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2019 - Blade Runner - O Caçador de Androides

 "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?" (Do Androids Dream of Electric Sheep?" - Esse é o inusitado título do livro de ficção científica escrito em 1968 pelo escritor americano Philip K. Dick, e que serviu de inspiração para o filme Blade Runner - O Caçador de Androides, de 1982, do diretor britânico Ridley Scott.



O Livro





Philip K. Dick tinha então 40 anos quando o livro foi lançado, em 1968, em meio ao contexto da Guerra Fria. 

A história se passa num futuro distópico, altamente tecnológico, no ano de 1992, após uma guerra nuclear, a "Guerra Mundial Terminus", ou GMT, que deixou o planeta com condições muito precárias para qualquer forma de vida, devido à poeira radioativa que predominava na maior parte do planeta, impedindo o sol de brilhar sobre a Terra. 

1.  Colônias: Os humanos já haviam colonizado outros planetas, principalmente Marte, para onde grande parte da população remanescente da Terra foi incentivada a migrar após a guerra. A colônia se chamava Nova América e havia a cidade de Nova Nova York. Além das colônias, as pessoas também passaram muitos anos em naves como Salander 3 e Proxima.

Em algumas cidades litorâneas, na costa oeste dos Estados Unidos, a poeira estava mais branda devido aos ventos, permitindo que pequenos aglomerados de pessoas pudessem viver com as devidas adaptações. A história se passa na cidade de San Francisco, no norte da Califórnia.

2. Habitantes da Terra: Permaneceram na Terra basicamente dois tipos de pessoas: os Normais e os Especiais

Os Normais eram pessoas mais jovens, saudáveis e intelectualmente capacitadas, que optaram por ficar na Terra, mas que poderiam emigrar caso quisessem. Para sair de casa os homens precisavam usar um protetor genital de aço, para preservar a possibilidade de gerar filhos. Além disso, precisavam se submeter a exames médicos mensais para avaliação de sua saúde. Permanecer na Terra, exposto à radioatividade, era uma ameaça à hereditariedade da raça.

Já os Especiais eram pessoas que tinham algum tipo de limitação física ou intelectual, pessoas mais velhas ou que tiveram algum tipo de sequela devido à radioatividade. Ou seja, que não poderiam contribuir com a perpetuação da espécie. Os mais limitados intelectualmente eram chamados de "cabeça de galinha" ou "cabeça de formiga", e trabalhavam em sub empregos.


3. Religião: As pessoas seguiam uma religião chamada de Mercerismo, onde o líder, Wilbur Mercer, pregava a "empatia" como maior valor a ser almejado pelo ser humano, ou seja, a maior virtude que diferenciava um humano de outros seres. Havia um dispositivo chamado "Caixa de Empatia", onde a pessoa poderia ter, por realidade virtual, uma comunhão com Mercer, uma "fusão", em que a pessoa passava pelo "calvário" que Mercer passou, descendo ao "mundo tumular" e retornando dele, e com isso compartilhava as emoções com outras pessoas que estivessem conectadas a essa caixa no mesmo momento. A religião era muito parecida com o Cristianismo e era muito combatida pela mídia.

4. Mídia:  era composta por apenas um canal transmitido a partir de Marte, que passava o mesmo programa 23 horas por dia: o "Buster Gente Fina e Seus Amigos Gente Boa", que intercalava programas de entrevistas com conteúdo escapista e previsão meteorológica, informando sobre a previsão de precipitação radioativa obtida pelo satélite Mongoose. O Buster era o maior rival de Mercer.

5. Animais: após a GMT a maior parte das espécies de animais entrou em extinção, a começar pelas corujas. Os poucos exemplares que resistiram passaram a ser o maior objeto de cobiça das pessoas e um sinal de status social, já que custavam caríssimo. O preços eram tabelados pelo catálogo de uma loja especializada e possuir um animal de verdade era o sonho de consumo e até mesmo de vida das pessoas na Terra. Era mesmo como ter um filho, e cuidar de um animal era a maior demonstração de empatia que alguém poderia apresentar.

