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Desirée, o Grande Amor de Napoleão

Marselha, França, 1794.
 
O jovem militar Napoleão Bonaparte, então com 26 anos, aguardava para assumir seu posto como General de Brigada. Ele havia sido promovido após o seu sucesso no Cerco de Toulon.
 
Foi quando ele conheceu e se apaixonou pela jovem Desirée Clary, filha do proprietário de uma loja de tecidos. Apesar de estar começando a se destacar no exército, Napoleão ainda era muito pobre, e a família da moça não aprovou o romance.
 
Ainda assim ele pediu sua mão em casamento, mas logo após a execução de Robespierre, Napoleão foi preso devido às ligações que tinha com ele, mas foi solto alguns dias depois. Ele precisou se ausentar de Marselha, prometendo a Desirée que logo se casariam, deixando a moça cheia de fantasias, já preparando seu enxoval.
 
Dois anos depois, estranhando a demora do noivo, Desirée parte para Paris para procurá-lo e tamanha foi a sua surpresa e decepção ao ver que ele já estava casado com a refinada dama da sociedade  Josefina de Beauharnais.
 
A história dos encontros e desencontros entre Desirée e Napoleão está contada no açucarado mas interessante filme Desirée, o Grande Amor de Napoleão, de 1954, do diretor alemão Henry Koster, trazendo ninguém menos do que Marlon Brando no papel principal.



 
 
Napoleão Bonaparte
 
 
Desirée Clary
 
Josefina de Beauharnais
 


Napoleão

Ilha de Santa Helena, Oceano Atlântico, 1818.
 
Napoleão Bonaparte, exilado e doente, relembra os fatos importantes de sua vida.
 
Voltando no tempo em suas lembranças, ele retorna a 1795, quando conhece Josefina de Beauharnais, que viria a ser sua primeira esposa e grande amor de sua vida.
 
Tudo o que lhe aconteceu a partir desse momento, até a sua morte no exílio, está deliciosamente contado na série para TV chamada Napoleão, do diretor Yves Simoneau, de 2002.

 
 
Essa série contém 4 episódios de uma hora e meia cada um, aproximadamente. Portanto são quase 6 horas de história sobre Napoleão que passam voando. Eu realmente me apaixonei e fiquei triste quando acabou.
 
Por estar no formato de série para TV, a obra é bem mais "palatável" e fácil de entender. O que não tira o seu valor, principalmente pelo fato de ter mais tempo para explorar melhor as passagens da vida de Napoleão.
 
O elenco conta com a linda atriz francesa Isabella Rossellini no papel de Josefina, além de Gérard Depardieu como o girondino Joseph Fouché, Ministro da Polícia, e John Malkovich como Charles Talleyrand,  Ministro das Relações Exteriores.
 
Em  1793 Napoleão tinha saído vitorioso e aclamado na batalha que ficou conhecida como Cerco de
Toulon, em que expulsou os ingleses que estavam ajudando os monarquistas a retomar o poder após a Revolução Francesa.
 
Em 1795, após conhecer Josefina, com quem logo começou um flerte correspondido, Napoleão conhece também o então deputado Paul Barras, que, já sabendo da reputação de Napoleão após o episódio de Toulon, atribui a ele algumas reponsabilidades militares, suficientes para que o jovem logo ganhasse ainda mais destaque.
 
Em 1796, após mais uma vitória contra os monarquistas que lhe rendeu fama e riqueza, ele se casou com Josefina. Napoleão contou também com a ajuda de um jovem oficial da Cavalaria, Joachim Murat, que viria a se casar com uma de suas irmãs.
 
Desde 1792 vigorava na França o Calendário Revolucionário Francês, ou Calendário Republicano, criado por Robespierre durante a Revolução Francesa, para se opor ao Calendário Gregoriano, rompendo assim ainda mais com qualquer tipo de religião. Somente em 1804 Napoleão viria a decretar a volta do Calendário Gregoriano.
 
 
 

 
 
Napoleão - Uma Vida
 
Complementando o conhecimento obtido com o filme, podemos falar um pouco mais sobre a biografia de Napoleão Bonaparte com as ricas informações do livro Napoleão - Uma Vida, do autor galês Vincent Cronin.
 
 
 
Infância na Córsega
 
Napoleão nasceu em 15 de agosto de 1769, em Ajaccio, capital da Córsega, uma ilha na região da Itália que havia se tornado uma região administrativa da França poucos meses antes de seu nascimento, quando foi vendida pelos genoveses para o rei Luís XV, em maio de 1768.
 

