2019 - Blade Runner - O Caçador de Androides

 "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?" (Do Androids Dream of Electric Sheep?" - Esse é o inusitado título do livro de ficção científica escrito em 1968 pelo escritor americano Philip K. Dick, e que serviu de inspiração para o filme Blade Runner - O Caçador de Androides, de 1982, do diretor britânico Ridley Scott.



O Livro





Philip K. Dick tinha então 40 anos quando o livro foi lançado, em 1968, em meio ao contexto da Guerra Fria. 

A história se passa num futuro distópico, altamente tecnológico, no ano de 1992, após uma guerra nuclear, a "Guerra Mundial Terminus", ou GMT, que deixou o planeta com condições muito precárias para qualquer forma de vida, devido à poeira radioativa que predominava na maior parte do planeta, impedindo o sol de brilhar sobre a Terra. 

1.  Colônias: Os humanos já haviam colonizado outros planetas, principalmente Marte, para onde grande parte da população remanescente da Terra foi incentivada a migrar após a guerra. A colônia se chamava Nova América e havia a cidade de Nova Nova York. Além das colônias, as pessoas também passaram muitos anos em naves como Salander 3 e Proxima.

Em algumas cidades litorâneas, na costa oeste dos Estados Unidos, a poeira estava mais branda devido aos ventos, permitindo que pequenos aglomerados de pessoas pudessem viver com as devidas adaptações. A história se passa na cidade de San Francisco, no norte da Califórnia.

2. Habitantes da Terra: Permaneceram na Terra basicamente dois tipos de pessoas: os Normais e os Especiais

Os Normais eram pessoas mais jovens, saudáveis e intelectualmente capacitadas, que optaram por ficar na Terra, mas que poderiam emigrar caso quisessem. Para sair de casa os homens precisavam usar um protetor genital de aço, para preservar a possibilidade de gerar filhos. Além disso, precisavam se submeter a exames médicos mensais para avaliação de sua saúde. Permanecer na Terra, exposto à radioatividade, era uma ameaça à hereditariedade da raça.

Já os Especiais eram pessoas que tinham algum tipo de limitação física ou intelectual, pessoas mais velhas ou que tiveram algum tipo de sequela devido à radioatividade. Ou seja, que não poderiam contribuir com a perpetuação da espécie. Os mais limitados intelectualmente eram chamados de "cabeça de galinha" ou "cabeça de formiga", e trabalhavam em sub empregos.


3. Religião: As pessoas seguiam uma religião chamada de Mercerismo, onde o líder, Wilbur Mercer, pregava a "empatia" como maior valor a ser almejado pelo ser humano, ou seja, a maior virtude que diferenciava um humano de outros seres. Havia um dispositivo chamado "Caixa de Empatia", onde a pessoa poderia ter, por realidade virtual, uma comunhão com Mercer, uma "fusão", em que a pessoa passava pelo "calvário" que Mercer passou, descendo ao "mundo tumular" e retornando dele, e com isso compartilhava as emoções com outras pessoas que estivessem conectadas a essa caixa no mesmo momento. A religião era muito parecida com o Cristianismo e era muito combatida pela mídia.

4. Mídia:  era composta por apenas um canal transmitido a partir de Marte, que passava o mesmo programa 23 horas por dia: o "Buster Gente Fina e Seus Amigos Gente Boa", que intercalava programas de entrevistas com conteúdo escapista e previsão meteorológica, informando sobre a previsão de precipitação radioativa obtida pelo satélite Mongoose. O Buster era o maior rival de Mercer.

5. Animais: após a GMT a maior parte das espécies de animais entrou em extinção, a começar pelas corujas. Os poucos exemplares que resistiram passaram a ser o maior objeto de cobiça das pessoas e um sinal de status social, já que custavam caríssimo. O preços eram tabelados pelo catálogo de uma loja especializada e possuir um animal de verdade era o sonho de consumo e até mesmo de vida das pessoas na Terra. Era mesmo como ter um filho, e cuidar de um animal era a maior demonstração de empatia que alguém poderia apresentar.

