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A Vida é Bela

Vencedor de três Oscars, essa belíssima obra de 1997, do diretor italiano Roberto Benigni,  ambientado no período da segunda guerra mundial, é um exemplo bem sucedido do desafio de atuar e dirigir ao mesmo tempo, como muito bem comentado no texto abaixo, de Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cimena" (Facebook e Instagram). 




Atuar e dirigir

Na história do cinema, durante muito tempo, o diretor não passava de um membro anônimo da equipe, geralmente subordinado ao produtor. O grande público lotava as salas cinemas pela temática do filme ou para ver os grandes astros, mas não pelo diretor. Porém essa cultura mudou em meados dos anos 50, quando a revista francesa Cahiers du cinéma apresentou a chamada “teoria do auteur” defendida por Françoise Truffaut, que pregava que, apesar do trabalho coletivo, o principal responsável pela obra era sempre o diretor; a teoria foi difundida nos Estados Unidos pelo crítico Andrew Sarris e influenciou a visão do grande público em relação à essa função, o diretor passou a ser então o “progenitor” da obra. Por conta disso, hoje é impossível desvincular o nome de determinadas obras de seus diretores, por exemplo: Titanic é “um filme de James Cameron”, Fale com ela é “um filme de Pedro Almodovar”, Cidadão Kane é “um filme de Orson Welles”, Touro indomável é “um filme de Martin Scorsese”, Psicose é “um filme de Alfred Hitchcock”, Farrapo humano é “um filme de Billy Wilder”, Laranja mecânica é “um filme de Stanley Kubrick” e Os imperdoáveis.

A prática de dirigir e atuar no mesmo filme existe desde os primórdios do cinema, é quando o diretor resolve atuar em seus próprios trabalhos, assumindo assim uma dupla função. Isso existe desde a época de Georges Mélìes, no final do século XIX. Méliès dirigiu, atuou, escreveu e produziu centenas de produções curtas. Ainda na era cinema mudo, grandes astros como Buster Keaton, Erich Von Stroheim e o sueco Victor Sjöström assumiram alguns de seus trabalhos tanto à frente quanto atrás das câmeras.

O astro maior da comédia dos anos 10, 20 e 30, Charles Chaplin criou o seu famoso personagem, o vagabundo e dirigiu e atuou em dezenas de filmes, além de produzir, roteirizar e compor as trilhas sonoras sem nunca perder a mão. Mas mesmo após Chaplin abandonar seu famoso personagem, ele ainda teve fôlego para continuar dirigindo e atuando em alguns de seus projetos da fase falada.

Nos anos 40, novos cineastas e atores se aventurariam em dirigir e atuar em seus filmes, Orson Welles se eternizou como o diretor e protagonista de Cidadão Kane (1941), Laurence Olivier dirigiu a si mesmo em algumas ocasiões, principalmente nas versões cinematográficas adaptadas da obra de Shakespeare, como Henrique V (1944), Hamlet (1948) e Ricardo III (1955); Gene Kelly se tornou famoso por estrelar e co-dirigir alguns de seus musicais mais famosos, principalmente Um dia em Nova York (1949) e Cantando na chuva (1952); Jerry Lewis, talvez se inspirando em Chaplin e Buster Keaton, também dirigiu e atuou em várias de suas grandes comédias como O mensageiro trapalhão (1960), O terror das mulheres (1961) e O professor aloprado (1963).

Entre os anos 70 e 2000, surge uma leva de grandes atores e diretores, e logo, o movimento de dirigir e atuar retorna com força. Tanto que alguns dos filmes mais bem-sucedidos e premiados variam dessa época. Vale destacar Sem destino (estrelado e dirigido por Dennis Hopper); Noivo neurótico, noiva nervosa (estrelado e dirigido por Woody Allen); Coração valente (estrelado e dirigido por Mel Gibson); Os imperdoáveis e Menina de ouro (ambos estrelados e dirigidos por Clint Eastwood) e A vida é bela (estrelado e dirigido por Roberto Benigni). Aliás, Roberto Benigni e Laurence Olivier são os dois únicos atores que já venceram o Oscar na categoria de Melhor Ator atuando sob a direção de si próprio.

Cineastas reconhecidos como Quentin Tarantino e Spike Lee ainda hoje mantém o hábito de reservarem a si próprios alguns pequenos papéis em seus filmes.