Aqueles que não podiam pagar por um animal de verdade optavam por ter réplicas elétricas, muito semelhantes às versões verdadeiras, até mesmo com doenças semelhantes às naturais, para que ninguém desconfiasse que se tratava de um robô, o que seria uma desonra e vergonha para a família. Por isso, até as empresas de manutenção dessas máquinas se disfarçavam de clínicas veterinárias e seus técnicos usavam roupa branca.

6. Tecnologia: além de carros voadores, os hovercars, existia um aparelho chamado "Sintetizador de Ânimo Penfield". Ele emitia ondas que interferiam no funcionamento do cérebro e alteravam o estado de humor da pessoa dependendo da frequência da onda escolhida, com as opções de Supressor Talâmico, que anulava o sentimento de raiva, por exemplo, e Estimulador Talâmico, que deixava a  pessoa mais irritada e agressiva. Cada pessoa possuía o seu dispositivo e programava a frequência conforme a sua necessidade (criatividade, produtividade, positividade, gratidão, etc).

7. Androides: Havia sido criada uma arma de guerra chamada "Guerreiro Sintético da Liberdade": tratava-se de robôs humanoides sintéticos, os androides (ou andys), que serviriam para explorar as colônias e trabalhar para os humanos. As pessoas que emigravam para as colônias recebiam um andy como incentivo à colonização. Existiam os mais variados modelos e versões de androides, fabricados por diversas companhias do setor privado, assim como veículos.

Os androides mais avançados eram muito similares aos humanos e a diferença só poderia ser confirmada através de um teste de empatia  (fictício) chamado "Teste Voigt-Kampff", que media a dilatação capilar na face, a condutividade da pele, a respiração, a frequência cardíaca e a tensão dos músculos oculares. Um teste de medula óssea também era feito para a confirmação, mas já era bem mais invasivo.

Esse teste era inspirado no real Teste de Turing, criado em 1950 por Alan Turing, e que avalia a capacidade de uma máquina de se comportar como um ser humano. Ele é aplicado hoje em dia nas Inteligências Artificiais.

Os androides tinham uma vida útil breve, em torno de 4 anos, pois não havia sido resolvido o problema de renovação celular. Não era permitida a presença de androides na Terra, a menos que o proprietário tivesse uma licença. Pousos de naves não autorizados também eram monitorados pela polícia.

Devido a um histórico de problemas envolvendo androides que se rebelavam contra seus donos, e se mostravam extremamente perigosos justamente devido à falta de empatia, surgiu uma categoria de profissionais que prestava serviço para a polícia oficial. Eram mercenários que caçavam essas criaturas e ganhavam muito bem para isso: em torno de mil dólares por androide "aposentado", ou seja morto. Recebiam também uma verba mensal da polícia para subsistência. Eram conhecidos como blade runners, ou caçadores de androides. 

8. Associação Rosen: empresa privada, da cidade de Seattle,  fabricante de androides do modelo Nexus-6, os mais modernos. Era presidida pelo fundador, o milionário Eldon Rosen, com ajuda de sua bela sobrinha, Rachel Rosen, de 18 anos de idade, e que havia passados 14 anos de sua vida à bordo da nave Salander 3, o que justificada a sua aparente inabilidade no convívio com outras pessoas. 

No entanto, Rachel era também uma androide na qual foram implantadas lembranças falsas em sua memória, sendo assim, ela mesma desconhecia sua real condição, acreditando ser uma humana.