Aqueles que não podiam pagar por um animal de verdade optavam por ter réplicas elétricas, muito semelhantes às versões verdadeiras, até mesmo com doenças semelhantes às naturais, para que ninguém desconfiasse que se tratava de um robô, o que seria uma desonra e vergonha para a família. Por isso, até as empresas de manutenção dessas máquinas se disfarçavam de clínicas veterinárias e seus técnicos usavam roupa branca.

6. Tecnologia: além de carros voadores, os hovercars, existia um aparelho chamado "Sintetizador de Ânimo Penfield". Ele emitia ondas que interferiam no funcionamento do cérebro e alteravam o estado de humor da pessoa dependendo da frequência da onda escolhida, com as opções de Supressor Talâmico, que anulava o sentimento de raiva, por exemplo, e Estimulador Talâmico, que deixava a  pessoa mais irritada e agressiva. Cada pessoa possuía o seu dispositivo e programava a frequência conforme a sua necessidade (criatividade, produtividade, positividade, gratidão, etc).

7. Androides: Havia sido criada uma arma de guerra chamada "Guerreiro Sintético da Liberdade": tratava-se de robôs humanoides sintéticos, os androides (ou andys), que serviriam para explorar as colônias e trabalhar para os humanos. As pessoas que emigravam para as colônias recebiam um andy como incentivo à colonização. Existiam os mais variados modelos e versões de androides, fabricados por diversas companhias do setor privado, assim como veículos.

Os androides mais avançados eram muito similares aos humanos e a diferença só poderia ser confirmada através de um teste de empatia  (fictício) chamado "Teste Voigt-Kampff", que media a dilatação capilar na face, a condutividade da pele, a respiração, a frequência cardíaca e a tensão dos músculos oculares. Um teste de medula óssea também era feito para a confirmação, mas já era bem mais invasivo.

Esse teste era inspirado no real Teste de Turing, criado em 1950 por Alan Turing, e que avalia a capacidade de uma máquina de se comportar como um ser humano. Ele é aplicado hoje em dia nas Inteligências Artificiais.

Os androides tinham uma vida útil breve, em torno de 4 anos, pois não havia sido resolvido o problema de renovação celular. Não era permitida a presença de androides na Terra, a menos que o proprietário tivesse uma licença. Pousos de naves não autorizados também eram monitorados pela polícia.

Devido a um histórico de problemas envolvendo androides que se rebelavam contra seus donos, e se mostravam extremamente perigosos justamente devido à falta de empatia, surgiu uma categoria de profissionais que prestava serviço para a polícia oficial. Eram mercenários que caçavam essas criaturas e ganhavam muito bem para isso: em torno de mil dólares por androide "aposentado", ou seja morto. Recebiam também uma verba mensal da polícia para subsistência. Eram conhecidos como blade runners, ou caçadores de androides. 

8. Associação Rosen: empresa privada, da cidade de Seattle,  fabricante de androides do modelo Nexus-6, os mais modernos. Era presidida pelo fundador, o milionário Eldon Rosen, com ajuda de sua bela sobrinha, Rachel Rosen, de 18 anos de idade, e que havia passados 14 anos de sua vida à bordo da nave Salander 3, o que justificada a sua aparente inabilidade no convívio com outras pessoas. 

No entanto, Rachel era também uma androide na qual foram implantadas lembranças falsas em sua memória, sendo assim, ela mesma desconhecia sua real condição, acreditando ser uma humana.

9. Rebelião em Marte: alguns androides do modelo Nexus-6, começaram a desenvolver consciência e passaram a se revoltar contra as condições de escravidão com que eram tratados nas colônias. Um grupo de 8 androides, liderados pelo androide farmacêutico  Roy Baty, chega ilegalmente à Terra. Dois deles já tinham sido "aposentados" por um caçador veterano. Restavam 6 androides que estavam à solta, disfarçados e convivendo normalmente com a população. Eram eles:

- Roy Baty: farmacêutico em Marte

- Irmgard Baty: esposa de Roy, lidava com produtos de beleza

- Pris Stratton: uma jovem do mesmo modelo de Rachel Rosen

- Max Polokov: um caçador de androides afiliado à polícia soviética WPO (similar à KGB)

- Luba Luft: cantora de ópera, que atua na apresentação de "A Flauta Mágica", de Mozart

- Garland: chefe de polícia

10. Personagens principais e enredo: O caçador de androides Rich Deckard vivia com sua esposa Iran, que o criticava por ter essa profissão. Ela tinha uma personalidade melancólica e às vezes programava seu Sintetizador de Ânimo na frequencia de Depressão Auto Acusatória para poder sentir a desilusão pelo ensurdecedor silêncio dos apartamentos vazios, abandonados às pressas pelas pessoas na Terra.