Outros grandes atores reconhecidos já se arriscaram na direção e na atuação simultânea, como por exemplo Jack Nicholson, Robert DeNiro e Anthony Hopkins. O que leva um ator profissional a abrir uma exceção em sua carreira e se aventurar como diretor é o fato de que, em suas experiências anteriores, ele ter sido dirigido por outros diretores e, a certa altura, ter tido a vontade de fazer o filme em questão à sua maneira, discordando das técnicas dos diretores com os quais trabalhou, por isso ele decide fazer o “seu” filme ao “seu” estilo. 

Analisando friamente esta questão, geralmente quando um ator tenta assumir a função de diretor, mesmo que por um filme, este filme tende a não ser uma obra-prima. Tomemos como exemplo o ator Robert DeNiro, que já entregou belíssimas atuações sob a direção de nomes como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Michael Cimino, Penny Marshall e David O. Russell, porém quando ele mesmo se dirigiu, em duas ocasiões, o resultado não foi tão satisfatório. 


O Triunfo da Vontade

Documentário de propaganda nazista de 1935, dirigido pela cineasta alemã Leni Riefenstahl, traz esse  triste período da história recente que, por mais doloroso e devastador que seja, precisa ser sempre lembrado com total consciência das consequências,  para que não volte a acontecer jamais. 

E ele ilustra muito bem o texto abaixo, sobre o nazismo no cinema, do nosso colaborador Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram).




         Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Hollywood estabelecera um padrão para caracterizar nazistas no cinema, eram sempre figuras maníacas, maldosas e cruéis.

Nos anos 50, a segunda guerra mundial ainda era um acontecimento relativamente recente, portanto o contexto era muito desfavorável, e o assunto, delicadíssimo. Nos anos 30 tanto Adolf Hitler quando Josef Stalin enxergavam no cinema uma forma de propaganda, a Alemanha, por exemplo, tinha sua cineasta oficial, Leni Riefenstahl, que dirigiu obras de exaltação nazista como O triunfo da vontade (1935) e Olympia (1938). Hoje essas obras são importantes fontes de estudo e análise sobre o contexto social e político da época, mas em plenos anos 50, retratar um nazista de forma gentil remetia aos filmes-propaganda de Leni Riefenstahl.

           Tomemos também como exemplo um filme realizado em pleno século XXI, A queda! as últimas horas de Hitler, esse (excelente) filme sobre o final do terceiro reich foi duramente criticado ao ser lançado em 2004. O motivo? Retratava um Hitler mais “humanizado”, capaz de ser educado, gentil e até ter apreço pelas pessoas. Se ainda nesse século retratar um nazista dessa maneira foi motivo de polêmica, é de se imaginar como o público e a crítica reagiria no período pós Segunda Guerra.


Texto de Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram)

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Casablanca

Filme de 1942 do diretor Michael Curtiz, um clássico com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, que se passa em Marrocos no contexto da II Guerra Mundial.

Foi uma das muitas obras do cinema que passaram pelo rigoroso crivo da censura conhecida como Código Hays, explicado no texto abaixo, do colaborador Vitor Grané Diniz (página "Noites de Cinema" - Facebook e Instagram).




 Código Hays

 Entre as décadas de 30 e 60, havia em Hollywood o chamado Production code administration (órgão controlador da produção cinematográfica americana), também conhecido como o famigerado código Hays, liderado por Joseph Breen. O trabalho de Breen consistia basicamente em passar o dia inteiro assistindo a filmes, procurando qualquer sinal de imoralidade; ele ainda tinha o poder de vetar a obra, exigir que determinada cena fosse excluída ou refeita; em outras palavras, só iria para as salas cinemas o que Breen determinasse.

Todos os filmes feitos na época tinham que receber o selo de aprovação do órgão. O caso mais notório de uma censura de Joseph Breen foi com O proscrito (1943), de Howard Hughes; Breen determinou que aproximadamente 37 closes dos seios da atriz Jane Russell fossem cortados, caso contrário o selo de aprovação lhe seria negado por “glamourizar o crime e a imoralidade”.

O Código Hays tinha uma lista de dezesseis tópicos que, em hipótese nenhuma, poderiam ser abordados nos filmes da época: sexo apresentado de maneira imprópria; cenas românticas prolongadas e apaixonadas; ridicularizar funcionários públicos; retratar religiosos de maneira pejorativa ou cômica; abordar temáticas de escravidão branca; destacar o submundo; ofender crenças religiosas; referências a doenças venéreas; tornar os vícios atraentes; tornar o jogo e a bebida atraentes; enfatizar a violência; consumir drogas; expor nudez; exibir em detalhes método de ação criminosa; retratar gestos e posturas vulgares; miscigenação e alusão romântica entre negros e brancos. As exigências, se não cumpridas, eram dignas de banir os filmes das salas de cinema.