 
 
O segundo dos oito filhos do jovem casal Carlo Bonaparte e Maria Letícia (5 meninos e 3 meninas), descendentes da nobreza italiana. Seu pai era advogado e prestava serviços ao rei Luís XVI, da França. Sua família vivia com um certo conforto mas não era rica. Ele teve uma infância feliz e absorveu muitos dos valores típicos de seu país, como o senso de independência e uma certa presunção. Particularmente Napoleão tinha também um forte senso de justiça e de liderança.
 
 
Academia Militar de Brienne
 
Preocupado com o futuro dos filhos, Carlo conseguiu bolsas de estudo para os mais velhos, e, em dezembro de 1778, aos nove anos de idade, Napoleão seguiu com o pai para Marselha na França, e logo em seguida, em maio de 1779 mudou-se definitivamente para a pequena cidade francesa de Brienne, situada na parte verde de Champagne,  onde ficaria internado para estudar na academia militar, administrada por monges franciscanos.
 
Academia Militar de Brienne
 
 
Lá ele teve uma vida muito dura e difícil, longe da família que tanto amava, sem falar muito bem o francês e sendo debochado pelos colegas por seu sotaque corso e também por ser um bolsista, já que a escola era destinada aos nobres franceses de famílias ricas. Como um corso típico, Napoleão detestava ser zombado.
 
Na escola era muito bom em matemática, história e geografia. Tinha gosto pela leitura e também por escrever, e, como ele mesmo escreveu, tinha "uma inclinação definitiva para o serviço militar" e um desejo de entrar para a Marinha.
 
 
École Militaire de Paris
 
Em outubro de 1784, aos 15 anos, Napoleão mudou-se para Paris, para estudar na Escola Militar, ficando completamente embasbacado ao chegar, com a opulência da cidade. Sua vida melhorou bastante e ele se sentia muito mais motivado.
 
École Militaire de Paris
 
 
No ano seguinte, como não houve seleção para a Marinha, ele foi encarregado da artilharia, recebendo sua patente assinada por Luís XVI.
 
Com a morte de seu pai, Napoleão passou a ser o único provedor da família, com seu parco salário de oficial, ou seja, as coisas não seriam nada fáceis para ele nesse começo da carreira militar.
 
 
Revolução Francesa
 
Em 1786, ao assumir suas funções como segundo-tenente, e optou por servir em um regimento na cidade guarnição de Valença, na região Ródano-Alpes, para ficar mais perto de sua família na Córsega.
 
 
 
Nessa época ele já começava a testemunhar a penúria vivida pelos civis, e as primeiras revoltas do Terceiro Estado (a Plebe - o Primeiro Estado era a Nobreza e o Segundo Estado era o Clero) que iriam desencadear a revolução alguns anos depois. Napoleão, apesar de pertencer à nobreza, era solidário ao sofrimento e à fome da população, mas achava que tudo teria que ser resolvido dentro da ordem e não com revoltas.
 
Nesse período também a Córsega passava por dificuldades. O domínio francês, que até então era benéfico para a região, tornou-se opressor e injusto.
 
Além disso, a Europa em geral passava por transformações com o sucesso das reformas promovidas pelos déspotas esclarecidos, em monarquias como Espanha, Portugal, Suécia e Áustria.
 
Em 1789, em Paris, após a tomada da Bastilha pela população enfurecida contra a monarquia, os Estados-Gerais formaram a Assembleia Constituinte, que apresentou à França a sua primeira Constituição, que começava com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
 
Em Valença Napoleão foi um dos primeiros a entrar para a Sociedade dos Amigos da Constituição, e, em 1791 ele fez um juramento de nunca deixar uma nação estrangeira invadir o solo francês. Tinha esperanças de que todos esses movimentos também fossem benéficos para a Córsega.
 
Nesse mesmo ano Napoleão tirou uma licença e foi para Ajaccio, para a casa de sua mãe. Lá ele se envolveu em revoltas contra o governo local com intenção de melhorar a situação da ilha, mas sua tentativa foi um verdadeiro fracasso.
 
Em 1793 ele e sua família tiveram que fugir da Córsega  para a França, deixando para trás todos os seus pertences. Eles seguiram como refugiados para Toulon e posteriormente se instalaram em Marselha.
 
A França então já estava vivendo a fase do Terror, promovido pelo governo que agora era formado pelo Comitê da Segurança Pública, criado pela Convenção, formado por advogados de classe média liderados por Maximilien Robespierre.
 
Cerco de Toulon
 
Ainda em 1793, as cidades do interior da França já estavam dando demonstrações de revolta contra o governo, principalmente por causa do terror instaurado, dos altos preços dos alimentos  e também por causa da profanação aos símbolos religiosos, devido à descristianização promovida pelo Comitê.
 