Eles tinham uma ovelha elétrica e Rick se envergonhava muito por não poder ter novamente um animal de verdade. Esse era o seu maior sonho. Quando recebeu a missão de aposentar os seis androides restantes, viu como oportunidade de finalmente realizar esse desejo. 

Mas antes de começar seu trabalho, e ele é orientado a procurar a Associação Rosen para se atualizar sobre o comportamento do modelo Nexus-6 e validar a eficiência do teste Voigt-Kampff, evitando assim que algum humano pudesse vir a ser morto por engano.

Ele vai até Seattle e fica conhecendo Rachel, que se oferece para se submeter ao teste, já que ela julgava ser uma mulher humana. A intenção de seu tio, Eldon Rosen, era a de desacreditar o teste, o que abalaria as estruturas do sistema policial, tendo assim o caçador Rick Deckard em suas mãos. O que quase chega a ocorrer, mas em uma derradeira pergunta, Rick descobre que Rachel é na verdade uma androide e inverte a situação e deixa a moça completamente abalada.

Rachel causa uma sensação estranha em Rick, e ele realmente não consegue entender ou lidar com aquelas emoções. Começa a sentir empatia pela androide, o que o confunde. Ela aparentemente também demonstra ter sentimentos por ele, e o ajuda com informações sobre o comportamento desse modelo de androides.

Assim começa a caçada pelos androides, onde os sentimentos conflitantes só aumentam.

Enquanto isso, o solitário John Isidore, um "cabeça de galinha" e fervoroso devoto do Mercerismo que morava em um prédio abandonado no subúrbio segue sua vida pacata trabalhando como motorista em uma empresa de manutenção de animais elétricos. Até que é surpreendido com barulhos em seu prédio, onde vivia totalmente solitário. Animado com a chegada de novos moradores, vai até o apartamento de onde vieram os ruídos para se apresentar e oferecer as boas vindas aos vizinhos.

Ali então ele conhece a androide Pris Stratton, por quem se encanta e oferece seus préstimos ingenuamente, o que irá atrair para seu prédio o casal Roy e Irmgard Baty.

Os caminhos de Deckard e Isidore irão se cruzar e o sentimento de empatia que nutrem pelos androides, bem como as experiências místicas com Mercer, serão algo transformador na vida de ambos.


11. Curiosidades:

O autor faz uso da impressão gerada pela obra do pintor norueguês Edvard Munch, "O Grito", de 1893, para expressar como provavelmente um androide deveria se sentir.

 

O Grito, de Edvard Munch - 1983



Uma analogia interessante feita pelo personagem John Isidore sobre o acúmulo de objetos e tranqueiras, deixado pelas pessoas em seus apartamentos, que ele chama de "bagulho", é o poder que ele tem de multiplicar e impedir que a ordem, a limpeza e organização possam se impor. Essa entropia gerada pela "bagulhificação" teria a Primeira Lei do Bagulho: "Bagulho expulsa o não bagulho." - como a lei de Gresham sobre o dinheiro ruim ("o dinheiro ruim expulsa o bom dinheiro da circulação.").

 

O Filme

Em estilo Cyberpunk Neo Noir, e trazendo o ator Harisson Ford no papel do solitário e aposentado Rick Deckard, a história agora se passa no ano de 2019, na cidade de Los Angeles, onde a poeira é substituída por uma permanente chuva radioativa, o que dá uma atmosfera escura e sombria à fotografia do filme.

A empresa criadora dos androides Nexus-6, chamados de "replicantes", é a Tyrlell Corporation, com sua sede em uma enorme edificação em forma de zigurate (templo sumério) e uma coruja em seu logotipo. Aliás a coruja, presente no livro, também aparece no filme.


