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Agostinho - O Declínio do Império Romano

Filme italiano, de 2010, do diretor canadense Christian Dugay, fala sobre os últimos meses da vida de Santo Agostinho de Hipona, província de Roma, quando a cidade está sob o cerco dos vândalos liderados pelo rei Geiserich.



Agosto de 430 d.C. Hipona, norte da África. O bispo Agostinho, vivido pelo ator italiano Franco Nero, então com 75 anos de idade, observa o acampamento do exército de vândalos germânicos arianos, liderados pelo rei Geiserich, que cerca a cidade sitiada.

Os alimentos começam a escacear, o abastecimento de água e cortado pelos invasores. Ele tenta acalmar os ânimos da população que já demonstra sinais de pânico e desordem na disputa por recursos.

Apesar de clamar por paz aos representantes de Roma (governador Valério), estes se mostram dispostos a não recuar no enfrentamento aos inimigos aguardando a chegada da marinha imperial. Até que chegam alguns soldados da sétima legião de Roma, muitos deles feridos, e que conseguiram passar pelo cerco dos vândalos.

O Papa está enviando navios para que Agostinho e seus livros sejam resgatados em segurança mas ele decide ficar ao lado de seu povo até o fim.


Sobre Santo Agostinho

Nascido em 354 d. C. na cidade de Tagaste, localizada a 100km da então Hipona, na atual Argélia, uma província romana na época. Filho de uma mulher cristã, Mônica (que mais tarde viria a ser canonizada e se tornar Santa Mônica, por ter sido a responsável pela conversão do seu filho). Aos 15 anos de idade Agostinho tem a oportunidade de observar uma palestra do importante orador Macróbio e, tomado pelo fascínio, decide se tornar também um orador e advogado. Deseja estudar com Macróbio em Cartago. Com a recusa de seu pai que não pode pagar por seus estudos, ele se torna rebelde, revoltado. Sua mãe então vai pedir ajuda a um velho amigo da família. 

 Agostinho segue para Cartago e se hospeda na pensão do jovem Valério. Com Macróbio ele aprende a arte da retórica e se torna um excelente advogado, atuando ao lado de seu mestre até se deparar com conflitos éticos.

Ele decide voltar para Tagaste onde conhece uma nova doutrina, o Maniqueísmo, e acaba por se converter. Quando está prestes a adotar um grau mais elevado dentro da seita maniqueísta, o de "eleito", sua companheira conta que está esperando um filho seu, frustrando seus planos religiosos. Aos poucos ele vai se afastando do maniqueísmo e no futuro irá se opor ferozmente contra essa seita, decepcionado com a fragilidade de argumentação de seu principal representante na época, o bispo Fausto de Milevo.

Leva então sua vida pacata e entediante até que Valerio chega em Tagaste e o convence a ir para Milão, para ser o porta-voz do jovem imperador e sua mãe, a imperatriz regente. Ele deixa sua mãe, companheira e filho e vai em busca de seu sonho.

Em Milão ele conhece o bispo Ambrósio, e através dele fica impressionado com a doutrina Cristã. Sob sua influência e de sua mãe ele se converte ao cristianismo.

Durante os anos ele escreve seus livros, Cidade de Deus e Confissões.

 

Maniqueísmo

Muitas vezes escutamos o termo "maniqueísta" aplicado como uma visão dualista, e até mesmo reducionista entre apenas "bem" e "mal", "nós" e "eles". Mas o que de fato é ou foi essa filosofia? O maniqueísmo na verdade é uma religião já exinta, uma seita ou doutrina fundada pelo profeta Mani (ou Manes) no século III d. C., na então Mesopotâmia, atual Iraque, sob domínio do Império Sassânida, do Xá Sapor I. 

Mani


Aos 12 anos Mani teve uma visão de um anjo protetor, seu "gêmeo", que mandou que ele se isolasse  para receber  a revelação de uma nova religião. Aos 24 anos de idade houve uma nova aparição do anjo.

Trata-se de uma doutrina universalista, dualista em que há uma separação entre o Bem e o Mal, entre a Luz e as Trevas. Consiste no sincretismo entre as religiões então existentes: Cristianismo, Zoroastrismo, Budismo e Hinduísmo. Tinha grande influência do gnosticismo e de textos judeus de escatologia como o Livro de Enoque.