9. Rebelião em Marte: alguns androides do modelo Nexus-6, começaram a desenvolver consciência e passaram a se revoltar contra as condições de escravidão com que eram tratados nas colônias. Um grupo de 8 androides, liderados pelo androide farmacêutico  Roy Baty, chega ilegalmente à Terra. Dois deles já tinham sido "aposentados" por um caçador veterano. Restavam 6 androides que estavam à solta, disfarçados e convivendo normalmente com a população. Eram eles:

- Roy Baty: farmacêutico em Marte

- Irmgard Baty: esposa de Roy, lidava com produtos de beleza

- Pris Stratton: uma jovem do mesmo modelo de Rachel Rosen

- Max Polokov: um caçador de androides afiliado à polícia soviética WPO (similar à KGB)

- Luba Luft: cantora de ópera, que atua na apresentação de "A Flauta Mágica", de Mozart

- Garland: chefe de polícia

10. Personagens principais e enredo: O caçador de androides Rich Deckard vivia com sua esposa Iran, que o criticava por ter essa profissão. Ela tinha uma personalidade melancólica e às vezes programava seu Sintetizador de Ânimo na frequencia de Depressão Auto Acusatória para poder sentir a desilusão pelo ensurdecedor silêncio dos apartamentos vazios, abandonados às pressas pelas pessoas na Terra.

Eles tinham uma ovelha elétrica e Rick se envergonhava muito por não poder ter novamente um animal de verdade. Esse era o seu maior sonho. Quando recebeu a missão de aposentar os seis androides restantes, viu como oportunidade de finalmente realizar esse desejo. 

Mas antes de começar seu trabalho, e ele é orientado a procurar a Associação Rosen para se atualizar sobre o comportamento do modelo Nexus-6 e validar a eficiência do teste Voigt-Kampff, evitando assim que algum humano pudesse vir a ser morto por engano.

Ele vai até Seattle e fica conhecendo Rachel, que se oferece para se submeter ao teste, já que ela julgava ser uma mulher humana. A intenção de seu tio, Eldon Rosen, era a de desacreditar o teste, o que abalaria as estruturas do sistema policial, tendo assim o caçador Rick Deckard em suas mãos. O que quase chega a ocorrer, mas em uma derradeira pergunta, Rick descobre que Rachel é na verdade uma androide e inverte a situação e deixa a moça completamente abalada.

Rachel causa uma sensação estranha em Rick, e ele realmente não consegue entender ou lidar com aquelas emoções. Começa a sentir empatia pela androide, o que o confunde. Ela aparentemente também demonstra ter sentimentos por ele, e o ajuda com informações sobre o comportamento desse modelo de androides.

Assim começa a caçada pelos androides, onde os sentimentos conflitantes só aumentam.

Enquanto isso, o solitário John Isidore, um "cabeça de galinha" e fervoroso devoto do Mercerismo que morava em um prédio abandonado no subúrbio segue sua vida pacata trabalhando como motorista em uma empresa de manutenção de animais elétricos. Até que é surpreendido com barulhos em seu prédio, onde vivia totalmente solitário. Animado com a chegada de novos moradores, vai até o apartamento de onde vieram os ruídos para se apresentar e oferecer as boas vindas aos vizinhos.

Ali então ele conhece a androide Pris Stratton, por quem se encanta e oferece seus préstimos ingenuamente, o que irá atrair para seu prédio o casal Roy e Irmgard Baty.

Os caminhos de Deckard e Isidore irão se cruzar e o sentimento de empatia que nutrem pelos androides, bem como as experiências místicas com Mercer, serão algo transformador na vida de ambos.


11. Curiosidades:

O autor faz uso da impressão gerada pela obra do pintor norueguês Edvard Munch, "O Grito", de 1893, para expressar como provavelmente um androide deveria se sentir.

 

O Grito, de Edvard Munch - 1983



Uma analogia interessante feita pelo personagem John Isidore sobre o acúmulo de objetos e tranqueiras, deixado pelas pessoas em seus apartamentos, que ele chama de "bagulho", é o poder que ele tem de multiplicar e impedir que a ordem, a limpeza e organização possam se impor. Essa entropia gerada pela "bagulhificação" teria a Primeira Lei do Bagulho: "Bagulho expulsa o não bagulho." - como a lei de Gresham sobre o dinheiro ruim ("o dinheiro ruim expulsa o bom dinheiro da circulação.").