A casa de Rick Deckard também é um ícone da arquitetura, aparecendo em vários outros filmes, omo 13th Floor. É a Ennis House, do arquiteto Frank Lloyd Wright. 




Contra sua vontade, Deckard se vê forçado a capturar quatro androides que, assim como no livro, chegaram clandestinamente à Terra, agora com o objetivo de pressionar seu criador, Eldon Tyrell, a ampliar a longevidade de sua breve existência. São eles:

- Roy Batty (Rutger Hauer)

- Pris (Daryl Hanna)

- Leon

- Zhora Salome (no filme uma dançarina stripper e não uma cantora de ópera)

No lugar de John Isidore, temos agora J. F. Sebastian, um engenheiro genético, funcionário da empresa Tyrell, e que também irá se solidarizar com a situação de Pris e Roy.

No filme, o tema da "humanidade" é abordado de forma ainda mais profunda e filosófica, trazendo o questionamento sobre o que é ser humano de fato, pois em algumas situações os androides são "mais humanos que os humanos", deixando um enigma indecifrável quanto à verdadeira origem do próprio Rick Deckard, se ele é realmente humano ou se é também um replicante com memórias implantadas.

O envolvimento de Rick Deckard com a androide Rachael Tyrell também se dá com maior intensidade no filme, e a consequência do relacionamento deles será o tema da continuação: Blade Runner 2049, lançado em 2017, do diretor canadense Denis Villeneuve. 


A Continuação

O filme, um grande sucesso assim como primeiro, traz o excelente ator Ryan Gosling no papel de um solitário androide mais evoluído, mas que também é um caçador de androides rebeldes, e que passa por uma crise existencial, principalmente após descobrir que sua origem possui profundas ligações com um milagre envolvendo a lenda Rick Deckard.











2018 - Aniquilação (Annihilation)

Três anos antes dos acontecimentos narrados, um meteoro tinha atingido a terra na costa americana, mais precisamente em um farol abandonado no Parque Nacional Blackwater. 

No local começaram a aparecer eventos estranhos e a área atingida foi cercada por uma luz densa, fluida e furta-cor, chamada de "o brilho" (The Shimmer). Essa área começou a se expandir, engolindo povoados vizinhos e até mesmo uma base militar que havia sido montada pelas autoridades nas proximidades para estudarem o fenômeno. O local foi chamado de "Área X".

Esse é o cenário do filme "Aniquilação" (Annihilation), de 2018, do diretor britânico Alex Garland, o mesmo de "Ex Máquina".



 Os habitantes da região foram evacuados, transferidos de suas casas para outros locais sob a justificativa de contaminação química. Todas as expedições militares, equipamentos e até mesmo animais mandados para dentro da Área X nunca retornavam ou conseguiam transmitir sinais de comunicação.

Até que um agente da última expedição, o sargento Kane (Oscar Isaac), aparece em sua própria casa onde sua amada esposa, a bióloga e ex-militar Lena (Natalie Portman) vive um luto há um ano sem notícias do marido e sem esperanças de seu retorno.

Muito feliz pela volta de Kane mas ainda perplexa pelo comportamento estranho e falta de respostas do marido sobre seu paradeiro no último ano, Lena percebe que algo não está certo e Kane começa a ter uma forte crise de saúde. 

Ao chamar por socorro e despertar a atenção das autoridades, o casal é sequestrado pelos militares e levado para a Área X, para que Kane possa ser tratado e avaliado e onde Lena então é colocada a par de toda a situação.






Mahabharata

Esse filme e peça teatral do diretor inglês Peter Brook, de 1990, traz a história ancestral contada no poema épico hindu Mahabharata, que possui mais de 100 mil versos em sânscrito e que trata de sentimentos e verdades universais, apresentando as fragilidades e as mais altas aspirações humanas, envolvendo romance, intrigas políticas e artes marciais, onde participam deuses, demônios, sábios, reis e  heróis, dentro do plano cósmico de Krisha, o ser supremo.



A história narra o conflito entre os clãs de primos Pândavas, de origem divida e filhos do rei Pandu, e Káuravas, ou Kurus, filhos do rei cego Dritarastra, irmão de Pandu, que ocorre no reino de Hastinapura.

