam secando, porém a nobreza parecia não entender a gravidade da situação, e continuava vivendo na mais repulsiva ostentação.
 
Como não havia mais pragas, a taxa de mortalidade tinha diminuído, o crescimento populacional tinha aumentado muito e com ele a necessidade de alimentos. A fome e a pobreza só cresciam.
 
Nascia em Paris o Iluminismo, a Idade da Razão, movimento que estimulava o homem a pensar por si mesmo e ter controle de seu próprio destino, com mensagens de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Seus principais pensadores eram Voltaire e Rousseau.
 
Para piorar a situação, entre 1788 e 1789 houve um inverno muito rigoroso na França, causando uma escassez ainda maior de farinha, fazendo o seu preço disparar, assim como a violência entre a população, por causa da falta de alimentos.
 

 A estrutura política daquela época era formada por 03 estados:
  • Primeiro Estado: Clero
  • Segundo Estado: Nobreza
  •  Terceiro Estado: Povo
Cada estado tinha 1/3 dos deputados Assembléia Nacional, o que já era mais um motivo de indignação, já que o povo, o 3o estado, era composto por 97% da população.
 
 
Em 1789 Luís XVI dissolveu a Assembléia Nacional. O povo se revoltou e, temendo um ataque da guarda real, roubou as armas (28 mil mosquetes) dos arsenais de Paris para se defender. Só que a pólvora ficava na lendária masmorra da Bastilha, e o povo se encaminhou para lá.
 
Durante a invasão da Bastilha uma luta foi travada com os soldados que faziam a guarda do local. Quando os revoltosos conseguiram tomar a masmorra, o chefe da guarda teve a cabeça decepada. Essa foi a primeira de uma sequencia de decapitações que viria no futuro.
 
A Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, marcou o início da Revolução Francesa.
 
Uma nova constituição foi escrita, bem como a Declaração dos Direitos dos Homens, pregando o fim das desigualdades de classes.
 
Também foi instiutída a liberdade de imprensa. Foi quando despontou o amargo jornalista Marrat e seu jornal L'Ami du Peuple (O Amigo do Povo). Falaremos dele mais tarde.
 
Surgiu aí também a bandeira tricolor, representando os três poderes, Legislativo (azul), Executivo (branco) e o Povo (vermelho). As cores também representam os ideias iluministas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
 
 
 
A vida no castelo de Versalhes no período da queda da Bastilha está contada no filme Adeus Minha Rainha.
 
 
 A Revolução Francesa
 
Três meses após a tomada da Bastilha, os revolucionários enfurecidos com os altos preços dos alimentos e com o impopulares atos da monarquia, dirigiram-se ao palácio de Versalhes, sedento pelas cabeças dos monarcas Luís e Maria Antonieta. Eles eram liderados por um grupo de fortes mulheres peixeiras, as "poissardes", que estavam munidas com seus facões e instrumentos de trabalho.
 
Os revolucionários invadiram o palácio com brutalidade e deceparam as cabeças dos guardas. O rei e a rainha conseguiram sair em segurança, mas foram rendidos e transferidos para Paris, onde ficaram  instalados no Palácio das Tulherias.
 
O governo passou a ser uma monarquia constitucional, onde o rei dividia os poderes com uma Assembléia. Mas aos poucos o poder da monarquia e do clero foi diminuindo através das leis que Luís era obrigado a assinar.
 
Surgiu um grupo de revolucionários mais radicais que se reunia em um antigo mosteiro jacobino, e por isso recebeu o nome de Jacobinos. Esse grupo era liderado pelo jovem advogado Robespierre, o Incorruptível, que recebeu esse título por defender arduamente os direitos do povo.
 
Maximilien de Robespierre
 
 
 A Fuga dos Monarcas
 
Luís XVI sabia que não conseguiria restaurar sozinho o seu poder. Ele precisaria da ajuda de um exército estrangeiro aliado, e sabia que poderia contar com a Áustria, terra natal de sua esposa.
 
Em 21 de Junho de 1791, temendo por suas vidas e em uma tentativa de buscar ajuda,  o rei, a rainha e seus dois filhos fugiram de Paris em direção à Áustria, disfarçados de criados.
 
Porém, quando já tinham percorrido 160 km, e estavam quase chegando na fronteira, na cidade de Varennes, foram reconhecidos por um guarda em uma barreira policial. Eles foram presos e levados de volta a Paris.
 
 
A República do Terror
 
Após a tentativa de fuga a imagem do rei perante seus súditos, que já era ruim, ficou ainda pior.
  
O poder passou então definitivamente para a Assembléia, tendo Robespierre à frente, que clamava pelos ideais iluministas e também pelo fim do tráfico de escravos nas colônias francesas. Nascia então a República Francesa, mas que ela pudesse existir, o rei não poderia continuar vivendo.
 
Foi criada a Convenção Nacional, mancando a transferência do poder para as mão do povo.
 
A Assembléia, temendo que os membros da família real que conseguiram fugir para a Áustria tentassem retomar o poder, resolveu se antecipar, e em abril de 1792 a França declarou guerra ao país.
 
Robespierre foi contra, acreditando que a França não estava preparada para uma guerra e que a revolução seria colocada em risco. Mas ele foi voto vencido. 
 
Em agosto de 1792 os jacobinos lutavam pelo controle da Assembléia contra os Girondinos, uma facção mais moderada e mais elitista de revolucionários. Liderados pelo também advogado Jacques-Pierre Brissot, eles tinham esse nome proque faziam parte de um partido político conhecido com  Gironda.
 