 

O Filme

Em estilo Cyberpunk Neo Noir, e trazendo o ator Harisson Ford no papel do solitário e aposentado Rick Deckard, a história agora se passa no ano de 2019, na cidade de Los Angeles, onde a poeira é substituída por uma permanente chuva radioativa, o que dá uma atmosfera escura e sombria à fotografia do filme.

A empresa criadora dos androides Nexus-6, chamados de "replicantes", é a Tyrlell Corporation, com sua sede em uma enorme edificação em forma de zigurate (templo sumério) e uma coruja em seu logotipo. Aliás a coruja, presente no livro, também aparece no filme.


A casa de Rick Deckard também é um ícone da arquitetura, aparecendo em vários outros filmes, omo 13th Floor. É a Ennis House, do arquiteto Frank Lloyd Wright. 




Contra sua vontade, Deckard se vê forçado a capturar quatro androides que, assim como no livro, chegaram clandestinamente à Terra, agora com o objetivo de pressionar seu criador, Eldon Tyrell, a ampliar a longevidade de sua breve existência. São eles:

- Roy Batty (Rutger Hauer)

- Pris (Daryl Hanna)

- Leon

- Zhora Salome (no filme uma dançarina stripper e não uma cantora de ópera)

No lugar de John Isidore, temos agora J. F. Sebastian, um engenheiro genético, funcionário da empresa Tyrell, e que também irá se solidarizar com a situação de Pris e Roy.

No filme, o tema da "humanidade" é abordado de forma ainda mais profunda e filosófica, trazendo o questionamento sobre o que é ser humano de fato, pois em algumas situações os androides são "mais humanos que os humanos", deixando um enigma indecifrável quanto à verdadeira origem do próprio Rick Deckard, se ele é realmente humano ou se é também um replicante com memórias implantadas.

O envolvimento de Rick Deckard com a androide Rachael Tyrell também se dá com maior intensidade no filme, e a consequência do relacionamento deles será o tema da continuação: Blade Runner 2049, lançado em 2017, do diretor canadense Denis Villeneuve. 


A Continuação

O filme, um grande sucesso assim como primeiro, traz o excelente ator Ryan Gosling no papel de um solitário androide mais evoluído, mas que também é um caçador de androides rebeldes, e que passa por uma crise existencial, principalmente após descobrir que sua origem possui profundas ligações com um milagre envolvendo a lenda Rick Deckard.











1492 - A Conquista do Paraíso

Espanha, 1492.

O navegador genovês Cristóvão Colombo tenta convencer os intelectuais da Universidade de Salamanca e os governantes de que existem outros caminhos para se chegar às Índias, a oeste, sem ficar dependente das tradicionais rotas conhecidas da época.
 
Mesmo sem conseguir cativar os intelectuais e alguns altos membros do governo, Colombo obtem a simpatia, a confiança e o patrocínio da Rainha Isabel de Castela, esposa do Rei Fernando de Aragão, nessa arriscada empreitada. Ele consegue também o interesse de outro navegador dono de algumas caravelas, e juntos eles partem rumo ao desconhecido.
 
Após navegar por 5 semanas, muito mais do que o esperado por Colombo, as três caravelas que partiram da Espanha, a Santa Maria, Pinta e Nina, encontram terra firme, mas não eram as Índias, e sim algo totalmente inesperado: o Novo Mundo, ou seja, as Américas.
 
Essa história de coragem está contada no filme 1492 - A Conquista do Paraíso, de 1992, do diretor inglês Ridley Scott.
 



Cruzada (Kingdom of Heaven)

França, 1187 d. C..

Um jovem ferreiro francês chamado Bailan, após perder a esposa, e com ela o sentido de sua vida, parte com seu recém conhecido pai, o nobre Godfrey de Ibelin, para a cidade de Jerusalém,  unindo-se à causa dos cruzados, para libertar a cidade dos muçulmanos comandados por Saladino.

Os muçulmanos haviam tomado a cidade de Jerusalém, submetendo os cristãos à morte ou à escravidão. Cem anos antes, os cristão haviam tomado a cidade das mãos dos muçulmanos, durante a Primeira Cruzada, e agora ela é invadida novamente.