Vários filmes tiveram que ser reestruturados para serem lançados, um deles foi a famosa comédia Quanto mais quente melhor (1959), o clássico estrelado por Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon teve o roteiro bastante modificado e algumas piadas foram alteradas, além de vários cortes nas cenas de Marilyn Monroe. Casablanca (1942) também passou por um problema similar, no roteiro original o casal de protagonistas Rick e Lisa deveria ficar junto, mas o código não aceitava que um casal adúltero tivesse um final feliz, então o desfecho foi modificado, o que foi bom, pois o final de Casablanca é um dos mais memoráveis da história do cinema.


Texto de Vitor Grané Diniz da página "Noites de Cinema" (Facebook e Instagram)

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O Grande Ditador

Filme de 1940, do diretor Chales Chaplin, marca a transição do cinema mudo para o cinema falado para o diretor, abordando com seu senso de humor típico o momento histórico em questão,  a Segunda Guerra Mundial, satirizando os principais expoentes fascistas, Adolf Hitler e Benito Mussolini.

E falando mais sobre esse diretor genial e a chegada do cinema falado, trazemos aqui mais uma contribuição de Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cinema" do Facebook, com o texto a segurir.



          Hollywood, 1927. Chega aos cinemas O cantor de jazz, o primeiro filme falado da história do cinema, essa nova tendência causa um furor na indústria cinematográfica e nos fãs, que estão em polvorosa para verem os ídolos da época – Douglas Fairbanks, John Gilbert, Theda Bara, Greta Garbo, Mary Pickford, Gloria Swanson, John e Lionel Barrymore – falarem em cena. Os comediantes mudos também não escapam à nova tendência.

          As gags visuais e cênicas que foram tão populares anos antes, agora estavam à prova, filmes como Em busca do ouro, A general e O homem-mosca continuariam populares ou tornariam-se meras lembranças nostálgicas? Neste contexto que surgem os primeiros comediantes importantes da fase sonora do cinema e da televisão: Abott&Costello, o gordo e o magro, os três patetas.

          Nem todos os profissionais do cinema veem com bons olhos a chegada do som. Charles Chaplin, por exemplo, defendia que o cinema mudo era uma linguagem universal, e que o cinema falado não daria conta de abranger o público do mundo inteiro. Mesmo como o mais popular comediante de sua época, havia uma pressão da imprensa e do público por um lançamento falado do icônico vagabundo. Mas como Carlitos, um personagem impossível de se imaginar falando, poderia falar?

          Chaplin iniciou sua carreira cinematográfica em 1914, com absoluto sucesso ele se tornou o mais popular artista de seu tempo, entre 1914 e 1923, Chaplin abriu seu próprio estúdio, ficou milionário, cofundou a United Artists, tornou-se o homem mais famoso do mundo e lançou verdadeiras obras-primas como Vida de cachorro, Ombros, armas, Pastor de almas, Dia de pagamento, Idílio campestre, Um dia de prazer, Os ociosos e, principalmente, O garoto.

          No entanto, após o lançamento de O circo, em 1928, Chaplin reluta ao máximo em aderir ao som. No auge de sua popularidade, ele ainda tem credibilidade para atrair o público com duas comédias mudas: Luzes da cidade e Tempos modernos, lançadas em plena era do cinema sonoro.

          As duas comédias trazem críticas implícitas (ou nem tanto) ao som. Em Luzes da cidade, logo na cena de abertura, o prefeito discursa em uma cerimônia de inauguração de uma estátua, suas falas dão lugar a um garrancho sonoro incompreensível. Chaplin, com maestria, ridiculariza a qualidade de som dos primeiros filmes falados.

          Mas teria sido muito mais fácil, para Chaplin, se ele tivesse feito Luzes da cidade como um filme falado. Por exemplo: a florista cega tinha que pensar que o vagabundo era, na verdade, um milionário. Mas como fazer isso sem som, sem diálogos?

          Chaplin achou uma ótima solução: a florista iria confundir o vagabundo com o milionário pelo som da batida da porta do carro. Ela houve e pensa que se trata dele, e que havia ido embora sem pegar o troco.