 
Jacques-Pierre Brissot
 
 
 
Outro grupo que apareceu foi o dos Cordeliers, que dava voz na Assembléia ao grupo dos Sans-Culottes, os quais recebiam esse nome por ser formados por trabalhadores que não usavam o culotte, um tipo de calça justa usada pela aristocracia.
 
Um dos maiores líderes dos Cordeliers foi o também advogado e lendário Danton, que havia sido do partido dos Jacobinos mas rompeu com Robespierre. Danton incentivava os franceses a lutarem contra os austríacos.
 
Georges Jacques Danton
 
 
Os Jacobinos queriam a morte do rei para o bem da República, mas os Girondinos eram contra a condenação. Só que eles eram minoria. Em janeiro de 1793 o rei Luís XVI foi condenado e executado.

Maria Antonieta também foi executada na guilhotina em outubro do mesmo ano, acusada de "esgotamento do tesouro nacional".

Sua filha mais velha, Maria Teresa, então com quinze anos, ficou presa por dois anos e depois foi libertada em uma troca de prisioneiros entre a França e a Áustria.

Seu filho, Luís Carlos, o delfim da França, então com três anos, também ficou preso mas morreu dois anos depois, vítima dos maus tratos que sofrera na prisão.
 
Os Jacobinos, agora no poder, com Robespierre à frente, passaram a atacar todos aqueles que se voltavam contra o atual regime. Qualquer pessoa suspeita de tramar contra o sistema era sumariamente condenda a guilhotina, que trabalhava em ritmo cada vez mais frenético.


A morte por decapitação já existia antes da Revolução Francesa mas a guilhotina foi o instrumento usado durante esse período por ser mais eficiente, mais rápida e supostamente menos dolorosa, proporcionado ao condenado uma morte mais decente do ponto de vista humanitário.
Ela recebeu esse nome porque foi aprimorada em 1792 pelo médico francês Joseph-Ingace Guillotin.


Surge então um novo personagem que já mencionamos: Jean-Paul Marrat, do jornal L'Ami du Peuple. Ele era um jacobino fervoroso usava seu jornal para atacar os Gerundinos e incentivar ainda mais a violência. Ao lado de Robespierre, ele defendia a República da Virtude pelo Terror.
 
Durante a fase do Terror, houve a volta da censura e um rompimento radical com a igreja e todos os seus dogmas. Robespierre e seus seguidores defendiam o Culto da Razão, que substituiria o cristianismo, onde Deus seria substituído pela deusa da razão.
 
Um novo calendário foi criado em 1792, baseado nos fenômenos da natureza, para simbolizar a “descristianização”.
Chamado de Calendário Revolucionário Francês, e vigorou por 13 anos, de setembro de 1792 a dezembro de 1805, quando Napoleão Bonaparte determinou a volta do Calendário Gregoriano.
Marrat tinha uma doença de pele e passava o dia em tratamentos de banhos medicinais em sua residência. 
As pessoas de fora de Paris começaram a ficar revoltadas com a violência crescente dos jacobinos. Até que em Julho de 1793, Charlotte Corday, vinda da Normandia disposta a por um fim naquele que pensava ser a causa de tanto terror, entra na casa de Marrat e o assassina.

Charlotte Corday
 
 
A cena de sua morte ficou imortalizada no quadro A Morte de Marat, do artista plástico Jacques-Louis David, e até os dias de hoje ela é utilizada em várias representações artísticas e populares. 

A Morte de Marat
 
 


Porém a morte de Marrat só veio dar mais vigor ao movimento de Robespierre. Marrat foi idolatrado como um santo.

Ao lado de Robespierre estava também o então jovem e brilhante oficial Napoleão Bonaparte (falaremos bastante dele em postagens futuras).
 
Napoleão humilhou e expulsou a marinha inglesa que havia invadido a cidade portuária de Toulon, no sul da França, uma das cidades que tinham se revoltado contra os jacobinos, com a ajuda dos ingleses, na operação que ficou conhecida como Cerco de Toulon.
 


Até que chegou um ponto onde a situação foi fugindo do controle. Robespierre não tinha mais limites e acusava a todos de traição. Inclusive seu antigo amigo Danton foi considerado traidor e  guilhotinado.

Robespierre instaurou a fase do Grande Terror após a morte de Danton, quando até 800 execuções por mês eram realizadas na guilhotina.
 
Após um festival realizado por ele chamado de Festival do Ser Supremo, o povo se revoltou contra ele definitivamente, percebendo que havia perdido completamente a sanidade mental.
 
Robespierre, quando viu que todos estavam contra ele, tentou se suicidar atirando em sua face. Mas não chegou a falecer.

Em 29 de julho de 1794 Robespierre, que poucos dias antes estava no topo do mundo, foi executado na guilhotina.
 
Os verdadeiros ideais da Revolução Francesa não morreram com Robespierre. Apesar dele ter se tornado um tirano, sua luta cruzou oceanos e incentivou revoluções pelo mundo afora, assim como a sombra do terror instaurado por ele fez tremer a muitos, fazendos-nos questionar até que ponto a violência pode justificar a luta por uma ideologia.

 


As Cruzadas

Jerusalém, 1187.

Saladino, o rei dos sarracenos, como eram chamados os muçulmanos,  domina a cidade, submetendo os cristãos à morte ou à escravidão.

Felipe, rei da França, prepara-se para partir junto com os cruzados para retomar a cidade, certo de que seu reino não ficaria vulnerável à invasão da rival Inglaterra, já que a mão de sua irmã, Alice, fora prometida na infância ao rei inglês, Ricardo I, que posteriormente viria a ser conhecido como Ricardo Coração de Leão.