Essa é a história contatada no filme Cruzada (original Kingdom of Heaven), de 2005, do diretor inglês Ridley Scott.

 
 
Os fatos sobre a vida de Bailan (que realmente existiu) não são totalmente fiéis à realidade, porém o contexto histórico do filme corresponde bem ao que de fato aconteceu naquela época.
 
Vamos entender um pouco sobre as cruzadas:
 

Resumindo:
1ª Cruzada: 1096 a 1099 – Cruzadas dos Nobres, liderada por Godofredo de Bulhão. Os cristãos saíram vitoriosos e tomaram a Jerusalém.
2ª Cruzada: 1147 a 1149 – Liderada pelo rei da França, Luis VII, e sua esposa Leonor de Aquitânia, terminou com uma derrota humilhante para os cristãos, e com a ascensão do líder muçulmano Zengi e posteriormente seu filho Nur ad-Din.
3ª Cruzada: 1189 a 1192 – Cruzada dos Reis – Liderada por Ricardo I, rei da Inglaterra, conhecido como Ricardo Coração de Leão, terminou em uma trégua com o principal líder muçulmano, Saladino.
Mais seis cruzadas foram travadas até 1272, porém sem que uma convivência realmente pacífica fosse alcançada.
 

 
Primeira Cruzada: 1096 a 1099 d. C.
 
Voltando um pouco no tempo, após a queda do Império Romano, em 476 d. C., marcando o fim da Idade Antiga e Início da Idade Média, ele foi dividido em duas partes:
 
- Império do Ocidente: com sede em Roma (e que seria invadida por bárbaros germânicos a partir de 476 d. C.)
 
- Império do Oriente: com sede em Bizâncio (futura Constantinopla)
 
Já no século VII, por volta do ano 610 d. C, surge a religião islâmica com base nos ensinamentos de Maomé, nas cidades de Meca e Medina, estendendo-se a Jerusalém.
 
Dando mais um salto no tempo, já para o período da Primeira Cruzada, em 1095, Aleixo I, o imperador bizantino em Constantinopla e chefe da igreja Ortodoxa, pede ajuda a seu rival, Papa Urbano II, em Roma, em nome da fé cristã, para se defender contra os turcos recém convertidos ao islamismo.
 
Eles tinham tomado a cidade de Jerusalém e avançavam em direção à Constantinopla. Jerusalém também era uma importante cidade para os cristãos e um lugar de peregrinação.
 
A Europa daquela época ainda não possuía monarquias fortes, o poder era descentralizado e os pequenos reinos lutavam entre si. Havia muita violência e quase não existia justiça. A igreja exercia um forte poder moral e psicológico sobre as pessoas, porém o papado era fraco politicamente.
 
O Papa Urbano então convoca todo o mundo cristão para lutar contra os muçulmanos (ou sarracenos).  Ele viu naquela situação uma oportunidade de se fortalecer e concluiu que se conseguisse tomar Jerusalém,  seu poder aumentaria muito.
 
Ele exagera nas informações sobre as atrocidades cometidas pelos  muçulmanos com os cristãos, despertando neles o ódio contra os rivais, começando assim o "choque entre a meia lua e a cruz" (expressão usada em um documentário do History Channel).
 
Então, em 1096, 60 mil cristãos liderados pelo duque francês Godofredo de Bulhão, percorrem 5 mil km em direção à Jerusalém, e em 1099, tomam de volta a cidade, fazendo uso de uma violência impensável, pondo fim à Primeira Cruzada.
 
Para os islâmicos, os francos (ou cruzados) não passavam de bárbaros que destruíram o auge da civilização islâmica.
 
O Papa Urbano faleceu antes de ver a vitória dos cristãos.
 
 
Segunda Cruzada: 1147 a 1149 d. C.
 
Após os cruzados conquistarem a cidade de Jerusalém, em 1099, o mundo muçulmano estava totalmente fragmentado, desunido, lutava entre si e não estava preparado para promover um contra-ataque.
 
