Dirty Dancing 2 - Noites de Havana

Havana, Cuba, 1958.
 
Durante a alta estação de férias e festividades de final de ano muitos turistas chegam à ilha em busca de diversão nos hotéis e cassinos, e também para desfrutar das paisagens paradisíacas e de quentes ritmos caribenhos como o mambo.
 
Grandes empresas americanas também se estabelecem na ilha, de olho na maré de prosperidade. Nesse contexto, a tímida e desengonçada jovem Katey Miller acaba se mudar para Havana com a família, onde o pai irá trabalhar na empresa de automóveis Ford.
 
Ela logo percebe o abismo que separa os americanos dos nativos. São dois mundos paralelos se complementam, mas que não se misturam jamais.
 
O presidente e ditador Fulgêncio Batista governa a ilha com mãos de ferro para garantir que tudo funcione da melhor maneira e que nada nem ninguém atrapalhe os seus planos e dos seus aliados, os mafiosos, grandes responsáveis por transformar o local em um parque de diversões dos jogos de azar, uma verdadeira Las Vegas dos dias de hoje.
 
E a história dos últimos dias de glória desse paraíso da contravenção está contada de maneira leve no filme Dirty Dancing 2 - Noites de Havana, do diretor americano Guy Ferland, lançado em 2004.


 
 
Como eu disse, o filme é leve e traz um romance bem água com açúcar, tendo a dança como estrela principal, no mesmo estilo do primeiro filme, o nostálgico Dirty Dancing - Ritmo Quente, de 1987 (que por sinal tem uma trilha sonora incrível).
 
O falecido ator Patrick Swayze, herói do primeiro filme, tem uma participação também em Noites de Havana, como instrutor de dança.
 
 
 
Não podemos dizer que esse segundo filme seja uma continuação, pois o primeiro se passou em 1963, ou seja, depois da Revolução Cubana, enquanto o segundo filme se passa no final de 1958, bem no olho do furacão da revolução,  no momento em que os rebeldes, liderados pelo jovem advogado cubano Fidel Castro e pelo médico argentino Che Guevara, derrubam a ditadura de Batista.
 
Como no primeiro filme, a mocinha também conhece um jovem e sedutor rapaz nativo que vai lhe ensinar a dançar e com quem ela terá um envolvimento amoroso.
 
Mas esse rapaz agora, o Javier Suarez, também vai acabar mostrando à moça um outro lado da ilha, longe do glamour dos resorts e dos cassinos. Um mundo de sensualidade natural, de dança e musicalidade genuínas, mas também um mundo de pobreza e de opressão, um caldeirão prestes a entrar em ebulição.
 
O jovem fala para a moça sobre um herói cubano, o José Martí, mártir da Independência de Cuba no final do século 19, criador do Partido Revolucionário Cubano e grande inspiração dos rebeldes.
 
As figuras de Batista, de Fidel e de Che Guevara não aparecem explicitamente no filme, no entanto, quem tem algum conhecimento da história consegue identificá-los no pano de fundo, com os rebeldes representados pelo irmão do personagem Javier e por seus amigos.
 
Durante as cenas sobre a revolução o filme toma um ar mais sério, mais pesado, mas mesmo assim pode-se notar um certo idealismo na causa dos rebeldes, que lutavam por liberdade e para expulsar da ilha os exploradores mafiosos. E o filme vai até esse momento, em que a população festeja essa conquista.
 
No entanto, o que aconteceu na vida real após essa revolução socialista, não se parece nem um pouco com aqueles ideais pregados por Fidel e por Guevara. Uma outra história, ainda mais opressiva e  sanguinária estava só começando para o povo cubano.
 
O Che Guevara tornou-se um homem cruel e violento, bem diferente do herói idealizado por estudantes pelo mundo afora, como símbolo de rebeldia. Morreu alguns anos depois, em 1967 na Bolívia, onde tentava implantar também lá uma outra revolução.
 