As nações vizinhas, encabeçadas pela Inglaterra, pretendiam promover a volta da monarquia, colocando no trono o rei Luís XVIII, da casa dos Bourbon. Esses aliados do rei encontraram na cidade de Toulon, no sul da França, território propício para fazer essa investida.
 
 
 
Napoleão foi designado para lutar em Toulon, como subalterno, mas ele não concordava com a estratégia proposta por seus superiores. Ele mesmo sugeriu um novo plano, fazendo uso de canhões, colocando em prática seu conhecimento em artilharia. Ele teve autorização para agir e saiu vitorioso, expulsando os ingleses da cidade.
 
Com esse sucesso, ele foi promovido a brigadeiro-general, aos 24 anos. Pôde então tirar sua família da pobreza em Marselha, e comprou uma bela casa para sua mãe.
 
Termidor
 
Em julho de 1794, no mês Termidor do Calendário Revolucionário, o Terror atingia seu ápice, mas um grupo de Convencionais (pertencentes à Convenção), enojados com a carnificina, decidiram tirar o tirano Maximilien Robespierre do poder.
 
Para isso eles aproveitaram um erro do ditador  e o acusaram de estar conspirando contra a Revolução. Assim os irmãos Robespierre, Maximilien e Augustin, foram executados na guilhotina, a qual foi aposentada a partir de então.
 
Napoleão chegou a ser preso nessa ocasião, por ter se tornado próximo a Augustin Robespierre, mas como  apresentou uma boa defesa, mostrando que durante toda a sua vida militar havia lutado pela Revolução, foi liberado em seguida.
 
O grupo de Convencionais que derrubaram Robespierre, era liderado, entre outros membros, por Paul Barras, também oriundo da nobreza, e que viria a ter papel importante na vida de Napoleão.
 
 
O Conselho dos Quinhentos, o 13o Vindemiário e o Diretório
 
Com o fim do uso da guilhotina a Convenção se viu incapaz de governar. Para evitar os excessos cometidos pelo antigo Comitê de Segurança Pública, foram criados dois poderes, o Legislativo e o Executivo.
 
O poder Legislativo era formado pelo Conselho dos Quinhentos, e o poder Executivo era composto por cinco diretores. Eles redigiram uma nova Constituição, que não agradou a todos.
 
Logo alguns grupos de anarquistas, extremistas e monarquistas começaram em Paris as revoltas contra os constitucionalistas.
 
Em outubro de 1795, mês Vindemiário do Calendário Revolucionário, o povo foi chamado por esses grupos para levantar armas contra a Convenção. Paul Barras, líder dos constitucionalistas, convidou Napoleão para lutar sob suas ordens. Presando pelos princípios da Revolução, defendidos pela Constituição, que por sua vez era defendida pela Convenção, Napoleão aceitou a proposta de Barras.
 
Só que os revoltosos estavam em maioria. Novamente Napoleão recomendou o uso de canhões e com eles o grupo conseguiu conter a rebelião e "salvar a revolução".
 
Em 1795, no 13o Vindemiário,  a Convenção deixou de existir e foi substituída de vez pelo Diretório. O constitucionalista Barras foi nomeado um dos diretores e Napoleão foi promovido a general e assumiu o comando do Exército do Interior.
 


Sobre as vitórias de Napoleão em Toulon e no Vindemiário em Paris, o autor do livro faz uma interessante reflexão: Por que ele fracassou em Ajaccio e saiu vitorioso nessas duas batalhas? E a resposta está na habilidade técnica que ele apresentou nesses dois eventos na França.
Enquanto na Córsega ele era apenas mais um oficial, um ardente patriota, na França ele era um especialista. Com sua habilidade em artilharia ele atendeu a uma necessidade específica e dominou a situação.

 
 Joséphine
 
Proveniente de uma família de nobres franceses que se estabeleceram na ilha de Martinica para produzir açúcar, a jovem Rose Tascher teve uma vida boa e tranquila até a adolescência.
 
Casou-se na França aos 16 anos, por arranjo das famílias, com o jovem visconde Alexandre de Beauhanais. Ela era apaixonada por ele, mas ele tinha não conseguia se manter fiel. Eles tiveram dois filhos, uma menina e um garoto, mas logo se divorciaram.
 
Durante a fase do Terror da Revolução, por pertencerem à nobreza, os dois foram para a prisão. Alexandre chegou a ser guilhotinado mas Rose foi libertada logo após a morte de Robespierre.
 
Depois de ter passado muitos momentos difíceis e trágicos, ela procurou ter uma vida mais "leve", meio fútil e hedonista até. Teve alguns relacionamentos, entre eles com o promissor Paul Barras, que a protegeu por um tempo.
 
Foi nessa época que ela conheceu Napoleão, que já começava a se destacar. Ele já havia se interessado por uma moça antes, Desiré Clary, (já falamos desse romance na postagem do filme Desirée - O Grande Amor de Napoleão).
 