Porém, o rei Ricardo, até então um incrédulo, não aceitava tal casamento, e, ao saber que quem aderisse à Cruzada estaria liberado de qualquer compromisso, resolve partir também para lutar por Jerusalém.

A história de Ricardo Coração de Leão está contada no filme As Cruzadas, de 1935, do diretor americano Cecil B. DeMille.

 
 
Em sua viagem a Jerusalém ele conhece Berengária de Navarra, que se tornaria sua esposa, e é a protagonista do filme.

Mais informações sobre as Cruzadas já estão colocadas na postagem do filme Cruzada (Kingdom of Heaven).

Ricardo I assumiu a liderança dos cruzados rumo a Jerusalém, porém, antes dele outro rei havia  saído à frente dessa empreitada: ou rei da Alemanha e Imperador do Sacro Império Romano Germanico Frederick I, o Barbarossa. Porém Frederick morreu no caminho afogado quando caiu em um rio na Ásia, ao tentar atravessá-lo, devido ao peso de sua armadura. Sua história está contada no filme Barbarossa, já postado aqui no blog.


Cruzada (Kingdom of Heaven)

França, 1187 d. C..

Um jovem ferreiro francês chamado Bailan, após perder a esposa, e com ela o sentido de sua vida, parte com seu recém conhecido pai, o nobre Godfrey de Ibelin, para a cidade de Jerusalém,  unindo-se à causa dos cruzados, para libertar a cidade dos muçulmanos comandados por Saladino.

Os muçulmanos haviam tomado a cidade de Jerusalém, submetendo os cristãos à morte ou à escravidão. Cem anos antes, os cristão haviam tomado a cidade das mãos dos muçulmanos, durante a Primeira Cruzada, e agora ela é invadida novamente.

Essa é a história contatada no filme Cruzada (original Kingdom of Heaven), de 2005, do diretor inglês Ridley Scott.

 
 
Os fatos sobre a vida de Bailan (que realmente existiu) não são totalmente fiéis à realidade, porém o contexto histórico do filme corresponde bem ao que de fato aconteceu naquela época.
 
Vamos entender um pouco sobre as cruzadas:
 

Resumindo:
1ª Cruzada: 1096 a 1099 – Cruzadas dos Nobres, liderada por Godofredo de Bulhão. Os cristãos saíram vitoriosos e tomaram a Jerusalém.
2ª Cruzada: 1147 a 1149 – Liderada pelo rei da França, Luis VII, e sua esposa Leonor de Aquitânia, terminou com uma derrota humilhante para os cristãos, e com a ascensão do líder muçulmano Zengi e posteriormente seu filho Nur ad-Din.
3ª Cruzada: 1189 a 1192 – Cruzada dos Reis – Liderada por Ricardo I, rei da Inglaterra, conhecido como Ricardo Coração de Leão, terminou em uma trégua com o principal líder muçulmano, Saladino.
Mais seis cruzadas foram travadas até 1272, porém sem que uma convivência realmente pacífica fosse alcançada.
 

 
Primeira Cruzada: 1096 a 1099 d. C.
 
Voltando um pouco no tempo, após a queda do Império Romano, em 476 d. C., marcando o fim da Idade Antiga e Início da Idade Média, ele foi dividido em duas partes:
 
- Império do Ocidente: com sede em Roma (e que seria invadida por bárbaros germânicos a partir de 476 d. C.)
 
- Império do Oriente: com sede em Bizâncio (futura Constantinopla)
 
Já no século VII, por volta do ano 610 d. C, surge a religião islâmica com base nos ensinamentos de Maomé, nas cidades de Meca e Medina, estendendo-se a Jerusalém.
 
Dando mais um salto no tempo, já para o período da Primeira Cruzada, em 1095, Aleixo I, o imperador bizantino em Constantinopla e chefe da igreja Ortodoxa, pede ajuda a seu rival, Papa Urbano II, em Roma, em nome da fé cristã, para se defender contra os turcos recém convertidos ao islamismo.
 
Eles tinham tomado a cidade de Jerusalém e avançavam em direção à Constantinopla. Jerusalém também era uma importante cidade para os cristãos e um lugar de peregrinação.
 
A Europa daquela época ainda não possuía monarquias fortes, o poder era descentralizado e os pequenos reinos lutavam entre si. Havia muita violência e quase não existia justiça. A igreja exercia um forte poder moral e psicológico sobre as pessoas, porém o papado era fraco politicamente.
 
O Papa Urbano então convoca todo o mundo cristão para lutar contra os muçulmanos (ou sarracenos).  Ele viu naquela situação uma oportunidade de se fortalecer e concluiu que se conseguisse tomar Jerusalém,  seu poder aumentaria muito.
 
Ele exagera nas informações sobre as atrocidades cometidas pelos  muçulmanos com os cristãos, despertando neles o ódio contra os rivais, começando assim o "choque entre a meia lua e a cruz" (expressão usada em um documentário do History Channel).
 
Então, em 1096, 60 mil cristãos liderados pelo duque francês Godofredo de Bulhão, percorrem 5 mil km em direção à Jerusalém, e em 1099, tomam de volta a cidade, fazendo uso de uma violência impensável, pondo fim à Primeira Cruzada.
 
Para os islâmicos, os francos (ou cruzados) não passavam de bárbaros que destruíram o auge da civilização islâmica.
 
O Papa Urbano faleceu antes de ver a vitória dos cristãos.
 