Fidel Castro, juntamente com seu irmão Raul Castro, ao tomar o poder mostrou a sua verdadeira face aliando-se à extinta União Soviética (atual Rússia), implantando o socialismo na ilha e tornando-se ele mesmo um ditador.
 
Desde então, há mais de 50 anos, além de coibir violentamente a liberade dos cubanos, ele continua tentando expandir a sua falida revolução para os outros países da América Latina, angariando seguidores fanáticos que lutam em prol da sua própria ganância e da sua ideologia comunista.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

O Poderoso Chefão

Nova York, 1946.

A fictícia família Corleone comemora a festa de casamento da filha, a Connie, e o patriarca Don Vito Corleone, um poderoso gangster conhecido como "padrinho", recebe pedidos de favores nada convencionais de alguns dos convidados em troca da lealdade deles.
 
Vito Corleone tinha vindo da Sicília, na Itália, alguns anos antes, em circunstâncias muito difíceis,  começando uma nova vida na América. Ali, ao lado de outras famílias italianas, os Corleone conseguiram enriquecer através de atividades ilícitas, tendo como fachada alguns negócios legítimos como a produção de azeite.
 
A história dessa família dentro do contexto da máfia americana está magistralmente contada no premiado filme O Poderoso Chefão (título original: The Godfather), de 1972, do diretor americano Francis Ford Copolla, baseado no livro homônimo do escritor ítalo-americano Mario Puzo.
 
 
 
 
 

 
 
Esse fílme é o primeiro de uma trilogia e é estrelado por atores como Marlon Brando, Al Pacino, Robert Duvall, Diane Keaton, entre outros.
 
Marlon Brando, no papel de Don Vito, e Al Pacino, no papel de Michael Corleone, um dos três filhos de Don Vito, apresentam uma atuação brilhante, para dizer o mínimo.
 
 
 Al Pacino como Michael Corleone
(então com 32 anos)
 
Muito mais que um filme sobre a máfia, O Poderoso Chefão toca em valores sublimes como família, honra, lealdade e hieraquia. Don Vito é acima de tudo um homem justo.
 
Mas se é uma obra fictícia, por que seria um filme histórico?
 
O Poderoso Chefão retrata muito bem o momento pós segunda guerra mundial, mostrando os Estados Unidos em franco crescimento. O próprio Michael é apresentado como um herói de guerra e, no primeiro momento, ele não tem relações com os negócios da família.
 
A cidade de Nova York estava tomada por gangters de várias nacionalidades: italianos, judeus, irlandêses... Eles exploravam negócios ilícitos, principalmente os jogos de azar e comércio ilegal de bebida. O tráfico de drogas também estava começando e no filme ele aparece como o motivo das desavenças entre as famílias que comandavam os esquemas.
 
Esse primeiro filme da trilogia vai dar o embasamento para os eventos que serão contados nas duas sequências, envolvendo a Revolução Cubana. O segundo filme é de 1974 e o terceiro de 1990. Falaremos deles em outras postagens.
 
Várias passagens e personagens do filme podem ser identificadas com um paralelo na vida real, como por exemplo, o cantor Johnny Fontane, que vai pedir ao "padrinho" Don Vito Corleone a  intervenção do chefão junto a um importante diretor de cinema para conseguir um papel no filme que ele iria produzir.
 
O diretor recusa enfaticamente o pedido no primeiro momento, alegando que Fontane teria arruinado a vida de uma atriz muito valiosa para o ele, alguém em quem ele teria investido milhares de dólares em aulas de canto, dança e interpretação, para transformar em uma estrela.
 
No entanto, os métodos de persuasão pouco ortodoxos do advogado dos Corleone, o "consigliere" Tom Hagen, vivido por Robert Duvall, são bem convincentes,  e Johnny acaba levando o papel.
 