Mas quando Napoleão conheceu Rose, ele com 26 anos e ela com 32, ele se apaixonou perdidamente por ela, que, por sua vez, o achou interessante, mas nunca se apaixonou verdadeiramente por ele. Ainda assim eles começaram um relacionamento e logo se casaram, em março de 1796. Foi ele que passou a chama-la de Joséphine.
 
 
Campanha Italiana
 
Depois da vitória do Vindemiário o objetivo de Napoleão era combater os inimigos da França: Áustria e Piemonte, no norte da Itália, liderando o Exército dos Alpes.
 
Ele pediu o cargo ao diretor Paul Barras, que recusou a princípio, mas, vislumbrando futuros interesses de parcerias, com a "estabilidade" gerada pelo casamento de Napoleão com Josephine (ambos pertencentes à nobreza, assim como Barras), o diretor acabou acatando o pedido, como presente de casamento.
 
Assim, em 1796, dois dias após seu casamento, Napoleão seguiu para Nice, onde montou seu quartel-general. Porém, ele encontrou seu exército em "assustadora penúria", magros, vestindo uniformes gastos e que não seguiam padrão algum, alguns até sem os sapatos, e completamente mal equipados.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 


Napoleón

Brienne-le-Château, França, 1781.
 
Sobre o pátio coberto de neve os alunos do colégio militar de Brienne participam da simulação de uma batalha. Um garoto se destaca pela sua estratégia e pela audácia, era Napoleão Bonaparte, então com 11 anos de idade.
 
Sofrendo perseguição e insultos  dos outros alunos por causa de seu sotaque corso (da Córsega) e  de temperamento peculiar, Napoleão enfrentava a todos já dando mostras da personalidade que o colocaria no topo do império de um dos países mais importantes da época.
 
A história dos primeiros anos do grande líder e tirano que foi Napoleão Bonaparte, marcada por passagens e personagens da Revolução Francesa, está contada no marcante filme mudo Napoléon, do diretor Abel Gance, de 1927.
 
 
 

Esse filme dá início aqui no blog a um ciclo de postagens sobre a era napoleônica, um tema para lá de fascinante.

Como eu já disse, trata-se de um filme mudo, o que não impede que seja extremamente interessante, tendo sido tecnicamente bastante inovador para a época, influenciando inclusive toda uma nova geração de cineastas da Nouvelle Vague.

E, para quem quer conhecer um pouco mais sobre a história de Napoleão, é uma obra indispensável.


Sobre Napoleão Bonaparte
 
Nascido em 1769 na Córsega, filho de uma família de nobres franceses, Napoleão foi levado aos 9 anos de idade para Paris, para estudar no colégio militar, durante o reinado de Luís XVI. Sua família, apesar de pertencer à nobreza e de ter um certo refinamento, não era muito rica, pois eles eram em oito irmãos. 
 
 
A Córsega é uma ilha localizada no Mar Mediterrâneo. Apesar de estar na região geográfica da Itália, ela é uma região administrativa da França.
Pertenceu à Itália até 1768, ano em que foi invadida e tomada pelos franceses.

No colégio, onde levava uma vida muito triste longe de sua família, ele mantinha uma águia que fora enviada a ele por um tio como bicho de estimação. O filme faz a todo momento uma correlação entre o olhar do animal e o de Napoleão.
 
Ele passou os 5 anos seguintes no colégio, sem rever sua família e também sem muitos amigos. Tinha muito orgulho de sua origem e não se misturava com os franceses, preferindo o isolamento.  Aos 15 anos de idade ele entrou na Academia Real em Paris, onde assimilou mais a cultura francesa.
 
Após muito treinamento e dedicação, ele se especializou na artilharia, mas não tinha muitas esperanças de conseguir uma posição de destaque no exército, pois sabia que os altos postos estavam reservados aos soldados das famílias mais ricas. Ele, apesar de ser nobre, não era rico.
 
Napoleão adorava a matemática e as ciências em geral. Era apaixonado também pelo poder. Estudou a fundo as biografias de Alexandre, o Grande e Aníbal, para entender o que os tornara poderosos.
 
Até a Revolução Francesa,  Napoleão era um jovem triste, solitário e egocêntrico. Porém, durante a revolução, em 1793, ele teve a oportunidade de se destacar na batalha que ficou conhecida como Cerco de Toulon, no sul da França, onde ele usou a artilharia por sua conta e risco, para expulsar os ingleses que tentavam invadir o país, tentando reestabelecer a monarquia derrubada pelos revolucionários.
 