 
Segunda Cruzada: 1147 a 1149 d. C.
 
Após os cruzados conquistarem a cidade de Jerusalém, em 1099, o mundo muçulmano estava totalmente fragmentado, desunido, lutava entre si e não estava preparado para promover um contra-ataque.
 
Houve uma forte divisão entre Sunitas e Xiitas. Os Sunitas dominavam a região da Síria e os Xiitas dominavam o Egito. Tudo que os cruzados mais temiam era uma unificação entre esses povos, pois só  assim seriam capazes de reagir.
 
Os cristãos tinham uma certa segurança dentro da cidade, mas fora dos muros de Jerusalém estava repleto de sarracenos. Era muito perigoso para um cristão sair da cidade, que já estava pouco habitada. Após tomarem a cidade, muitos cruzados voltaram para casa, e Jerusalém ficou vulnerável.
 
A igreja fez então uma campanha para que as pessoas se mudassem para lá, para povoar a cidade, e muitos foram atrás de terras e riquezas. Além disso, muitos peregrinos se dirigiam ao local onde estava o Santo Sepulcro e várias relíquias sagradas.
 
Os peregrinos tinha que percorrer caminhos muito perigosos e sofridos, e vários deles caíam doentes e iam parar no Hospital de São João. Nesse hospital surgiu a ordem sagrada dos Hospitalários, formada por cruzados que faziam votos de castidade, pobreza e obediência, e que ajudavam os peregrinos cristãos que se dirigiam a Jerusalém.
 
Outra irmandade ou ordem monástica mais conhecida nos dias de hoje também foi fundada, a dos Templários, que recebeu esse nome porque era formada por cristãos militares que tinham o Templo de Salomão como quartel general. Eram a tropa de elite dos cruzados, e tinham a missão de proteger os peregrinos em seus caminhos. Eles acreditavam que combater os infiéis era o caminho para a salvação.
 
Os muçulmanos não estavam conformados com aquele insulto a seus locais sagrados e sonhavam com o contra-ataque. Assim veio à tona um dos principais fundamentos da ideologia muçulmana: a Jihad, que significa luta, esforço.
 
Os cruzados, para consolidar seu reino em torno de Jerusalém, criaram feudos ao seu redor, e dominaram as cidades vizinhas de Edessa, Antioquia e  Trípole. A cidade de Damasco permaneceu com os muçulmanos, mas era neutra e aliada dos cristãos.
 
Então Zengi, um cruel, temido e impiedoso líder muçulmano, conseguiu unificar os povos da Síria,  empreendendo uma Jirad vitoriosa. Seu objetivo passou a ser a cidade cruzada de Edessa, que conseguiu tomar em 1145 através dos túneis que passavam sob os muros, elevando assim a moral e a confiança dos muçulmanos.
 
Zengi foi assassinado dois anos depois da tomada de Edessa, e seu filho Nur ad-Din assumiu seu lugar. Ele era bem diferente do pai, mais justo, e era muito respeitado. Com uma forte mensagem de unificação e Jirad, convocou uma guerra santa contra os cristãos.
 
No mesmo ano, em 1145, o Papa Eugênio III convocou a Segunda Cruzada, com o objetivo de retomar Edessa e expandir os reinos cruzados. Os cristãos também estavam muito confiantes por causa do sucesso da Primeira Cruzada, e queriam repetir os feitos de seus pais.
 
Ela foi liderada pelo então poderoso rei da França, Luis VII, e sua esposa Eleonor de Aquitânia. Porém ele era um líder nato e não tinha experiência militar.
 
O caminho percorrido pela expedição de Luis VII , da França para Edessa, passava pelas perigosas terras da Turquia. Ela era coesa e  protegida por 300 cavaleiros templários. Porém, durante o rigoroso inverno, a caravana se dispersou e foi atacada. Luis conseguiu escapar, e, humilhado, entregou o controle da expedição aos templários, procurando refúgio na cidade cruzada de Antioquia. Ele então passou a cobiçar a cidade de Damasco.
 
Só que Nur ad-Din, que governava a cidade síria de Alepo, também cobiçava Damasco, e iniciou-se então uma corrida pela tomada da cidade. Luis atacou primeiro. Os damascenos então pediram ajuda a Nur ad-Din e Luis desistiu de lutar e resolveu voltar para a França derrotado e desmoralizado, pondo fim à Segunda Cruzada, fortalecendo ainda mais a autoconfiança dos muçulmanos.
 
As peregrinações dos cristãos praticamente se encerraram por completo.
  
 
Terceira Cruzada: 1189 a 1192 d. C.
 
Conhecida com a Cruzada dos Reis, é a fase representada no filme dessa postagem.
 
Cem anos após a tomada de Jerusalém a Europa passa por uma forte crise econômica e espiritual, e a população vê na Terra Santa uma oportunidade de obter fortuna e salvação.
 
Em 1154 Nur ad-Din torna-se Emir em Damasco e sua meta passa a ser a tomada da cidade do Cairo, então governada pelos Xiitas. Os cruzados remanescentes também queriam conquistar a rica e vulnerável capital do Egito, que já estava prestes a se render aos cruzados pacificamente.
 
Mas em 1168 os cristãos promoveram um massacre a uma cidade xiita próxima ao Cairo, que decidiu resistir e pedir ajuda a Nur ad-Din, o qual viu ali a tão sonhada oportunidade de tomar a cidade. Ele envia então o seu melhor general para defender o Cairo: Saladino.
 
Ambicioso, Saladino traiu Nur ad-Din e tomou o Egito para ele.
 