          Da maneira que podia, ele ia burlando o som e o adiando em seus filmes.

          E olhem só, em seu filme seguinte, Tempos modernos, apenas as máquinas têm falas; rádio, televisores, computadores, menos os seres humanos.

          Mas o Chaplin era esperto, ele sabia que o público babava por ouvir sua voz, então, de fato, como falei anteriormente, Carlitos era um personagem impossível de se imaginar falando, mas ele poderia cantar. Então no final do filme, Chaplin dá um “aperitivo” ao público e solta a voz em uma canção cantada em uma língua fictícia, um misto de vários dialetos e sotaques das línguas francesa, italiana e espanhola. E então, pela primeira vez, a voz de Charles Chaplin foi ouvida em um filme.

           No final dos anos 30, o cerco se fecha, o mundo inteiro já aderiu ao cinema sonoro, mesmo com seu talento e popularidade, Charles Chaplin não poderia, sozinho, enfrentar um sistema inteiro. Parecia inevitável que, em pouco tempo, ele se renderia ao cinema falado.

          Buster Keaton e Harold Lloyd – dois dos chamados “três gênios da comédia” falham na missão de cativar o público com suas comédias faladas. As carreiras de Keaton e Lloyd não sobreviveram à chegada do som, por que a de Chaplin então sobreviveria? Como um comediante essencialmente visual poderia realizar um filme sonoro e, ainda por cima, obter sucesso?

          Chaplin sabe. Ele cria um filme onde ele próprio interpretaria dois personagens: um deles, com características essencialmente mudas, que valorizasse as gags visuais e mímicas, e que ainda estivesse alinhado ao conceito de comédia muda; e o outro, um verdadeiro tagarela, este sim para satisfazer o anseio do público e da crítica em ouvir a voz do mais famoso comediante do mundo.

          É neste cenário que Charles Chaplin lança, em 1940, O grande ditador, cuja história tem início ainda na primeira guerra mundial. Um barbeiro judeu (interpretado por Chaplin) serve brava, porém ineficazmente ao exército da Tomânia (uma sátira à Alemanha). No final da guerra, o babeiro se fere gravemente e acaba por passar anos em um hospital, inconsciente. Enquanto isso, o ditador Hynkel (sátira a Adolf Hitler) domina a Tomânia com punhos de aço. Ao voltar para casa depois de anos, o barbeiro encontra um cenário devastador, dominado pelo regime de Hynkel.

          Chega a ser um interessante exercício analisar o filme de um ponto de vista técnico, onde reparamos na alternância entre as cenas dos dinâmicos discursos e diálogos de Hynkel, e as cenas coreografas e gestuais do barbeiro.

          De maneira brilhante, Chaplin faz uma surpreendente transição do cinema mudo clássico para o contemporâneo e tecnológico cinema falado, contra o qual ele relutou em aderir por mais de uma década. O grande ditador, quando lançado em 1940, lotou as salas de cinema e foi o maior sucesso de sua carreira.

          Depois de O grande ditador, Chaplin ainda realizou mais quatro filmes essencialmente falados, sendo dois deles brilhantes: Monsieur Verdoux e Luzes da ribalta, e dois deles não tão ilustres: Um rei em Nova York e A condessa de Hong Kong.

          Todos estes filmes tinham um formato consolidado de cinema falado. Vejam as observações que o cineasta francês Claude Chabrol fez sobre O grande ditador e Monsieur Verdoux: “Eu vi Monsieur Verdoux pela primeira vez na noite de estreia no cinema Gaumont Palace, o que me impressionou de verdade em relação aos filmes precedentes foi uma feitura que não tinha nada a ver com o cinema mudo. Mesmo se, revendo-o agora, percebo que não é exatamente verdade, mas ele tinha uma forma que era a do cinema falado que ainda não estava totalmente presente em O grande ditador, onde havia uma alternância entre cenas de discurso e cenas mudas, ao passo que aqui trata-se de um filme concebido como filme falado”.

          E mais, em nenhum de seus filmes pós O grande ditador, Chaplin trouxe o Carlitos de volta. Ou seja, seu personagem lendário deixou de existir a partir do momento em que ele falou. E com Monsieur Verdoux, Charles Chaplin abandonou definitivamente o figurino de Carlitos.

           Por conta de sua genialidade, habilidade, visão e sensibilidade, Chaplin se firmou como um dos mais importantes comediantes e diretores de cinema de todos os tempos, sendo decisivo para a popularização das comédias mudas e, também das faladas.