Ele então foi nomeado general, aos 26 anos de idade, passando a comandar as forças armadas do interior. Daí em diante sua ascensão foi meteórica, o que chamou a atenção da bela e rica dama da sociedade Josefina de Beauharnais, com quem viria a se casar em 1796.



Uma passagem muito bizarra do filme sobre um encontro dele com Josefina ocorre em um evento social chamado Baile das Vítimas, que era um baile para os parentes das pessoas que tinham sido guilhotinadas na revolução (!!!).
Josefina era uma delas, pois seu primeiro marido havia sido executado.


Extremamente carismático, praticamente um ator, ele tinha uma capacidade incrível para motivar os seus soldados. Mas seu olhar de águia procava neles também o medo.

Além de seu estranho e inseparável chapéu, sua marca registrada era a mão na barriga por dentro da camisa.


 
 
 
 
 
 







Maria Antonietta

Áustria, 1770.

A princesa Maria Antonieta, de 14 anos, filha da imperatriz Maria Teresa, é levada à França, para se casar com o príncipe e herdeiro do trono, o desajeitado Luis Augusto Capeto, que viria a se tornar o rei Luis XVI.

Sua história está contada no filme Maria Antonietta, de 1938, em preto e branco, dos diretores W. S. Van Dyke (americano) e Julien Duvivier (francês).



Esse já é o terceiro filme postado aqui no blog sobre a mais famosa rainha que a França já teve. Os outros foram Maria Antonieta, de Sofia Coppola, e Adeus Minha Rainha, de Benoît Jacquot. Ambos maravilhosos e merecem muito ser vistos.

Pouco se fala sobre a Revolução Francesa propriamente dita, ou sobre o Iluminismo, mas sobre Maria Antonieta, existem vários filmes.

Apelidada na vida real de "Rainha Déficit", por gastar demais e contrair muita dívidas, aqui nesse filme ela aparece mais como uma vítima das intrigas daqueles que cobiçavam o poder, do que como a frívola rainha que só pensava em jóias, roupas, sapatos e festas.

Nele é enfatizado o romance que teria vivido com o Conde Fersen, que também aparece no filme homônimo de Sofia Coppola.

É um filme muito bonito, bem feito, com ótimas atuações, e do ponto de vista histórico é mais abrangente que os demais.




Adeus Minha Rainha

Paris - França, 1789.

Uma serviçal do palácio de Versalhes, a leitora oficial da então rainha da França, Maria Antonieta, segue com seus deveres com especial devoção à sua senhora. Os nobres da corte de Luis XVI continuam com suas vidas repletas de luxo, rituais, fofocas e intrigas.

Enquanto isso, o povo da França vive na mais dura miséria, com altos impostos e escassez de alimentos.

Quando chega ao palácio a notícia de que a população tomou a Bastilha e que já havia uma lista com os nomes dos condenados à guilhotina, é instaurado um verdadeiro pânico entre a nobreza, que começa a fugir de Versalhes para tentar salvar a própria pele.

A história dos dias que antecederam à Revolução Francesa no palácio de Versalhes, sob o ponto de vista da leitora de Maria Antonieta, está contada no filme "Adeus Minha Rainha", de 2011, do diretor francês Benoît Jacquot.

 
 
Confesso que esse filme me surpreendeu muito positivamente. Eu esperava uma estória tola sobre os possíveis romances da rainha da França, mas não foi isso que encontrei.
 
O roteiro é denso, um pouco mais crível que os outros filmes que eu vi sobre esse tema e retrata uma Maria Antonieta mais madura, apaixonada sim, mas não tão fútil e alheia à realidade como foi retratada no também ótimo filme "Maria Antonieta", da diretora Sofia Coppola, por exemplo (já postado aqui no blog).
 

 
A leitora da rainha, Sidonie, nutre por ela uma forte paixão e tem inveja do relacionamento da patroa com a polêmica amiga, Gabrielle de Polignac (Yolande Martine Gabrielle de Polastron - Duquesa de Polignac). 
 
 
 
Polignac também aparece no filme da Sofia Coppola, só que com o nome de Yolande, e não é feita nenhuma menção clara sobre um possível caso amoroso entre ela e a rainha.
 
Enfim, quando todos no palácio começam a debandar, inclusive Gabrielle, somente a fiel leitora, Sidonie, insiste em permanecer ao lado da sua patroa até o último momento, mas recebe da rainha uma perigosa e arriscada missão.
 
 
 
 
 
 



Maria Antonieta

Áustria, 1768.

A jovem princesa Maria Antonieta, da poderosa família dos Habsburgos, aos 14 anos deixa seu país para se casar com o também jovem tímido príncipe da França, Luís Capeto, de 15 anos, neto do então rei Luís XV, selando assim um pacto de amizade entre a França e a Áustria.