Após a morte de Nur ad-Din, em Alepo, seu filho de 12 anos, As-Salih, passou a ser o governante da Síria. Ele proibiu a entrada de Saladino na cidade de Alepo. Em 1181 As-Salih faleceu e Saladino finalmenente conseguiu unificar a Síria e o Egito.
 
Seu alvo agora era a cidade de Jerusalém, governada pelo jovem rei dos cristãos, Balduíno VI, portador de hanseníase (lepra). Em 1183, Balduíno, já sem condições de governar por causa da sua doença, nomeou seu cunhado Guy de Lusignan como regente.
 
Um príncipe chefe dos templários e aliado de Guy, Reynald de Chatillon, tinha ódio de Saladino e saqueou uma rica caravana de muçulmanos, desrespeitando o acordo de utilização das rotas comerciais entre a Síria e o Egito, desencadeado uma nova guerra.
 
Em 1187, Saladino, ao saber do ataque, reuniu seu enorme exército e rumou a Hattin, próximo à Jerusalém, disposto a iniciar uma guerra, atraindo estrategicamente os cruzados para uma região muito seca.
 
Guy caiu na armadilha e decidiu combater Saladino, reunindo um exército que contava com os Templários e Hospitalários, levando como estandarte o relicário com lascas da cruz de Cristo. Porém, abatidos pelo forte calor e sofrendo de desidratação, seu exército foi dominado na Batalha de Hattin por Saladino,  que matou Reynald e manteve Guy como prisioneiro.
 
Saladino tomou as cidades dos cruzados, entre elas a cidade de Acre. Na Europa, o Papa Gregório XIII fez um novo chamado para a Terceira Cruzada.
 
Em 1189 os maiores líderes europeus reuniram um exército de 100 mil homens sob o comando do general alemão Frederico Barbaruiva (mais conhecido como Barbarossa), um dos mais importantes homens da época, veterano da Segunda Cruzada (ver postagem do filme Barbarossa). Mas Frederico morreu no caminho e a liderança passou para um jovem de 33 anos, recém empossado rei da Inglaterra, Ricardo I.
 
Guy, então prisioneiro de Saladino, foi libertado após ser derrotado e humilhado na frente dos cristãos. Depois disso ele reuniu um exército e atacou a cidade de Acre, travando uma luta que durou dois anos.
 
Em 1191 Ricardo chega ao Acre para ajudar Guy e assume o comando da batalha, usando catapultas, uma arma que era um avanço tecnológico para a época, saindo vitorioso.
 
Seu sucesso inspirou os cruzados e lhe rendeu um novo título: Ricardo Coração de Leão. Sua história está contada no filme As Cruzadas, já postado aqui no blog.
 
 
 
 

Khartoum - A Batalha do Nilo

Khartoum, capital do Sudão, 1883.

A cidade está tomada pelos seguidores do Mahdi, um fanático muçulmano que se auto-proclamou "o Esperado". No entanto, lá estão também milhares de civis egípcios.

A Inglaterra, então responsável pela segurança desses civis, e já não querendo mais gastar tantos recursos em uma guerra fora de suas fronteiras, decide negociar a transferência oficial do poder ao Mahdi, mas exige que todos os civis egípcios e ingleses possam partir de lá em segurança.

Para isso envia o General Charles Gordon, exímio diplomata e um homem adorado pelo povo sudanês, para negociar com o Mahdi.

Essa é a história contada no magnífico filme Khartoum - A Batalha do Nilo, de 1966, do diretor inglês Basil Dearden.

 
Já falamos da revolta Mahdista aqui no blog na postagem do também belíssimo filme Honra e Coragem (The Four Feathers), aquele das quatro penas brancas. Cronologicamente, Khartoum - A Batalha do Nilo é uma continuação daqueles eventos históricos.
 
 
 
O Sudão é um país africano localizado ao sul do Egito, cuja capital é Khartoum (ou Cartum). Nos idos de 1880 o líder religioso sudanês Muhammad Ahmad se auto-proclamou o Mahdi, o Esperado, dizendo ser descendente do Profeta Maomé. Ele reuniu uma multidão à sua volta, declarando uma "guerra santa" contra os egípcios, então dominados pela Inglaterra, e contra os cristãos infiéis de modo geral.   
 
 No entanto, no começo, seus seguidores não passavam de tribos da região e não possuíam armas o suficiente para causar danos de grandes proporções.
 
Muhammad Ahmad al-Mahdi
 
 
O Egito então enviou um exército de dez mil homens bem armados, comandados pelo militar inglês Coronel William Hicks. Naquela época o Egito era um protetorado britânico. Porém, Hicks não havia levando em conta a imensidão do rigoroso deserto daquele país, o que levou seu exército à exaustão. Ele também subestimou a inteligência e a capacidade de seu inimigo.
 
Assim, não foi difícil para os seguidores do Mahdi atacarem os egípcios, e dessa forma conseguirem os armamentos de que precisavam.
 
A derrota desse exército egípcio causou grande descontentamento à Inglaterra, principalmente ao então Primeiro Ministro britânico, William Gladstone, que se viu obrigado pela opinião pública e pela Rainha, a dar uma resposta à altura ou resolver logo aquela situação de risco em que se encontravam os civis no Sudão.
 
William Ewart Gladstone
Primeiro Ministro Britânico
 
 

A Inglaterra tinha a "responsabilidade moral" de cuidar da segurança dos egípcios, além de possuir o controle do Canal de Suez. No entanto, Gladstone não queria mais gastar dinheiro e recursos com os conflitos na África, muito menos se envolver com as questões políticas do Sudão.
 