Texto de Vitor Grané Diniz

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O Conformista

Filme  de 1970 do diretor italiano Bernado Bertolucci, "O Conformista" é um romance político e psicológico que se passa na Iltália e França de 1938, durante o regime fascista de Benito Mussolini. 

Essa obra ilustra mais uma contribuição sobre a história do cinema de Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cinema" do Facebookcom o texto a seguir.




Com O Conformista (1970), Bernardo Bertolucci desenvolveu seu autêntico estilo: planos em movimento, ângulos complexos e peculiares, jogos de luz e sombras, ambientes ornamentados. Bertolucci fez parte de uma geração de cineastas italianos, que representou um período conhecido como “a era de ouro do cinema italiano”, além de Bertolucci se destacaram grandes realizadores como Fellini, Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini, Marco Bellocchio, Ermano Olmi, Ettore Scola, Francesco Rosi, os irmãos Taviani, dentre outros. O diretor gostava de se referir ao cinema como “a verdadeira linguagem poética”. Último tango em Paris foi a obra responsável por sua fama internacional, embora Bertolucci tenha realizado filmes notáveis ao longo de toda a sua carreira, como: 1900 (1976) O último imperador (1987), O céu que nos protege (1990), O pequeno Buda (1993) e Os sonhadores (2003).

Em O Conformista, Bertolucci trabalhou pela primeira vez com o diretor de fotografia Vitorio Storaro, com quem voltaria a trabalhar em mais sete oportunidades. Os principais temas em pauta entre o diretor e o diretor de fotografia eram as luzes, cores e composições. Bertolucci fazia questão de escolher as lentes, determinar os movimentos de câmera e estabelecer a relação entre a câmera e os personagens, mas de resto Storaro era livre para criar.

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Enredo do filme

Roma, Itália, ano de 1938. 

Marcello Clarici é um servidor público italiano de 33 anos de idade com diploma em Clássicos, de família tradicional, pertencente a uma aristocracia decadente.

Na sua infância  sofria com  frequentes importunações dos colegas de escola, e aos treze anos de idade passou por um evento traumático que marcaria toda a sua vida. 

O motorista da família, Pasqualino Semirama, mais conhecido como Lino, convida-o para seu quarto prometendo lhe dar de presente uma arma para se vingar dos colegas, e acaba por se revelar um abusador homossexual que se intitulava "Madame Buterfly". 

Ele tenta seduzir Marcello que sente uma atração por aquela figura que se parece tanto com uma mulher com os cabelos compridos mantidos presos sob o quepe, mas o garoto se defende com a arma de Lino, e acredita ter assassinado o rapaz.



Essa "sombra" em seu passado vai marcar todas as suas escolhas e afetá-lo profundamente.

Em busca do que ele pensa ser uma "normalidade", decide se casar com uma jovem fútil pequeno-burguesa da classe média, que ele considera "trivial e medíocre" e por quem não sente amor, mas seu relacionamento com ela se encaixa no padrão convencional de segurança e estabilidade, que é o que ele mais procura.

Ele acredita que esse "homem normal" deva apoiar o regime vigente, o fascimo. E por  isso ele se oferece para trabalhar voluntariamente para a OVRA - Organização para Vigilância e Repressão do Anti-fascismo.


Na Rádio:

Em Roma, ele conversa com seu amigo, Italo Montanary, um radialista cego que trabalha para os fascistas e que está intermediando um trabalho também para Marcelo com "o Coronel", que promete apresentá-lo a um ministro.

Ele conta ao amigo que vai se casar com Giulia pois pretende passar uma "impressão de normalidade, estabilidade e segurança". Conta também como seu pai teria conhecido o jovem e desconhecido Hitler quando ele ainda fazia seus discursos políticos em um Bierstube, dez anos atrás, em Monique.

No escritório do ministro:

Marcello vai até o escritório do tal ministro e se oferece para uma missão específica e voluntária: investigar um antigo professor comunista que está exilado em Paris, o professor Quadri. Ele pretende se aproximar do antigo mestre e tentar descobrir sua rede de contatos.

No encontro com Giulia:

Levando rosas amarelas para sua noiva Giulia, Marcello passa em frente ao Museu Ara Pacis.