Traz a dualidade entre o egoísmo, engano, desonra e ateísmo contra virtudes como o altruísmo, honra, verdade e fé.

Faz parte desse épico o famoso livro "Bhagavad Gita".


1. Adi Parva - O Livro do Início


Anukramani Parva

Nesse sub-capítulo Ugrasrava Sauti, após uma longa viagem, chega em um local onde moravam alguns Munis, sábios de votos rígidos, na floresta de Naimisha. Depois de se recompor, descansar e se alimentar, os sábios quiseram ouvir as extraordinárias histórias que o hóspede tinha para contar. Sauti então começa a narrar a história composta por Krishna-Dwaipayana Vyasa, o Mahabharata.
 

2. Sabha Parva - O Livro da Sala de Reunião


3. Vana Parva - O Livro da Floresta


4. Virata Parva - O Livro de Virata


5. Udyoga Parva - O Livro do Esforço


6. Bishma Parva - O Livro de Bishma


7. Drona Parva - O Livro de Drona


8. Karna Parva - O Livro de Karna


9. Shalya Parva - O Livro de Shalya


10. Sauptika Parva - O Livro dos Guerreiros Adormecidos


11. Stri Parva - O Livro da Mulher


12. Shanti Parva - O Livro da Paz


13. Anushasana Parva - O Livro das Instruções


14. Ashvamedhika Parva - O Livro do Sacrifício do Cavalo


15. Ashramavasika Parva - O Livro do Eremitério


16. Mausala Parva - O Livro dos Clubes


17. Mahaprasthanika  Parva - O Livro da Grande Jornada


18. Svargarohana Parva - O Livro da Subida ao Paraíso


Harivamsa Parva - O Livro a Genealogia de Hari





Freud, Além da Alma

 

Filme de 1962, do diretor americano John Huston, com participação no roteiro de Jean-Paul Sartre, traz o ator Montgomery Clift no papel do neurologista e psiquiatra austríaco, precursor da psicanálise, Sigmund Freud (856 - 1939 - 83 anos).




A história se passa em Viena, na Áustria, entre os anos de 1885 e 1890, quando o jovem Freud de 29 anos, está começando sua vida como médico neurologista recém formado.

Apaixonado por sua noiva Martha Bernays, logo vem a se casar para constituir com ela uma família, podendo ter pela frente um futuro promissor.

Porém, ao iniciar os trabalhos ao lado de outros médicos renomados, como Theodor Hermann Meynert, seu professor, nota que alguns casos são desprezados por ele e por outros médicos. Em suas visitas aos pacientes, Meynert rejeitava o tratamento aos casos de histeria feminina, que na época eram considerados encenações de mulheres sedutoras e dissimuladas ou ainda algum tipo de possessão.

Freud no entanto tomou a corajosa decisão de contrariar seus mestres e as convenções estabelecidas,  e decidiu investigar mais a fundo tais casos de histeria, valendo-se inicialmente de técnicas de sugestão hipnótica, também desenvolvida na época pelo médico francês Jean-Martin Charcot.

Ao lado de seu grande amigo e mentor, o fisiologista Josef Breuer, começou a aceitar os casos de histeria e juntos desenvolveram o Método Catártico, ou seja, o tratamento pela Catárse para superação de traumas.

Breuer tratava especificamente uma paciente que recebeu o codinome de Anna O. No filme ela está representada pela bela e jovem personagem Cecily Koertner, vivida pela atriz inglesa Susannah York

O médico avançou com a paciente até certo ponto em seu tratamento, mas devido ao ciúmes que sua esposa Matilde tinha das investidas da transtornada paciente para com seu marido, Breuer preferiu passar o caso exclusivamente para Freud, que evoluiu ainda mais no método, explorando mais a fundo as origens mais remotas dos traumas que impediam que Cecily levasse uma vida normal.

Porém, as descobertas de Freud eram perturbadoras demais para serem aceitas pelos cientistas da época. Tendo encontrado a fonte dos traumas em sentimentos reprimidos, principalmente no campo da libido e da sexualidade.

Freud defendia que tais emoções iniciavam na mente inconsciente desde o nascimento ou na mais tenra infância, o que chocou os outros médicos e nem mesmo Breuer pôde ficar a seu lado na defesa dessa tese.