Para não ficar numa situação ruim com o Egito, ele se comprometeria a retirando todos os  civis egípcios de Khartoum, mas sem mandar mais tropas britânicas e sem macular a honra da Inglaterra perante a opinião pública.
 
Ele é aconselhado então a enviar o General Charles Gordon, personagem principal do filme e herói britânico e sudanês.
 
General Charles George Gordon
 
Pachá Gordon, como era chamado no Sudão, foi um homem incrível, de uma personalidade extraordinária. Anos antes ele havia abolido a escravidão naquele país. Era um homem místico, cristão fervoroso, porém não seguia nenhuma religião. Naquela época havia o trabalho missionário de conversão cristã dos sudaneses.
 
No filme há uma cena bastante filosófica e que me marcou muito, onde um ex-escravo sudanês, agora serviçal de Gordon e convertido ao cristianismo, faz alguns questionamentos. Após ler o trecho da Bíblia onde Jesus diz que temos que oferecer a outra face quando recebemos um tapa, ele pergunta a Gordon por que os cristãos nunca fazem isso na prática, se esse é o ensinamento da religião cristã. Particularmente essa passagem me gerou uma série de reflexões...
 
Enfim, Gordon aceita a proposta de Gladstone para ir ao Sudão negociar com o Mahdi e trazer em segurança os egípcios que lá estão, e recebe o título de Governador Geral do Sudão. Só que ele é um homem idealista e insubordinado, além de amar o povo sudanês. Ele decide então subir o rio Nilo em direção a Khartoum e lutar pelo Sudão contra o Mahdi, exigindo que a Inglaterra lhe envie reforços militares.
 
Chegando a Khartoum ele vai até o Mahdi em seu acampamento para negociar a retirada dos egípcios da cidade, mas o líder mahdista, apesar de respeitar muito o herói britânico, lhe avisa que não permitirá a saída deles, e que todos terão que aceitar que ele é "o Esperado". Seus planos são ambiciosos: ele não quer rezar apenas nas mesquitas de Khartoum, mas também nas mesquitas do Cairo, Meca, Bagdá e Constantinopla, fazendo com que todo o povo muçulmano se renda ao seu poder místico. E ele está determinado a exterminar todos aqueles que não reconhecerem esse poder.
 
Gordon, que era engenheiro, começa o trabalho de fortificação da cidade e manda uma mensagem ao governo britânico dizendo que não deixará Khartoum, ficando lá como refém até que reforços militares sejam enviados. Cedendo à pressão da opinião pública, o primeiro ministro Gladstone decide enviar um exército ao Cairo.
 
Isso gera expectativas em Gordon e nos líderes tribais sudaneses que são seus aliados. Porém, e exército é enviado apenas para retirar Gordon de lá e não para ajudar o povo sudanês, como pensava o britânico. Ele decide ficar e lutar até a morte, que acontece pelas mãos de um seguidor do Mahdi. O exército inglês só chega dois dias depois.
 
 
 
O próprio Mahdi morre alguns meses depois após a tomada da cidade, mas o ódio dos muçulmanos contra os cristãos infiéis permanece até os dias de hoje, ainda mais forte.
 
Gordon também é mencionado no filme Lawrence da Arábia, já postado aqui no blog.
 
 
 
 


Hannibal, o Invencível

Roma, 218 a. C.

A república romana está enfrentando o segundo  dos três conflitos com a república de Cartago, conhecidos como Guerras Púnicas.

Em 219 a. C., o general cartaginês, Aníbal, ataca a cidade romana de Sagunto, na Espanha. A resposta foi: "Roma oferece paz ou guerra, escolha. Para Roma, tanto faz". 

Essa obra épica do gênero "espada e sandália", Hannibal, o Invencível, do diretor italiano Carlos Ludovico Bragaglia, foi rodado em 1959, e o herói cartaginês é vivido pelo ator norte-americano Victor Mature.


 
 
Logo depois de um breve contexto o filme começa com os senadores romanos debatendo sobre a ameaça que está se aproximando: Anibal e seu exército estão prestes a cruzar os Alpes após partirem da Espanha.

O senador Minucius, bastante otimista, acredita que os cartagineses não serão capazes de alcançar esse feito, e caso consigam, os homens chegarão tão exaustos e enfraquecidos que serão facilmente derrotados pelas legiões romanas.

Já o senador Fabius Máximus, interpretado pelo ator Gabriele Ferzetti, acha que as legiões de fronteira estão muito ocupadas na Gália e quer se precaver de um otimismo excessivo.

Até que chega um mensageiro informando que Anibal de fato cruzou os alpes que que as legiões romanas estão batendo em retirada. Apenas Rotarius, líder de uma tribo gaulesa rival dos romanos, oferecia resistência. Mas o gaulês acaba fazendo uma aliança com Aníbal, abrindo passagem para os  cartagineses em troca da supremacia de sua tribo na região.

Depois de montar seu acampamento próximo a Roma, Aníbal sequestra a sobrinha de Fabius Maximus, a jovem e bela Sylvia, vivida pela atriz norte-americana Rita Gam, e também o filho do senador, o jovem Quintilho, que é apaixonado pela prima. Quintilho é interpretado pelo ator italiano Terence Hill, então com vinte anos de idade.




Mas o sequestro é apenas uma tentativa de enviar uma oferta de paz para Fabius Maximus, que será recusada. Os dois jovens são liberados no dia seguinte pela manhã, após Anibal apresentar a Sylvia seu acampamento. Ele mostra a ela os grupos de soldados que combatem a seu lado:  numídios, líbios, hispânicos e cartagineses.