No encontro com a noiva, ela diz que para o casamento ele precisa se confessar para poder receber a eucaristia na cerimônia, e ele diz que não acredita na religião ao que ela responde que noventa por cento das pessoas que vão à igreja não crêem de fato, nem sequer os padres. (niilismo / comunismo)

Marcello fala para Giulia que o local da lua-de-mel será uma surpesa.

A mãe de Giulia mostra uma carta anônima que elas receberam dizendo que ela não deve se casar com ele, pois o pai de Marcello está internado num manicômio com danos à sua saúde mental causados pela Sífilis. (como Nietzsche?)

Marcelo se dispõe a fazer os exame e diz que a doença de seu pai não é de origem venérea. Ele mantém  um flerte com a serviçal da casa de Giulia.


Na casa da mãe de Marcello:

Na casa de sua mãe, Marcello conhece seu companheiro de missão, o agente especial Manganiello. A casa é uma mansão decadente e precisando de cuidados. Ele vai buscar sua mãe, que está viciada em morfina e mantém o motorista Abeto como seu amante. Os dois devem visitar o pai que está internado em uma clínica psiquiátrica.

Manganiello, que espera do lado de fora da casa, diz que tem uma mensagem do Coronel. Diz  que houve uma pequena mudança nos planos: que no caminho para Paris, ele deverá parar em Ventimiglia, antes de cruzar a fronteira, e procurar por Raoul, um homem de confiança do Coronel.

Marcello conta a Manganiello que o motorista Abeto está fornecendo morfina para sua mãe e se aproveitando dela. Dá instruções para que o agente "resolva" essa situação. Abeto não é mais encontrado na casa.


Na clínica psiquiátrica:

Marcelo conta a seu pai que vai se casar e o questiona sobre quando também trabalhava na repressão do anti-fascismo. A lembrança dos atos do passado deixam seu pai perturbado e nervoso.







Na igreja durante a confissão:

Seguindo as exigências da igreja para o casamento, Marcello realiza sua confissão ao padre, dizendo que não se confessa desde sua primeira comunhão, ao que o padre comenta que ele vem vivendo como um animal desde então. Marcello confessa que cometeu todos os pecados, inclusive assassinato e relata o episódio com Lino. 

"Quero ser perdoado hoje pelo pecado que cometeri amanhã;" sobre o que está prestes a acontecer 








Despedida de solteiro com Ítalo e seus amigos cegos:








Marcello comemora sua despedida de solteiro com Italo e sua comunidade de cegos. Com ele tem um diálogo sobre o que é ser um homem normal e, pelas definições de seu amigo, conclui que um homem normal é na verdade um fascista.


Viagem para a lua-de-mel em Paris:

No trem para Paris Marcello recita uma estrofe do poema "La Pioggia Nel Pineto", de Gabriele D'Annunzio, poeta italiano:

Piove dalle nuvole sparse.
Piove su le tamerici salmastre ed arse,
piove sui pini scagliosi ed irti,
piove su i mirti divini,
su le ginestre fulgenti di fiori accolti,
su i ginepri folti di coccole aulenti,
piove su i nostri volti silvani,
piove su le nostre mani ignude,
su i nostri vestimenti leggeri,
su i freschi pensieri 
che l’anima schiude novella,
su la favola bella che ieri
t’illuse, che oggi m’illude,
o Ermione.


A Chuva no Pinheiral

Chove das nuvens disperas
Chove das tamargueiras ressecadas ao seu redor
O brilho do orvalho dos alegres pinheiros
E a chuva renovada sobre os mirtos
Chove nas suas mãos nuas
Em suas vestes tranparentes
Sobre os novos pensamentos que nossas almas revelam
E sobre a fábula que me iludiu ontem
E me ilude hoje
Hermione


Giulia parece entediada com o poema, e confessa um experiência que teve antes do casamento, com o advogado da família, que foi quem escreveu a carta.


Em Ventimiglia:

No caminho para Paris Marcello faz uma parada em Ventimiglia conforme as instruções recebidas.


O endereço fica em um bordel que funciona como disfarce para o escritório do agente Raoul. Lá ele vê uma prostituta com Manganillo com o mesmo rosto da mulher que estava no escritório do ministro e que também terá o mesmo rosto da esposa do professor Quadri, na mente já perturbada de Marcello.

No escritório de Raoul, cheio de castanhas, ele recebe uma contra-ordem para eliminar o professor Quadri, e não apenas investiga-lo como proposto inicialmente. Raoul lhe dá uma arma.