O filme mostra como a teoria de Freud está entre as maiores descobertas que revolucionaram o conhecimento do homem sobre a ciência:

- o Heliocentrismo, de Nicolau Copérnico, que tirou a Terra do centro do Universo e mostrou que ela é mais um dos planetas que giram em torno do Sol, em meio a outros infindáveis sistemas,

- o Evolucionismo, de Charles Darwin, que coloca o homem no reino Animal,

- e a Psicanálise, de Sigmund Freud, que divide a mente entre o Consciente e o Inconsciente.


Mito Olímpico da Criação e Sucessão

De acordo com o poema Teogonia, de autoria do aedo ou poeta grego Hesíodo, que teria vivido aproximadamente em 700 a. C., no início havia apenas o Caos e dele surgiu Gaia, a Mãe Terra





Gaia

Outros seres primordiais também surgiram do Caos: 

- o Tártaro, nas profundezas da Terra

Tártaro

- Eros, o Amor e o mais belo dos imortais,

Eros

- Érebo, a mais profunda Escuridão,

Érebo

- e Nix, a Noite, que vai se unir a Érebo e gerar vários outros seres.

Nix

Gaia gerou Urano, o Firmamento, a quem se uniu para produzir filhos, seres ainda primitivos e brutais como:

-  os três inomináveis Hecatônquiros Giges, Briareu e Coto, 

- os três Ciclopes de um só olho Brontes, Estérope e Argés, 

- os seis Titãs, Oceano, Crio, Hiperion, Jápeto, Ceos e Cronos

- e a seis Titânides Réia, Téia, Tétis, Têmis, Mnemosine e Febe.


Urano

O Destronamento de Urano


Conforme os filhos de Gaia iam nascendo, Urano os empurrava de volta para o ventre da mãe, ou seja, para as entranhas da Terra, e, por receio de ser vencido para seres tão fortes e violentos, não deixava que as criaturas viessem para a luz do dia.

Gaia, desconfortável com aquela situação, com todos aqueles filhos em seu ventre, forjou uma foice, um podão de metal, e perguntou qual de seus filhos teria coragem de enfrentar o poderoso Urano. Cronos, o mais jovem, se apresentou. Ela o colocou de tocaia, e quando seu pai Urano veio a procura de Gaia, o titã decepou seu membro e o jogou a esmo para trás.

Das gotículas de sangue que salpicaram a terra surgiram as poderosas Erínias e os enormes Gigantes, além das ninfas chamada Melíades.

O pênis de Urano caiu sobre o agitado Pontos, o mar, e o poderoso esperma que saiu dele uniu-se com a espuma das ondas e dessa espuma nasceu Afrodite, a deusa mais bela e sensual. 

Dessa forma Urano foi destronado e todas aquelas criaturas finalmente vieram ao mundo, representadas pelas violentas forças da natureza que vigoravam sobre a Terra no início dos tempos: tempestades, furacões, terremotos... agora sob o domínio de Cronos.




Der Fliegende Holländer - O Holandês Voador

O "Holandês Voador" ou "Holandês Errante" (Der Fliegende Holländer) foi a primeira ópera com música e libreto escritos pelo compositor alemão Richard Wagner pertencente ao Canon de Bayreuth, um catálogo formado pelas dez óperas compostas na "fase madura" artista.

Traz como tema principal a redenção através do amor, além de elementos constantes na obra wagneriana como maldição e anseio de redenção. Estreou em 1843 na cidade alemã de Dresde.

A história se passa na costa da Noruega, onde o Capitão Daland e a tripulação de seu barco estão quase chegando ao seu destino, retornando à terra natal, quando enfrentam fortes ventos que os tiram de sua rota, afastando-os por sete milhas da segurança do porto. 



Primeiro Ato


Os marinheiros jogam a âncora próximo a um rochedo para que o capitão possa ir à terra firme e indentificar a localização exata, enquanto a embarcação fica sob cuidados do timoneiro. Daland  vê ao longe a baia de Sandwike, onde fica sua casa, em que mora com sua filha, a jovem bela e romântica Senta e seus empregados.

