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Les Misérables


Digne, sul da França, 1815.

O ex-presidiário em liberdade condicional, Jean Valjean, procura um lugar para se abrigar após ter viajado a pé por quatro dias em direção à cidade de Pontarlier, depois de ter sido libertado da penitenciária Bagne de Toulon, onde passara 19 anos preso, submetido a trabalhos pesados e humilhações que lhe tiraram totalmente a dignidade, transformando-o em um "animal", conforme suas próprias palavras. 
 
Ele foi preso por ter sido pego roubando pão para matar sua fome e de sua irmã e sobrinhos,  num período de extrema carestia na França.
 
No caminho a Pontarlier ele é amparado pelo bispo da cidade de Digne, Sr. Myriel, que com sua bondade e compaixão lhe mostra um novo caminho e um recomeço. Nove aos depois desse encontro dos dois, a vida de Jean Valjean mudara completamente.

Usando um outro nome e com novos documentos, ele agora é um rico empresário e prefeito da pequena cidade de Montreuil, no norte da França, onde irá se deparar novamente com seu pior pesadelo: o Inspetor Javert, seu implacável perseguidor na prisão.
 
A história desses personagens fictícios, que se passa no período pós-napoleônico, está contada no filme Os Miseráveis (original: Les Misérables), de 1998, do diretor dinamarquês Bille August, baseado no livro homônimo do escritor francês Victor Hugo.


 
 
Mesmo tratando-se de uma ficção, a relevância histórica do filme se dá pelo período vivido pela França no início do século XVIII, entre o fim da era napoleônica (1815) até o dia do enterro do herói republicano Lamarque (1932), esse sim um personagem real, bem como pela própria figura do escritor do livro, Victor Hugo, e sua visão política e social da época.
 
Victor Hugo escreveu a obra durante o governo de Napoleão III, do qual falamos na postagem do filme Suez.
 
Jean Valjean, vivido pelo ator Liam Neeson, já em 1824, vivendo em Montreuil-sur-Mer com o nome de Madeleine, é um próspero e bondoso empresário, dono de uma fábrica onde trabalha a bela Fantine, vivida pela atriz Uma Thurman.
 
Fantine é mãe da menina Cosette (vivida pela atriz Claire Danes quando adulta), e, por ter sido abandonada pelo pai da menina, precisou entregar a criança para ser criada por uma família de caráter bastante questionável, para que pudesse trabalhar e mandar o dinheiro para o sustento da filha.
 
Após diversos eventos que fazem com que os caminhos de Valjean e Fantine se cruzem, ele se sente responsável por Cosette após a morte de mãe da menina. Assim, fugindo novamente de Javert, eles vão se refugiar em um convento em Paris.
 
Vários anos se passam, e Valjean, então com um terceiro nome, juntamente com Cosette, agora sua filha de criação, acaba se envolvendo com uma fracassada mas representativa rebelião anti-monarquista, durante o funeral de Lamarque, herói de várias guerras napoleônicas. 
 
Nesse período, 1832, a monarquia estava no poder novamente e o rei era Luís Filipe I, da dinastia Bourbon.
 
Sequência de governantes franceses de
Napoleão I a Napoleão III
 
 

Nós temos em casa o livro da imagem abaixo, em francês, só que esse eu ainda não tive tempo de ler. Ele está na lista dos próximos a serem lidos e então com certeza eu poderei trazer informações históricas bem mais ricas.
 

 
Outro filme que conta essa mesma história é o musical também chamado Les Misérables, de 2012, do diretor inglês Tom Hooper. Ele recebeu ótimas críticas e foi indicado a 8 Oscars, dos quais recebeu 3, além de vários outros prêmios.


Eu, particularmente, não gosto muito de musicais e achei o filme de 1998 mais interessante, mas é apenas uma questão de gosto, pois ambos os filmes são ótimos.

Uma coisa que me chamou a atenção nesse musical foi a explícita aparição do "olho que tudo vê", que é símbolo da ordem Iluminatti.

 
 
 

Não pretendo falar dessa ordem nesse momento, mas, apesar desse símbolo aparecer constantemente em filmes de maneira subliminar, e várias teorias ocultas serem atribuídas a ele a respeito do estabelecimento de uma "nova ordem mundial", acho possível que tenha aparecido nesse filme pelo fato da ordem ter sido criada durante o período do Iluminismo.