Em Paris:

Durante a lua de mel em Paris o casal se hospeda no Hotel Palais d'Orsay.  Marcello liga então para o  ex-professor de filosofia, que os alunos chamavam de "Smerdikoff" (Irmãos Karavasov?)

Por suas ideias anti-fascistas, ele havia recebido no passado uma punição com óleo de rícino, como era de costume nas práticas de tortura da época nos regimes nazista e fascista.

Marcello e Giulia vão à casa do professor e conhecem Anna, sua esposa e professora de balé. Ela demostra ter um certo interesse por Marcello mas principalmente por Giulia. 

Em conversa com Quadri, Marcello relembra a aula sobre o mito da caverna de Platão e suas sombras. 


Na saída Marcello beija Anna. Mais tarde, deixa Giulia na torre Eifel e vai até a escola de balé de Anna, onde propõe a ela que os dois fujam juntos para o Brasil, mas ela diz que sabe que ele é um espião e implora para que não faça nenhum mal a ela e seu marido.

Anna acompanha Giulia que vai comprar um vestido para um jantar combinado entre os dois casais. O grupo é sempre acompanhado à distância por Manganiello, que já percebe que Marcello está reticente em  executar sua missão.

Ao sair do hotel Marcello é abordado por uma vendedora de violetas muito simples que depois de fazer sua venda canta junto com os filhos a Internacional, hino comunista.

No hotel Giulia diz a Marcello que os Quadri os convidaram para visitá-los em Savoia nas montanhas. Que o professor irá no dia seguinte, antes, e depois Anna e o casal se juntariam a ele. Marcello concorda, já sabendo o que estava para acontecer.

Os dois casais vão ao um restaurante japonês e Quadri comenta com Marcello que sabe que ele é um fascista mas que tem esperança de que ele venha a mudar de ideia.

Após o jantar os quatro vão ao baile para dançar onde Anna e Giulia dançam tango. 

Ao nascer do dia, na cena inicial do filme, Marcello recebe então a ligação de seu comparsa dizendo que o professor já saiu de casa para Savoia mas que a esposa foi junto, o que deixa Marcello ainda mais nervoso. Eles marcam de se encontrar em frente ao hotel.




Ele pede para que Manganiello dirija mais rápido para eles conseguirem salvá-la, mas a pista está muito escorregadia por causa da neve. Ele quer muito poupar a vida de Anna mas Manganello diz que não será possível já que não pode haver testemunhas.

No carro, Marcello e seu companheiro conversam e ele se lembra de um poema do imperador romano Adriano, no século II d.C.:

"Anima vagula blandula
Hospes comesque corporis
Qua nunc abibis in loca
Pallida, rigida, nudulla
Nec, ut soles, dabis iocos..."

"Pequena alma terna flutuante,
Companheira e hóspede do corpo
Agora se prepara para descer a lugares
Pálidos, árduos, nus,
Onde não terás mais os devaneios costumeiros..."


No caminho eles vêm o carro dos Quadri e o seguem à distância. Anna percebe que estão sendo seguidos e são encurralados por um outro carro que vem na direção oposta. Durante esse parada, um grupo de homens sai do meio da floresta. Quadri sai do carro, tenta fugir mas é esfaqueado várias vezes pelo grupo, num ataque muito parecido ao que sofreu o romano Julio César no passado.

Anna observa tudo de dentro do carro paralisada de terror. Sai do carro junto com seu cão e corre para o carro de Marcello em busca de ajuda, mas esse a olha friamente, sem poder fazer nada por ela pois não tem coragem para enfrentar a organização para quem trabalha e todo o sistema a que serve. 

Anna corre desesperada pela floresta mas também é atingida pelos assassinos de seu marido e morre também.


De volta a Roma:

Muitos anos se passam, e agora Marcello tem uma filha com Giulia, e também a vida de um "homem normal" como ele sempre desejou. O noticiário anuncia a queda de Benitto Mussolini  e Marcello sai com Italo para ver de perto "como é a queda de uma ditadura".

No caminho ele escuta uma voz familiar, que jamais sairia de sua lembrança. Ninguem menos que Madame Butterfly. Lino não tinha morrido e está seduzindo um garoto de programa na rua. 

A constatação de ter acreditado ser uma assassino injustamente por toda a vida aflora em Marcello um sentimento de raiva e revolta, que se vira contra tudo o que representa o fascismo a começar por seu amigo Italo.

Marcelo olha para o rapaz de maneira enigmática, revelando o homossexualismo reprimido no fundo de sua alma.