Houve uma forte divisão entre Sunitas e Xiitas. Os Sunitas dominavam a região da Síria e os Xiitas dominavam o Egito. Tudo que os cruzados mais temiam era uma unificação entre esses povos, pois só  assim seriam capazes de reagir.
 
Os cristãos tinham uma certa segurança dentro da cidade, mas fora dos muros de Jerusalém estava repleto de sarracenos. Era muito perigoso para um cristão sair da cidade, que já estava pouco habitada. Após tomarem a cidade, muitos cruzados voltaram para casa, e Jerusalém ficou vulnerável.
 
A igreja fez então uma campanha para que as pessoas se mudassem para lá, para povoar a cidade, e muitos foram atrás de terras e riquezas. Além disso, muitos peregrinos se dirigiam ao local onde estava o Santo Sepulcro e várias relíquias sagradas.
 
Os peregrinos tinha que percorrer caminhos muito perigosos e sofridos, e vários deles caíam doentes e iam parar no Hospital de São João. Nesse hospital surgiu a ordem sagrada dos Hospitalários, formada por cruzados que faziam votos de castidade, pobreza e obediência, e que ajudavam os peregrinos cristãos que se dirigiam a Jerusalém.
 
Outra irmandade ou ordem monástica mais conhecida nos dias de hoje também foi fundada, a dos Templários, que recebeu esse nome porque era formada por cristãos militares que tinham o Templo de Salomão como quartel general. Eram a tropa de elite dos cruzados, e tinham a missão de proteger os peregrinos em seus caminhos. Eles acreditavam que combater os infiéis era o caminho para a salvação.
 
Os muçulmanos não estavam conformados com aquele insulto a seus locais sagrados e sonhavam com o contra-ataque. Assim veio à tona um dos principais fundamentos da ideologia muçulmana: a Jihad, que significa luta, esforço.
 
Os cruzados, para consolidar seu reino em torno de Jerusalém, criaram feudos ao seu redor, e dominaram as cidades vizinhas de Edessa, Antioquia e  Trípole. A cidade de Damasco permaneceu com os muçulmanos, mas era neutra e aliada dos cristãos.
 
Então Zengi, um cruel, temido e impiedoso líder muçulmano, conseguiu unificar os povos da Síria,  empreendendo uma Jirad vitoriosa. Seu objetivo passou a ser a cidade cruzada de Edessa, que conseguiu tomar em 1145 através dos túneis que passavam sob os muros, elevando assim a moral e a confiança dos muçulmanos.
 
Zengi foi assassinado dois anos depois da tomada de Edessa, e seu filho Nur ad-Din assumiu seu lugar. Ele era bem diferente do pai, mais justo, e era muito respeitado. Com uma forte mensagem de unificação e Jirad, convocou uma guerra santa contra os cristãos.
 
No mesmo ano, em 1145, o Papa Eugênio III convocou a Segunda Cruzada, com o objetivo de retomar Edessa e expandir os reinos cruzados. Os cristãos também estavam muito confiantes por causa do sucesso da Primeira Cruzada, e queriam repetir os feitos de seus pais.
 
Ela foi liderada pelo então poderoso rei da França, Luis VII, e sua esposa Eleonor de Aquitânia. Porém ele era um líder nato e não tinha experiência militar.
 
O caminho percorrido pela expedição de Luis VII , da França para Edessa, passava pelas perigosas terras da Turquia. Ela era coesa e  protegida por 300 cavaleiros templários. Porém, durante o rigoroso inverno, a caravana se dispersou e foi atacada. Luis conseguiu escapar, e, humilhado, entregou o controle da expedição aos templários, procurando refúgio na cidade cruzada de Antioquia. Ele então passou a cobiçar a cidade de Damasco.
 
Só que Nur ad-Din, que governava a cidade síria de Alepo, também cobiçava Damasco, e iniciou-se então uma corrida pela tomada da cidade. Luis atacou primeiro. Os damascenos então pediram ajuda a Nur ad-Din e Luis desistiu de lutar e resolveu voltar para a França derrotado e desmoralizado, pondo fim à Segunda Cruzada, fortalecendo ainda mais a autoconfiança dos muçulmanos.
 