Mani, que sabia ler, escrever e pintar, considerava-se o último profeta (o selo dos projetas), unificando os ensinamentos daqueles que vieram antes dele - Zoroastro, Cristo, Buda e Krishna. Ele se considerava o Paracleto, que é visto como o Espírito Santo no Calolicismo (João, 14:26), mas não exatamente com esse sentido, e sim como o novo profeta.

Ao todo ele deixou em torno de 8 livros dos quais hoje em dia restam apenas fragmentos encontrados muito recentemente em escavações no Egito:

- Saburagan (Relativo a Sabur I)

- Evangelho Vivo

- Tesouro da Vida

- Mistérios,

- Lendas

- Cartas

- Livro dos Gigantes

Ele teve muita influência de Paulo de Tarso (São Paulo), deixando cartas ao estilo do apóstolo cristão.

Mani se considerava o profeta da verdade e sua doutrina, a "Religião da Luz", propõe que ninguém é culpado por nada, pois os erros são consequências da natureza. O bem se encontra no espírito ou na luz e o mal se encontra na matéria, ou nas trevas.

Para os maniqueístas, o mundo veio da união ou da luta entre a luz e as trevas. A matéria é má e o espírito é bom. O corpo material possui uma centelha de luz e os ritos maniqueus se propõem a separar o que está mesclado entre luz e trevas para destilar apenas a luz. A salvação consiste em se livrar do mal e tornar-se apenas espírito.

O conflito teológico dentro do maniqueísmo seria sobre o que iria acontecer no fim dos tempos, ou seja, sobre o processo de salvação. A matéria (trevas) deveria ser aprisonada numa espécie de cárcere cósmico para não voltar a guerrear contra o espírito (luz).

A estrutura clerical era constituída por Eleitos e Auditores.



Os Eleitos eram como sarcedotes (mestres e bispos) e guardavam costumes mais rigorosos. Não podiam trabalhar e nem cultivar a terra. O seu alimento era todo fornecido pelos auditores, numa relação de humildade e co-dependência, numa sinergia e simbiose exotérica entre as duas classes.

O ritual de purificação dava-se através da alimentação. A dieta do “homem novo” seria especial, abençoada, e a digestão teria a função de destilar a luz que existe na matéria. Portanto a  conquista do corpo teria papel na salvação, através da gnosis e das restrições (os eleitos não comiam carne e eram celibatários). Assim os desejos seriam substituídos pelas virtudes.

A expansão do domínio do imperador Sabur I permitiu a  difusão da doutrina nas guerras entre romanos e persas em locais como Síria, Armênia, Iraque e Turquia.

Mani começou a difundir sua doutrina pela Índia, mais especificamente pelo Paquistão, dirigindo-se tanto ao povo como aos governantes. Sabur I era tolerante com a nova religião. Enquanto estava vivo, os maniqueus puderam atuar livremente sob os domínios do império Sassânida, mais depois de sua morte, as coisas ficaram difíceis e o maniqueísmo começou a conflitar com o zoroastrismo.

A seita começou a ser acusada de heresia por um suposto culto pagão ao sol e à lua (heliofilia e selenofilia). Mas na verdade a adoração não era aos astros, mas sim,  por serem supostamente condutores da luz, seriam então um caminho para chegar a Deus, mas não deuses.

Sobre os ritos funerários pouco se sabe a respeito.

Depois de começarem a ser violentamente perseguidos, os maniqueus desapareceram completamente no Ocidente por volta do século VI a VII, supostamente por serem extremamente pacíficos e por não incentivarem a reprodução de seus adeptos.

O termo Mania hoje em dia associado à loucura, possui raiz na palavra Mani.

Fragmentos do texto Vita Mani (Vida de Mani) foram encontrados no Egito em 1969 e foi comprado pela Universidade de Colônia, na Alemanha.

Santo Agostinho, no século V,  chegou a fazer parte da seita maniqueísta mas se decepcionou com a doutrina, principalmente com a fraquesa de argumentação do bispo Fausto de Milevo, e a contestou duramente, classificando-a como herege, como registrado em seu livro “Confissões”.