Texto de Lizandra Soave

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Pearl Harbor / Conspiração Xangai

Na postagem de estreia desse espaço vamos falar dos 72 anos do ataque surpresa realizado pelo Japão à base naval norte-americana de Pearl Harbor, ocorrido em 7 de dezembro de 1941, marcando a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial.

Para isso vamos usar dois filmes: Pearl Harbor (2001)Conspiração Xangai (2010)





O primeiro é aquele típico filme de Hollywood, com romances açucarados e um nacionalismo exacerbado, mas é muito bem feito, com excelentes efeitos especiais e é um ótimo entretenimento. Mas o que importa mesmo é que ele retrata bem o contexto americano em relação à Segunda Guerra Mundial antes e depois do ataque, mostrando como ocorreu a investida japonesa.

Já o segundo filme, Conspiração Xangai, está ambientado na cidade que dá nome ao título, já invadida pelos japoneses, e se passa num período de poucos meses antes do ataque à base americana, quando havia um mistério em torno da localização da frota japonesa no Pacífico, que viria a promover o bombardeio.


Entendendo todo o contexto:

- O cenário era a Segunda Guerra Mundial.

- Os EUA não estavam na guerra e não queriam participar dela, mas sabiam que em algum momento isso seria inevitável.

1931 - Japão invade a Manchuria (hoje nordeste da China), acreditando estar liberando os chineses do colonialismo e porque precisava dos recursos naturais da região.

1937 - Japão invade Xangai e Nanquim, na China.

1940 - Presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, decide transferir a frota de navios americana da base naval de San Diego, na Califórnia, para a base naval de Pearl Harbor, no Havaí, acreditando que lá ela estaria mais protegida.

Presidente Franklin Roosevelt

20/09/1940 - Japão invade a Indochina Francesa, região que hoje compreende o Vietnã, o Laos e o Camboja.

27/09/1940 - Japão alia-se à Alemanha e à Itália, formando o bloco do Eixo.

- Japão possui forte dependência da importação de petróleo dos EUA.

- Após as invasões japonesas, os EUA congelam os bens japoneses em território americano e suspendem o fornecimento de petróleo, exigindo a sua saída imediata da Indochina. 

- Japão não cede às exigências americanas e declara guerra aos EUA.

- o Imperador Hirohito juntamente com o Primeiro Ministro Tojo e o Comandante Yamamoto, planeja o ataque minuciosamente, e os militares japoneses treinam exaustivamente a operação.

 Imperador Hirohito

 Comandante Yamamoto

Primeiro Ministro Tojo


Eles desenvolvem uma adaptação de madeira para os torpedos, uma espécie de barbatana, tornando-os mais eficazes em águas rasas, típicas em Pearl Harbor.

A intenção era atingir com um golpe certeiro o maior número de recursos bélicos americanos, atrasando assim a entrada do rival na guerra efetivamente.


07/12/1941 - Numa típica e tranquila manhã de domingo, dia em que normalmente havia mais navios atracados, o Japão ataca violentamente a base de Pearl Harbor, provocando severas perdas para a armada americana no Pacífico, despertando "o gigante adormecido", naquele que ficou conhecido como "o dia da infâmia".

No entanto, o Japão não consegue destruir os tanques de petróleo, as oficinas e os porta-aviões americanos que não estavam na base no dia do ataque, permitindo que os EUA pudessem se recuperar no ano seguinte. 

Os porta-aviões eram o ativo mais importante para ambos os lados na guerra do Pacífico.

08/12/1941 - O Presidente Roosevelt, com o apoio do povo americano e dos militares, declara guerra ao Japão. 

18/04/1942 - É posto em prática o Ataque Doolittle, articulado pelo Tenente-Coronel James H. Doolittle, o qual contou com 16 aviões B-25, com dois motores, que comportavam uma carga maior de bombas e que podiam ser lançados de porta aviões, porém não podiam estar equipados com muitas armas de defesa, para que seu peso fosse o mais reduzido possível. 

Tenente-Coronel Doolittle

Após intenso treinamento, os aviões finalmente realizaram os bombardeios sobre as áreas industriais, militares e locais de armazenamento de petróleo nas cidades de Tóquio e Nagoya, com a intenção de pousar na costa leste chinesa. 

Nem tudo saiu como esperado durante a conclusão da missão, mas esse ataque serviu para elevar o moral do povo americano e enfraquecer o oponente nas batalhas que viriam a seguir.


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