Como já estiveram alertas por bastante tempo, o capitão recomenda que todos descansem até que a tormenta, que já está mais amena, acabe de vez e eles possam então seguir viagem. Todos vão dormir e o timoneiro fica de vigia mas acaba adormecendo também.

Nesse momento um outro barco se aproxima silenciosamente, com suas velas vermelhas. Trata-se do  mitológico navio "Holandês Voador" ou "Holandês Errante".

Segundo a lenda, há mais de cem anos, em 1680, o capitão Hendrick van der Decken, também conhecido como "O Holandês", estava voltando para a sua terra natal com seus marinheiros com seu barco carregado de especiarias, trazidas das colônias nas Índias Holandesas. Quando estavam passando pelo Cabo da Boa Esperança (ou Cabo das Tormentas) na África do Sul, enfrentaram uma forte tormenta. A tripulação achou melhor esperar por melhores condições de navegação, mas o capitão estava ansioso por regressar à casa e decidiu enfrentar o mar violento, mesmo com a revolta dos marinheiros, dizendo que atravessaria o cabo nem que fosse até o dia do juízo final.

Sua blasfêmia foi atendida por forças sobrenaturais e tanto o capitão como a tripulação foram condenados a navegar pela enternidade, sem poder atracar em terra firme. Apenas uma única concessão foi dada ao amaldiçoado navio, e conseguida através da intervenção de um anjo de Deus: a cada sete anos ele poderia parar em um porto e só o amor e a fidelidade de uma mulher poderia redimir o capitão de seu terrível destino. O malígno ser aceitou conceder essa chance, já que não acreditava mesmo na fidelidade feminina.

"seu navio sem âncora e seu coração sem esperança"

Era chegado o tempo, ao fim de sete anos e seu barco poderia finalmente atracar seu barco cheio de tesouros, que foi retirando das profundezas dos oceanos por todos esses anos. 

O capitão Daland acorda e se espanta ao ver aquele navio ao lado do seu. Dá uma bronca no timoneiro que não continuava dormindo. Os dois então tentam fazer contato com o capitão do barco misterioso e van der Decken se apresenta dizendo que vem de muito longe, está exilado de sua terra natal e solicita hospitalidade na casa de Daland em troca de um generoso pagamento com parte do incontável tesouro de que dispõe em seu barco. O ambicioso capitão Daland de imediato concorda e recebê-lo em sua propriedade. 

O holandês lamenta que de nada lhe serve o tesouro, já que não tem nem esposa nem filho e que jamais terá um lar. Daland lhe conta que tem uma bela filha e van der Decken a pede logo em casamento em troca de mais joias. Eles combinam de partir para a casa de Daland assim que o vento sul for favorável e o holandês pede a Daland que vá na frente e que em breve irá alcançá-lo.


Segundo Ato - 00:46:00

Na casa de Daland, equanto as mulheres trabalham no tear e esperam por seus companheiros, que partiram no navio para o sul em busca de fortunas, a jovem Senta observa pensativa um velho retrato de um certo capitão, da época de sua avó, e que vem a ser justamente Hendrick van der Decken. Aquela imagem a deixa muito impressionada. Sua governanta Mary havia lhe contado a história daquela pobre alma, daquele homem pálido, por quem Senta tinha grande compaixão.

As outras mulheres riem de Senta, por estar apaixonada pelo fantasma do retrato, e dizem que isso poderia desagradar a Erik, o caçador com quem Senta tem um namorico sem importância, mas que é apaixonado por ela. Senta pede que Mary cante para as outra mulheres a Balada do Holandês Errante, ao que Mary se recusa e decide ela mesma contar a história.


Após os relatos de Senta, as outras mulheres se compadecm com a desgraçada história do Holandês e clamam para que o anjo de Deus lhe mostre essa valorosa mulher para que ele possa encontrar sua redenção. Motivada por essa forte emoção, Senta assume o propósito de ser essa mulher se um dia tiver a oportunidade de encontrar o pálido capitão.

Chega então Erik, o caçador, dizendo que o navio de seu pai está se aproximando e todas as mulheres se apressam para preparar um banquete para receber os marinheiros, cozinhando e arrumando a casa cheias de entusiasmo.