As peregrinações dos cristãos praticamente se encerraram por completo.
  
 
Terceira Cruzada: 1189 a 1192 d. C.
 
Conhecida com a Cruzada dos Reis, é a fase representada no filme dessa postagem.
 
Cem anos após a tomada de Jerusalém a Europa passa por uma forte crise econômica e espiritual, e a população vê na Terra Santa uma oportunidade de obter fortuna e salvação.
 
Em 1154 Nur ad-Din torna-se Emir em Damasco e sua meta passa a ser a tomada da cidade do Cairo, então governada pelos Xiitas. Os cruzados remanescentes também queriam conquistar a rica e vulnerável capital do Egito, que já estava prestes a se render aos cruzados pacificamente.
 
Mas em 1168 os cristãos promoveram um massacre a uma cidade xiita próxima ao Cairo, que decidiu resistir e pedir ajuda a Nur ad-Din, o qual viu ali a tão sonhada oportunidade de tomar a cidade. Ele envia então o seu melhor general para defender o Cairo: Saladino.
 
Ambicioso, Saladino traiu Nur ad-Din e tomou o Egito para ele.
 
Após a morte de Nur ad-Din, em Alepo, seu filho de 12 anos, As-Salih, passou a ser o governante da Síria. Ele proibiu a entrada de Saladino na cidade de Alepo. Em 1181 As-Salih faleceu e Saladino finalmenente conseguiu unificar a Síria e o Egito.
 
Seu alvo agora era a cidade de Jerusalém, governada pelo jovem rei dos cristãos, Balduíno VI, portador de hanseníase (lepra). Em 1183, Balduíno, já sem condições de governar por causa da sua doença, nomeou seu cunhado Guy de Lusignan como regente.
 
Um príncipe chefe dos templários e aliado de Guy, Reynald de Chatillon, tinha ódio de Saladino e saqueou uma rica caravana de muçulmanos, desrespeitando o acordo de utilização das rotas comerciais entre a Síria e o Egito, desencadeado uma nova guerra.
 
Em 1187, Saladino, ao saber do ataque, reuniu seu enorme exército e rumou a Hattin, próximo à Jerusalém, disposto a iniciar uma guerra, atraindo estrategicamente os cruzados para uma região muito seca.
 
Guy caiu na armadilha e decidiu combater Saladino, reunindo um exército que contava com os Templários e Hospitalários, levando como estandarte o relicário com lascas da cruz de Cristo. Porém, abatidos pelo forte calor e sofrendo de desidratação, seu exército foi dominado na Batalha de Hattin por Saladino,  que matou Reynald e manteve Guy como prisioneiro.
 
Saladino tomou as cidades dos cruzados, entre elas a cidade de Acre. Na Europa, o Papa Gregório XIII fez um novo chamado para a Terceira Cruzada.
 
Em 1189 os maiores líderes europeus reuniram um exército de 100 mil homens sob o comando do general alemão Frederico Barbaruiva (mais conhecido como Barbarossa), um dos mais importantes homens da época, veterano da Segunda Cruzada (ver postagem do filme Barbarossa). Mas Frederico morreu no caminho e a liderança passou para um jovem de 33 anos, recém empossado rei da Inglaterra, Ricardo I.
 
Guy, então prisioneiro de Saladino, foi libertado após ser derrotado e humilhado na frente dos cristãos. Depois disso ele reuniu um exército e atacou a cidade de Acre, travando uma luta que durou dois anos.
 
Em 1191 Ricardo chega ao Acre para ajudar Guy e assume o comando da batalha, usando catapultas, uma arma que era um avanço tecnológico para a época, saindo vitorioso.
 
Seu sucesso inspirou os cruzados e lhe rendeu um novo título: Ricardo Coração de Leão. Sua história está contada no filme As Cruzadas, já postado aqui no blog.