Ela era filha de Maria Teresa, Imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico e Arquiduquesa da Áustria.

A história da vida do casal, que mudaria definitivamente o curso da civilização ocidental, está lindamente contada no filme da diretora americana Sofia Coppola, Maria Antonieta, de 2006.



Apesar de ser um filme de época, ele é muito moderno, com uma trilha sonora irreverente e uma fotografia lindíssima.

Ele gira em torno da personagem principal, Maria Antonieta, apelidada de Rainha Déficit, por gastar demais, e famosa pelos extravagantes penteados que se tornaram sua marca registrada, o filme mostra seu lado mais frívolo, seus romances mas também seus dramas pessoais.

Outro filme muito bonito que retrata bem a vida da polêmica rainha da França é Maria Antonietta, de 1938, já postado aqui no blog.


Mas vamos falar aqui um pouco mais sobre o contexto histórico do filme e seus desdobramentos. 
 
O reinado de Luís XVI e a Queda da Bastilha
 
"Proteja-nos Senhor, pois reinamos jovens demais". Foi o que disse Luís Capeto ao assumir o trono da França, em 1774, aos 20 anos, completamente despreparado, após a morte de seu avô, Luís XV, vítima de varíola, tornando-se então o rei Luís XVI.

Luís XVI, rei da França
 
Luis XVI era tímido, gorducho e desajeitado. Também não era um líder nato e não tinha nenhum interesse nos assuntos do Estado. Seus maiores interesses eram a caça e a confecção de cadeados.

Passaram-se alguns anos antes que o seu casamento com Maria Antonieta fosse de fato consumado, e um delfim (um herdeiro do trono) fosse gerado,  causando comentários maldosos e humilhantes para o jovem casal. A falta de interesse do príncipe em consumar o casamento foi posteriormente justificada por um problema físico, uma fimose. Após a cirurgia tudo ficou resolvido e os filhos vieram.

A vida no magnífico castelo de Versalhes era cercada por luxo, fartura e exuberância. Maria Antonieta gastava demais com vestidos, sapatos e festas, completamente alheia à situação do povo francês, que estava na mais completa miséria, passando fome e todo tipo de privação.

Maria Antonieta


 
Palácio de Versalhes
 
 
 
O Palácio de Versalhes foi construído em 1682, por Luís XIV, o “Rei-Sol”, bisavô de Luís XV, em um vilarejo que ficava a 19 km de Paris, e era residência oficial da nobreza.
 
Seu objetivo era se distanciar da população de Paris e assim exaltar ainda mais o poder da nobreza.
 
Considerado uns dos maiores palácios do mundo, chegou a abrigar mais de 36 mil pessoas.

Luís XIV viveu no auge do absolutismo francês.

Ele foi vivido por Leonardo DiCaprio no cinema, no filme “O Homem da Máscara de Ferro”, baseado no romance “O Visconde de Bragelonne”, de Alexandre Dumas, que conta a saga de d’Artagnan e dos três mosqueteiros.
 
 
Luís XV, avô de Luís XVI, havia gastado muito dinheiro apoiando as lutas de independência das Américas da sua eterna rival, a Inglaterra. Em 1763 ele havia perdido a Guerra dos Sete Anos para a Inglaterra, por disputas de territórios na América do Norte, gastando quase todos os recursos da França. Já ao fim da vida, sabendo que não estava deixando a França em boas condições, Luís XV disse profeticamente "Depois de mim, o dilúvio". E foi o que aconteceu.
 
Os cofres franceses já estavam secando, porém a nobreza parecia não entender a gravidade da situação, e continuava vivendo na mais repulsiva ostentação.
 
Como não havia mais pragas, a taxa de mortalidade tinha diminuído, o crescimento populacional tinha aumentado muito e com ele a necessidade de alimentos. A fome e a pobreza só cresciam.
 
Nascia em Paris o Iluminismo, a Idade da Razão, movimento que estimulava o homem a pensar por si mesmo e ter controle de seu próprio destino, com mensagens de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Seus principais pensadores eram Voltaire e Rousseau.
 
Para piorar a situação, entre 1788 e 1789 houve um inverno muito rigoroso na França, causando uma escassez ainda maior de farinha, fazendo o seu preço disparar, assim como a violência entre a população, por causa da falta de alimentos.
 

 A estrutura política daquela época era formada por 03 estados:
  • Primeiro Estado: Clero
  • Segundo Estado: Nobreza
  •  Terceiro Estado: Povo
Cada estado tinha 1/3 dos deputados Assembléia Nacional, o que já era mais um motivo de indignação, já que o povo, o 3o estado, era composto por 97% da população.
 