Erik então pede autorização a Senta para pedir a seu pai a sua mão em casamento, propondo-lhe uma vida confortável e estável, além de seu amor. Mas Senta está dividida, na realidade já está decidida a esperar pelo Holandês. O caçador já reconhece nela os sinais de que está enfeitiçada pela imagem daquele quadro e pela desafortunada sina daquela pobre alma. Ele já havia tido um sonho premonitório, no qual o pálido marinheiro chegava ao lado do pai de Senta e ela partia com ele a vagar pelos mares. Muito triste, Erik parte, deixando Senta aflita e pensativa.

Quando, de repente, vê na porta de entrada de sua sala, aquela figura em pessoa. Assim como no sonho de Erik, o holandês van der Decken chega do mar com seu pai. Ela fica estática, paralisada diante daquele homem misterioso, por quem se sentiu atraída durante toda a sua vida.












Dido e Eneas (Ópera)

 Ópera do compositor barroco Hery Purcell (1659-1695), composta em 1689, é baseada no Livro IV do poema épico A Eneida, do poeta romano Virgílio.



Primeiro Ato

A rainha Dido, fundadora da jovem cidade de Cartago, lamenta-se por ter um sergredo que não pode ser revelado e diz que não consegue ter paz.

Sua serva Belinda lhe fala sobre o heroi troiano e diz que se se unirem poderão fazer Troia reviver. Trata-se de Eneas, filho de Anquises (primo do rei Priamo, de Troia) e da deusa Afrodite ou Vênus para os romanos. Dido fala que ele tem o valor de Anquises e o encanto de Vênus, e se sente muito preocupada e angustiada.

Os empregados falam para ela não se preocupar pois ele a ama como ela, pois o cupido, que apanha flores nos Campos Elíseos*, o teria flechado.

* Os Campos Elíseos na mitologia grega, seriam semelhantes ao jardim do Éden, ou seja, o paraíso do mundo dos mortos governado por Hades, e oposto ao Tártaro, similar ao inferno.

Enéas chega e dá demonstrações de amor que a princípio são recusadas por Dido, que tenta se proteger de seu destino, mas ela acaba cedendo.


Segundo Ato

Uma feiticeira que deseja o mal da rainha Dido e quer ver a destruição da cidade de Cartago, trama junto a outros seres malignos para enganar Eneas. O heroi grego tinha um destino traçado pelos deuses, que era o de chegar a solo italiano (mais especificamente o Lácio, região histórica central da Itália) e fundar uma nova cidade.

Eneas e Dido saem juntos para uma caçada e a maldosa feiticeira envia um elfo que toma a forma do deus romano Mercurio (Hermes na mitologia grega), para parecer que foi enviado por Júpiter (Zeus).

Antes de começarem devem conjurar uma tempestade para arruinar a caçada. Os servos da feiticeira dizem que vão preparar o feitiço no escuro de suas celas pois ele é terrível demais para ser preparado ao ar livre.


Em uma tenda num lindo bosque, Eneas e Dido se entregam ao amor antes que ele parta para a caçada. Dido se banha em uma fonte onde Actéon* teria encontrado seu destino.

* Acteon foi transformado em um cervo (um veado) pela deusa Diana (Artemis) enquanto caçava, como castigo por ele tê-la observado se banhando naquela fonte, e foi perseguido pelos seus próprios cães.

Chega então a tempestade e a rainha volta às pressas para o palácio com sua comitiva. Eneas vê o elfo disfarçado de Mercúrio, que diz vir a mando de Júpiter, com a mensagem de que ele deve partir imediatamente para as costas latinas (Itália) e restaurar Tróia.

Ele diz que vai obedecer mas se revolta, e não sabe como dar a notícia à rainha. Chama seus companheiros para se prepararem para a partida naquela mesma noite.

A feiticeira e suas servas celebram a ruína de Elissa (Dido). 

Eneas vai dar a notícia sobre o decreto dos deuses à Dido mas ela não acredita em sua palavra, achando que ele está atribuindo aos deuses uma decisão dele mesmo. Ele diz que irá desobedecer às ordens de Júpiter e que ficará com ela, mas ela já não o quer mais dessa maneira.

Eneas parte durante mais uma tempestade provocada pela feiticeira e Dido tira sua própria vida.