Depois de retornar para casa em segurança ao lado de seu primo, Sylvia recebe de Aníbal um anel para que ela use quando precisar falar com ele e também para sua própria segurança caso caia nas mãos de algum de seus soldados. 

Depois da Batalha de Trébia (218 a. C.) vencida por Aníbal, Sylvia entra em contato com o general, na vã tentativa de conseguir ainda aquela proposta de paz e também porque já está apaixonada pelo arquiinimigo de sua pátria.

Nessa batalha Aníbal acaba perdendo um olho, picado por um inseto no pântano.

Logo em seguida o filme mostra também a Batalha de Trasimeno, com mais uma derrota para os romanos, que convocam todos os homens de 15 a 50 anos para se alistarem e  lutarem por Roma.

O exército romano passa para as mãos de dois generais que se odeiam, e Aníbal irá se aproveitar dessa fragilidade e conquistar mais uma vitória na famosa Batalha de Canas.

Sylvia deixa a família para ficar ao lado de Aníbal no acampamento, sabendo que se for capturada pelos romanos, sua sentença por traição será a pena de morte e será enterrada viva. Mas chega então a ex-esposa de Aníbal, a cartaginesa Demília, com o filho pequeno dos dois (na vida real Amilcar teria se casado com a espanhola Imilce).

Ela vem de Cartago ao lado de Maharbal, um general de confiança de Aníbal que tinha entrado em conflito por discordar da exitação de Aníbal em invadir Roma de uma vez por todas.

Enciumada, Sylvia volta para casa e cumpre seu destino, mas seu tio, que ainda tem um pouco de misericórdia da moça, leva um frasco de veneno para abreviar seu sofrimento.

Maharbal e Demília informam a Aníbal que Cartago se recusou a mandar os reforços que ele solicitou e está enviando seu irmão Asdrubal com apenas quatro mil soldados. Mas ele é pego em uma emboscada e sua cabeça é enviada para Aníbal. As coisas começam a mudar.

Fabius Maximus assume como conselheiro do exército romano e o filme termina contando que Aníbal passará ainda muito anos lutando em muitos lugares.


As Guerras Púnicas

 
Fundada em 814 a. C. pela rainha fenícia Dido (Alissa, Elissa ou ainda Didone), a cidade de Cartago ficava localizada onde hoje é a Tunísia. Do antigo esplendor restam hoje apenas sítios arqueológicos.



 
Ela detinha um enorme poder territorial no norte da África e no sul da Península Ibérica, onde explorava minas de prata nas suas colônias espanholas. Mas se sentiu ameaçada pela expansão romana.
 
 
 



Cothon - Estrutura portuária 
 
 
Primeira Guerra Púnica:
 
Quase meio século antes, em 264 a. C., Amílcar Barca, pai de Aníbal e fundador da dinastia militar dos barcidas, havia travado a primeira guerra púnica contra Roma no Mar Mediterrâneo. Ele liderou a conquista de colônias na Espanha.
 
A guerra terminou empatada, mas com um acordo de paz com piores condições para Cartago. Os cartagineses, que eram exímios navegadores, foram obrigados a limitar sua marinha a apenas 100 navios.
 
Após a morte de Amílcar, seu genro Asdrúbal, o Esplêndido, assume seu lugar, mas por pouco tempo. Após seu misterioso assassinato, Aníbal se torna o governante, aos 26 anos de idade.
 
 
Segunda Guerra Púnica:
 
Aníbal havia jurado no leito de morte de seu pai que passaria a vida lutando contra Roma, até dominá-la completamente. Porém, como não tinha mais a marinha e para surpreender o opositor, decidiu investir contra a Itália por terra, a partir da Espanha, acompanhado de 40 mil soldados e dezenas de elefantes, verdadeirós tanques de guerra, seguindo pelos Alpes, atraindo os gauleses para lutarem como seus aliados.
 
Ele partiu da Espanha, atravessou os montes Pirineus, istmo da Península Ibérica e divisa entre Espanha e França, até o vale do rio Pó, na Itália. Cruzou o rio Ródano até chegar aos Alpes.
 
Aníbal foi um brilhante estrategista e suas táticas militares são ensinadas até os dias de hoje. Ele estudava profundamente seus adversários, dormia e comia junto com seus soldados.
 
Na época o cônsul de Roma era o experiente general Públio Cornélio Cipião, mais conhecido como Cipião Africano. Ele derrotaria Aníbal definitivamente na Batalha de Zama, em 202 a. C., assumindo o controle das colônias cartaginesas na Península Ibérica, pondo fim à Segunda Guerra Púnica.
  
 
 

Batalha de Zama
 
Mas antes disso Cipião sofreria derrotas para Aníbal, como na batalha às margens do Rio Trébia, contada no filme em questão.
 
A história de Cipião também é contada no filme italiano Scipione L'Africano, de 1937, do diretor Carmine  Gallone, produzido pelo filho de Benito Mussolini, durante o fascismo na Itália.
 
 
 
Em uma das batalhas anteriores, Aníbal decide entrar em um perigoso pântano para surpreender o inimigo, onde é picado por um inseto no olho direito.
 
Terceira Guerra Púnica:
 
Foi travada entre 149 a. C. a 146 a. C., na cidade de Cartago, a qual foi completamente destruída pelos romanos, liderados pelo general Emiliano, que a cobriram de sal para que nada mais fosse ali produzido.
 
Assim começa o apogeu de Roma, que possui agora o domínio do Mar Mediterrâneo.


