 
Em 1789 Luís XVI dissolveu a Assembléia Nacional. O povo se revoltou e, temendo um ataque da guarda real, roubou as armas (28 mil mosquetes) dos arsenais de Paris para se defender. Só que a pólvora ficava na lendária masmorra da Bastilha, e o povo se encaminhou para lá.
 
Durante a invasão da Bastilha uma luta foi travada com os soldados que faziam a guarda do local. Quando os revoltosos conseguiram tomar a masmorra, o chefe da guarda teve a cabeça decepada. Essa foi a primeira de uma sequencia de decapitações que viria no futuro.
 
A Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, marcou o início da Revolução Francesa.
 
Uma nova constituição foi escrita, bem como a Declaração dos Direitos dos Homens, pregando o fim das desigualdades de classes.
 
Também foi instiutída a liberdade de imprensa. Foi quando despontou o amargo jornalista Marrat e seu jornal L'Ami du Peuple (O Amigo do Povo). Falaremos dele mais tarde.
 
Surgiu aí também a bandeira tricolor, representando os três poderes, Legislativo (azul), Executivo (branco) e o Povo (vermelho). As cores também representam os ideias iluministas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
 
 
 
A vida no castelo de Versalhes no período da queda da Bastilha está contada no filme Adeus Minha Rainha.
 
 
 A Revolução Francesa
 
Três meses após a tomada da Bastilha, os revolucionários enfurecidos com os altos preços dos alimentos e com o impopulares atos da monarquia, dirigiram-se ao palácio de Versalhes, sedento pelas cabeças dos monarcas Luís e Maria Antonieta. Eles eram liderados por um grupo de fortes mulheres peixeiras, as "poissardes", que estavam munidas com seus facões e instrumentos de trabalho.
 
Os revolucionários invadiram o palácio com brutalidade e deceparam as cabeças dos guardas. O rei e a rainha conseguiram sair em segurança, mas foram rendidos e transferidos para Paris, onde ficaram  instalados no Palácio das Tulherias.
 
O governo passou a ser uma monarquia constitucional, onde o rei dividia os poderes com uma Assembléia. Mas aos poucos o poder da monarquia e do clero foi diminuindo através das leis que Luís era obrigado a assinar.
 
Surgiu um grupo de revolucionários mais radicais que se reunia em um antigo mosteiro jacobino, e por isso recebeu o nome de Jacobinos. Esse grupo era liderado pelo jovem advogado Robespierre, o Incorruptível, que recebeu esse título por defender arduamente os direitos do povo.
 
Maximilien de Robespierre
 
 
 A Fuga dos Monarcas
 
Luís XVI sabia que não conseguiria restaurar sozinho o seu poder. Ele precisaria da ajuda de um exército estrangeiro aliado, e sabia que poderia contar com a Áustria, terra natal de sua esposa.
 
Em 21 de Junho de 1791, temendo por suas vidas e em uma tentativa de buscar ajuda,  o rei, a rainha e seus dois filhos fugiram de Paris em direção à Áustria, disfarçados de criados.
 
Porém, quando já tinham percorrido 160 km, e estavam quase chegando na fronteira, na cidade de Varennes, foram reconhecidos por um guarda em uma barreira policial. Eles foram presos e levados de volta a Paris.
 
 
A República do Terror
 
Após a tentativa de fuga a imagem do rei perante seus súditos, que já era ruim, ficou ainda pior.
  
O poder passou então definitivamente para a Assembléia, tendo Robespierre à frente, que clamava pelos ideais iluministas e também pelo fim do tráfico de escravos nas colônias francesas. Nascia então a República Francesa, mas que ela pudesse existir, o rei não poderia continuar vivendo.
 
Foi criada a Convenção Nacional, mancando a transferência do poder para as mão do povo.
 
A Assembléia, temendo que os membros da família real que conseguiram fugir para a Áustria tentassem retomar o poder, resolveu se antecipar, e em abril de 1792 a França declarou guerra ao país.
 
Robespierre foi contra, acreditando que a França não estava preparada para uma guerra e que a revolução seria colocada em risco. Mas ele foi voto vencido. 
 
Em agosto de 1792 os jacobinos lutavam pelo controle da Assembléia contra os Girondinos, uma facção mais moderada e mais elitista de revolucionários. Liderados pelo também advogado Jacques-Pierre Brissot, eles tinham esse nome proque faziam parte de um partido político conhecido com  Gironda.
 
 
Jacques-Pierre Brissot
 
 
 
Outro grupo que apareceu foi o dos Cordeliers, que dava voz na Assembléia ao grupo dos Sans-Culottes, os quais recebiam esse nome por ser formados por trabalhadores que não usavam o culotte, um tipo de calça justa usada pela aristocracia.
 
