Filme de 1948, do diretor George Sidney, ambientado na corte francesa do século XVII, é trazido aqui como um exemplo da modalidade de contratação de atores que ficou conhecida como Star System, e que vigorou por um período da primeira metade de século XX, nos estúdios de Hollywood.
O formato alçava a imagem do artista ao estrelato, mas também o aprisionava de certa forma tanto legamente como também dentro de um comportamento estabelecido artificialmente para aquela "persona" que ele incorporava.
Essa fase da história do cinema está contada no texto abaixo, de autoria de Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram).
Em meados do século 20, Hollywood passava por um momento
em que os grandes estúdios como a Fox, Warner, MGM, Paramount, Universal,
Columbia e RKO haviam desenvolvido e aperfeiçoado um mecanismo quase infalível
para produzir e controlar o que o público americano consumia. Esse fenômeno
ficou conhecido como “sistema de estúdio”. Inclusive, vários destes estúdios
mencionados tinham suas próprias redes de cinema. Parecia um excelente negócio
para qualquer ator estar amparado por um longo e duradouro contrato, o que
significava estabilidade e pagamento por todo o tempo de contrato. Porém os
contratos também davam aos estúdios total domínio sobre as imagens públicas dos
artistas, isso quer dizer que eles tinham o poder de definir as pautas de suas
entrevistas, as poses de suas fotografias e os dias e horários de suas
aparições e declarações públicas. “Durante a vigência do contrato, os artistas
não tinham direito a aumento de salário, mesmo que se tornassem mais populares
com o público ou obtivessem mais destaques na mídia do entretenimento”, explica
o autor Edward Jay Epstein no livro O grande filme: dinheiro e poder em
Hollywood.
Os contratos com duração de sete anos eram padrões em
Hollywood na época. Em 1947, quase quinhentos atores e atrizes, dentre eles
Bing Crosby, Bob Hope, Betty Gable, Gary Cooper, Ingrid Bergman, Humphrey
Bogart, Clark Gable, John Wayne, Alan Ladd, Gregory Peck, James Stewart e até
mesmo o diretor Alfred Hitchcock estavam presos a esse tipo de contrato temporário.
Há uma boa explicação para esse tipo de acordo em
específico: em 1931, o Código Civil original da Califórnia previa que um
contrato artístico deveria durar ao máximo sete anos. E assim foi feito,
Durante os anos 30 a atriz Olivia de Havilland, famosa por seus papéis em ...E o vento levou (1939), Só resta uma lágrima (1946) e Tarde demais (1949) assinou um contrato
padrão com a Warner Brothers, porém em alguns momentos Havilland recusou alguns
papéis que ela considerava inferiores; como forma de puni-la, o estúdio a
suspendeu durante alguns meses. O contrato venceu em 1943, porém a Warner não
queria liberá-la alegando que a atriz não havia cumprido integralmente os sete
anos de contrato, em outras palavras, ela não havia sido produtiva durante os
sete anos.
Olivia de Havilland discordou, e o caso foi parar nos
tribunais. Em uma decisão histórica, a atriz ganhou o processo e foi liberada,
a partir daí o contrato de sete anos deveria ter a duração literal de sete
anos, não importando se o contratado prestou serviço durante todo o período. Ou
seja, o máximo que um artista podia ficar sob contrato de um estúdio era pelo
período de sete anos, e não mais, a partir desse ocorrido surgem os contratos
padrões que previa o período de sete anos como o máximo de tempo que um estúdio
poderia segurar um artista contratado.
No entanto contratos desta natureza tendiam a impedir os
atores de trabalhar em outros lugares, tornando-os praticamente propriedade do
estúdio e não tendo a liberdade de recusar um papel sob pena de serem suspensos
sem remuneração, exatamente como fez a MGM com a atriz Lana Turner, que foi
forçada a aceitar um papel em Os três mosqueteiros (1948).
A canadense Florence Lawrence (1886-1938) foi a primeira
atriz a reivindicar o título de estrela do cinema, sendo sucedida por Theda
Bara, Mary Pickford, Max Aronson, Rodolfo Valentino, Douglas Fairbanks nos anos
10/20; na década 30, o cenário foi dominado por Fred Astaire, Ginger Rogers,
Joan Crawford, Spencer Tracy, Clark Gable, Katherine Hepburn, Cary Grant, Errol
Flynn, William Powell e Myrna Loy; nos anos 40 por Gary Cooper, Rita Hayworth,
Humphrey Bogart, Lauren Bacall, dentre outros. Esses foram os artistas que se
valeram do título de “astros e estrelas” do cinema até o advento dos anos 50 e
das novas gerações.
Àquela altura, Hollywood vivia uma época de grandes
astros e estrelas, esse era o chamado star
system, o público lotava os cinemas para verem seus ídolos. Alguns atores e
atrizes da época como Marlon Brando, Cary Grant, Elizabeth Taylor, Paul Newman,
John Wayne, Bette Davis, Marilyn Monroe, Gregory Peck, Audrey Hepburn, Rita
Hayworth, Kirk Douglas e Grace Kelly eram capazes de levar multidões às salas
de cinema e causar muito rebuliço com suas presenças em eventos e estreias.
Era comum na época [e também na atualidade] novas estrelas adotarem nomes artísticos mais populares e rentáveis que seus próprios nomes, por exemplo: Roy Scherer tornou-se Rock Hudson; Issur Danielovitch tornou-se Kirk Douglas; Archibald Alexander Leach tornou-se Cary Grant; Frances Ethel Gumm tornou-se Judy Garland; Annie Bridgwood tornou-se Theda Bara; Julius Ulman tornou-se Douglas Fairbanks; Emmanuel Goldenberg abriu mão de seu nome judeu e tornou-se Edward G. Robinson; Marie Magdalena Von Losch adotou um pseudônimo muito mais comerciável, o de Marlene Dietrich; Marion Morrison – um primeiro nome geralmente utilizado em mulheres – tornou-se John Wayne; Margarita Carmen Cansino trocou seu nome latino pelo o de uma estrela, Rita Hayworth; e Norma Jean adotou o glamouroso pseudônimo de Marilyn Monroe.
Texto de Vitor Grané Diniz da página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram)
...................................................................................................................................................