300

Esparta, Grécia, 480 a. C.

O rei e general Leônidas reúne 300 de seus melhores soldados, para lutarem pela Grécia, juntamente com mais sete mil soldados gregos, contra o temível Xerxes, o rei da Pérsia, e seu sofisticado exército de 300 mil soldados.

Xerxes tentava invadir a Grécia sedento por vingança pela humilhante derrota de seu pai, Dario I, que havia perdido para Antenas, na Batalha de Maratona, a primeira batalha das Guerras Médicas.

Essa é a história contada no filme americano 300, rodado em 2006, do diretor também americano Zack Snyder.


Confesso que quando assisti a esse filme pela primeira vez, fiquei bastante incomodada com violência excessiva e com tanto sangue, o que realmente não é o meu estilo preferido de filme. A história também não era de todo desconhecida, pois todos nós estudamos esse episódio na escola e temos um certo conhecimento.

Porém, após me aprofundar no estudo da história da Grécia Antiga e descobrir o quanto essa batalha no desfiladeiro de Termópilas foi importante, inclusive para o destino da civilização ocidental e da democracia que estava nascendo naquele período, ao assisti-lo novamente para escrever essa postagem, só consegui ver beleza, bravura  e heroísmo, e a violência realmente ficou em segundo plano.

Já falamos sobre a Batalha de Termópilas e da Grécia daquela época, na postagem do filme "Os 300 de Esparta", de 1962. Agora vamos falar um pouco mais sobre a batalha propriamente dita.

A fonte de informações sobre esse evento está no poema "Histórias" escrito pelo poeta grego Heródoto.

Como já dissemos, Xerxes invade a Grécia para se vingar de Atenas, por seu pai, Dario I, ter sido humilhado pela cidade grega na derrota em Maratona, dez anos antes, quando tentou invadir a Grécia, e também para expandir ainda mais seu vasto e multicultural império e garantir sua hegemonia do comércio no Mar Egeu.

E ele investe em duas frentes de entrada:
  • uma por terra, no estreito de Termópilas, que seria protegida pelo general espartano Leônidas
  • outra por mar, no estreito de Artemísio, protegida pelo general ateniense Temístocles

A entrada por terra ficava na costa do mar Egeu, chegando ao desfiladeiro de Termópilas, um estreito que era o único caminho ligando o norte da Grécia, na parte continental, ao sul, onde ficavam as principais cidades-estados gregas da época.

O general Leônidas sabia que somente naquele local os gregos poderiam oferecer alguma resistência, pois anulariam a principal vantagem do adversário que era um número muito maior de soldados.

 
 
Quando os governantes da cidade de Atenas, maior rival de Esparta, convoca todas as cidades gregas para lutarem juntas contra os persas, formando a Liga de Delos, os espartanos, que eram muito religiosos, consultam o Oráculo de Delphos. Eles não haviam lutado na Batalha de Maratona para respeitar o festival religioso de Carnéia.

Porém, Leônidas decide lutar em Termópilas. Para isso, ele reúne 300 de seus melhores soldados, mas todos com filhos, para que sua linhagem tivesse continuidade.

A batalha durou três dias.

No primeiro dia, Xerxes ataca primeiro, confiante em uma vitória fácil. Mas as flechas dos persas não são nem de perto suficientes para abalar o exército grego, e as baixas dos persas são imensas.

No segundo dia, Xerxes decide usar o que ele tem de mais feroz, e envia seu silencioso exército de Imortais, novamente confiante que sairia vencedor, mas a resistência grega continua inabalável.

No terceiro dia, Xerxes, já sem suprimentos e quase desistindo de sua empreitada, recebe a informação de um grego traidor, de que havia uma outras passagem por uma trilha de pastores de cabras.

Mas Leônidas, prevendo que isso poderia acontecer, já havia deixado alguns guerreiros gregos vindos da região da Fócia tomando conta dessa trilha. No entanto, estes, temendo por sua famílias, quando viram o exército persa se aproximando, bateram em retirada, deixando o caminho livre para o adversário.

Nesse dia, outros gregos também fugiram da batalha ou foram dispensados por Leônidas, mas os 300 soldados espartanos tinham que ficar e lutar até a morte. E foi o que aconteceu.

Os espartanos de Leônidas perderam essa batalha mas impuseram baixas consideráveis aos persas e ganharam tempo para que a entrada por mar ficasse protegida por mais tempo.

Assim, o ateniense Temístocles, que guardava essa entrada por mar, conseguiu, tempos depois derrotar os persas nas Batalhas de Salamina e de Platéia, onde liquidaram de vez o exército de Xerxes.



Treinamento espartano:

A vida de um homem ou de uma mulher espartana não lhes pertencia, e sim ao estado, e era uma honra morrer servindo à nação.

Ao nascer, o bebê era avaliado por um ancião para ver se tinha algum tipo de imperfeição e se não poderia ser um guerreiro. Se tivesse, ele seria abandonado para morrer.

Até os sete anos de idade, o garoto espartano vivia com sua mãe, também uma bem treinada guerreira. Com essa idade, ele era levado para um rígido campo de treinamento, onde ficava até os dezoito anos, para se tornar uma máquina letal, caso sobrevivesse.

Lá ele aprendia a não chorar, a suportar a dor, a matar e a fugir de uma cena de crime sem ser notado.

Aos dezoito anos, ele entrava para o exército, onde ele recebia da mãe um escudo e ouvida dela a frase "Com o seu escudo ou sobre ele", pois era somente assim que ele deveria voltar de uma batalha.