Um dos maiores líderes dos Cordeliers foi o também advogado e lendário Danton, que havia sido do partido dos Jacobinos mas rompeu com Robespierre. Danton incentivava os franceses a lutarem contra os austríacos.
 
Georges Jacques Danton
 
 
Os Jacobinos queriam a morte do rei para o bem da República, mas os Girondinos eram contra a condenação. Só que eles eram minoria. Em janeiro de 1793 o rei Luís XVI foi condenado e executado.

Maria Antonieta também foi executada na guilhotina em outubro do mesmo ano, acusada de "esgotamento do tesouro nacional".

Sua filha mais velha, Maria Teresa, então com quinze anos, ficou presa por dois anos e depois foi libertada em uma troca de prisioneiros entre a França e a Áustria.

Seu filho, Luís Carlos, o delfim da França, então com três anos, também ficou preso mas morreu dois anos depois, vítima dos maus tratos que sofrera na prisão.
 
Os Jacobinos, agora no poder, com Robespierre à frente, passaram a atacar todos aqueles que se voltavam contra o atual regime. Qualquer pessoa suspeita de tramar contra o sistema era sumariamente condenda a guilhotina, que trabalhava em ritmo cada vez mais frenético.


A morte por decapitação já existia antes da Revolução Francesa mas a guilhotina foi o instrumento usado durante esse período por ser mais eficiente, mais rápida e supostamente menos dolorosa, proporcionado ao condenado uma morte mais decente do ponto de vista humanitário.
Ela recebeu esse nome porque foi aprimorada em 1792 pelo médico francês Joseph-Ingace Guillotin.


Surge então um novo personagem que já mencionamos: Jean-Paul Marrat, do jornal L'Ami du Peuple. Ele era um jacobino fervoroso usava seu jornal para atacar os Gerundinos e incentivar ainda mais a violência. Ao lado de Robespierre, ele defendia a República da Virtude pelo Terror.
 
Durante a fase do Terror, houve a volta da censura e um rompimento radical com a igreja e todos os seus dogmas. Robespierre e seus seguidores defendiam o Culto da Razão, que substituiria o cristianismo, onde Deus seria substituído pela deusa da razão.
 
Um novo calendário foi criado em 1792, baseado nos fenômenos da natureza, para simbolizar a “descristianização”.
Chamado de Calendário Revolucionário Francês, e vigorou por 13 anos, de setembro de 1792 a dezembro de 1805, quando Napoleão Bonaparte determinou a volta do Calendário Gregoriano.
Marrat tinha uma doença de pele e passava o dia em tratamentos de banhos medicinais em sua residência. 
As pessoas de fora de Paris começaram a ficar revoltadas com a violência crescente dos jacobinos. Até que em Julho de 1793, Charlotte Corday, vinda da Normandia disposta a por um fim naquele que pensava ser a causa de tanto terror, entra na casa de Marrat e o assassina.

Charlotte Corday
 
 
A cena de sua morte ficou imortalizada no quadro A Morte de Marat, do artista plástico Jacques-Louis David, e até os dias de hoje ela é utilizada em várias representações artísticas e populares. 

A Morte de Marat
 
 


Porém a morte de Marrat só veio dar mais vigor ao movimento de Robespierre. Marrat foi idolatrado como um santo.

Ao lado de Robespierre estava também o então jovem e brilhante oficial Napoleão Bonaparte (falaremos bastante dele em postagens futuras).
 
Napoleão humilhou e expulsou a marinha inglesa que havia invadido a cidade portuária de Toulon, no sul da França, uma das cidades que tinham se revoltado contra os jacobinos, com a ajuda dos ingleses, na operação que ficou conhecida como Cerco de Toulon.
 


Até que chegou um ponto onde a situação foi fugindo do controle. Robespierre não tinha mais limites e acusava a todos de traição. Inclusive seu antigo amigo Danton foi considerado traidor e  guilhotinado.

Robespierre instaurou a fase do Grande Terror após a morte de Danton, quando até 800 execuções por mês eram realizadas na guilhotina.
 
Após um festival realizado por ele chamado de Festival do Ser Supremo, o povo se revoltou contra ele definitivamente, percebendo que havia perdido completamente a sanidade mental.
 
Robespierre, quando viu que todos estavam contra ele, tentou se suicidar atirando em sua face. Mas não chegou a falecer.

Em 29 de julho de 1794 Robespierre, que poucos dias antes estava no topo do mundo, foi executado na guilhotina.
 
Os verdadeiros ideais da Revolução Francesa não morreram com Robespierre. Apesar dele ter se tornado um tirano, sua luta cruzou oceanos e incentivou revoluções pelo mundo afora, assim como a sombra do terror instaurado por ele fez tremer a muitos, fazendos-nos questionar até que ponto a violência pode justificar a luta por uma ideologia.