Suez

Paris, 1850.
 
O jovem diplomata francês Ferdinand de Lesseps joga uma partida de tênis e sua bela namorada, a condessa espanhola Eugene de Montijo, assiste ao jogo entusiasmada. A beleza de Eugene chama a atenção do então presidente da república da França, Luís Napoleão, que convida o casal para uma recepção em sua casa.
 
Luís Napoleão era sobrinho de Napoleão Bonaparte. Para afastar Lesseps de Eugene, ele nomeia o rival para assumir um cargo diplomático no Egito, e começa a cortejar a condessa, que corresponde ao flerte e termina tudo com Lesseps.
 
Desiludido com o fim do romance, Lesseps segue para o Cairo, e lá decide por em prática o antigo projeto francês de construir o Canal de Suez, que ligaria o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, permitindo que os navios navegassem da Europa até a Ásia, sem ter que contornar a África pelo Cabo da Boa Esperança.
 
A história da construção do canal em meio a esse triângulo amoroso está contada em preto e branco no filme Suez, de 1938, do diretor canadense Allan Dwan.



 
O sonho de reconstruir o canal (que já havia existido na antiguidade), vinha desde a época de Napoleão Bonaparte, durante sua expedição ao Egito. Para que Lesseps pudesse coloca-lo em prática, ele precisaria do apoio da França, dos turcos e dos ingleses.
 
 
Conde Ferdinand de Lesseps
Diplomata e Empreendedor
 
O Egito na época estava sob o domínio do Império Turco Otomano, cuja sede ficava em Constantinopla. O governador (ou vice-rei) e representante do sultão era Mehmed Ali, considerado fundador do Egito moderno. Mas ele via algumas dificuldades em conciliar  todos os interesses para a empreitada, já que os turcos tinham os ingleses como credores.
 
O quarto filho de Mehmed, príncipe Said Pasha, tornou-se amigo de Lesseps, e, com a morte do pai, ele passou a ser o governador, em 1854, oferecendo total apoio ao projeto de construção do canal.
 
Em 1851, o presidente Luís Napoleão, que havia se casado com Eugene, deu um golpe de estado dissolvendo a Assembleia Nacional Francesa, e,  seguindo os passos de seu tio, tornou-se o imperador Napoleão III.  De acordo com o filme, para se tornar imperador, Luís Napoleão precisava da ajuda e da influência de Lesseps, o que conseguiu manipulando Eugene.
 
Imperador Napoleão III

Imperatriz Eugene de Montijo
 
 

Lesseps, ao perceber que havia sido enganado e considerado um traidor da república, ficou muito deprimido, mas acabou por aceitar a oferta de apoio do imperador para iniciar os trabalhos de construção do canal no Egito.
 
Por parte da Inglaterra, o primeiro ministro da época, Conde  Derby, era contra a construção do canal. No entanto, o líder da oposição Benjamin Disraeli, ficou ao lado de Lesseps, e prometeu ajuda-lo caso vencesse as eleições no parlamento inglês, o que acabou acontecendo em 1852.
 
Desse modo, Lesseps finalmente conseguiu obter o apoio de todas as partes interessadas, e pôde concretizar o empreendimento de sua vida, não sem duros percalços e sabotagens.
 
Finalmente, em 1869, o canal com 195 km ligando o Porto Said no Mar Mediterrâneo ao Porto de Suez, no Mar Vermelho, foi inaugurado em uma cerimônia onde a imperatriz Eugene representou seu marido, Napoleão III, que não estava presente por motivos de saúde.
 
 
Percurso do Canal de Suez
   

Rotas marítimas antes e depois
da construção do Canal de Suez
 
 
Canal de Suez
 
 
 Já falamos sobre os interesses sobre o canal na postagem do filme Lawrence da Arábia.
 
 
 
Um contemporâneo de Napoleão III foi o escritor Victor Hugo, opositor do então imperador. Ele aparece no filme escrevendo sua obra Os Miseráveis, a qual também virou um filme já postado aqui no blog.
 
Victor Hugo