Na vida real Johnny Fontane teria sido inspirado no cantor Frank Sinatra, que no início de sua carreira recebeu a ajuda de seu "padrinho", o mafioso Willie Moretti, que seria então uma das inspirações para a personagem de Vito Corleone, assim também como o mafioso Frank Costello, de quem Marlon Brando procurou imitar o jeito de falar.
 
A atriz mencionada pelo diretor seria então a belíssima Marilyn Monroe, com quem Sinatra teve um tumultuado relacionamento.
 
O filme seria "A Um Passo da Eternidade", que rendeu a Sinatra um Óscar de melhor ator coadjuvante em 1954.
 
 
Um destaque para o episódio do cavalo chamado Khartoum, nome da capital do Sudão, que foi tema de dois filmes já tratados aqui no blog: "Khartoum - A Batalha do Nilo" e "Honra e Coragem - As Quatro Penas Brancas".
 
 
O livro Noturno de Havana, do escritor americano T. J. English, conta mais detalhes os acontecimentos e personagens verídicos envolvendo a máfia americana, como Charles "Lucky" Luciano e Meyer Lanky, e também como ela se estabeleceu em Cuba e sobre como isso teria sido um dos motivos que levaram à Revolução Cubana. Já falamos aqui no blog dessas figuras e desse livro na postagem do filme "Mobsters - Império do Crime".
 

 
 
 
 
 
 
 
 


El Cid

Península Ibérica, 1080.

Formada por diversos reinos e condados, a península estava tomada ao sul pelos mouros e ao norte por nobres visigodos cristãos que tentavam recuperar suas terras, perdidas desde 711 para os muçulmanos vindos do norte da África pelo Estreito de Gibraltar e pelo litoral.
 
O principal rei naquele momento era Dom Fernando, rei de Castela, Leão e Astúrias. Um vassalo, nobre e fiel cavaleiro chamado Rodrigo Díaz de Vivar, lutava para defender seu rei contra os mouros quando conseguiu aprisionar cinco deles, que eram emires, ou seja, também eram reis para os mouros.
 
Um deles, Moutamín, argumentou que se eles fossem mortos, seus exércitos viriam com mais destruição, o que Rodrigo queria evitar, então, num acordo de não agressão, deixou-os viver, e, por esse ato de misericórdia, passou a ser chamado pelos mouros de El Cid, que era como eles chamavam um guerreiro justo e complacente.
 
Mas o ato trouxe duras consequências para Rodrigo, e a história de sua vida está contada no filme El Cid, do diretor americano Anthony Mann, lançado em 1961, quando os filmes épicos estavam fazendo muito sucesso.
 
 


 
Os nobres visigodos eram bárbaros germânicos que haviam contribuído para a queda do Império Romano, por volta de 500 d.C. e estavam na Península Ibérica desde então. Mas eles tinham ficado limitados ao noroeste da península desde o ano de 711, quando os mouros invadiram e tomaram rapidamente todo o sul da região.
 
Os três filhos de Dom Fernando eram Dom Sancho, Dom Afonso e Dona Urraca. Todos seriam seus herdeiros pois, seguindo um velho costume germânico, o reino seria divido após a morte do patriarca.
 
O rei possuía um guerreiro de sua confiança chamado "Campeão do Rei". Rodrigo estava noivo da filha do atual Campeão do Rei, a bela Chimene, vivida pela atriz Sopha Loren.
 
Porém, ao ser acusado de traidor por ter deixado os mouros com vida, o pai de Chimene ofende a Rodrigo e a seu pai, um ex-Campeão do Rei. Ao tentar resgatar a honra de seu pai, Rodrigo acaba se envolvendo em uma luta com pai de Chimene e o mata, contra sua vontade mas para se defender. Chimene, que amava muito seu pai, volta-se com todo o seu ódio contra Rodrigo e rompe o noivado.
 
Eis que chega então o rei de Aragão, Ramiro, para reivindicar a cidade de Calahorra, onde o rei Fernando e sua família habitavam. Para evitar uma guerra entre cristãos, já que eles tinham que poupar esforços e recursos para lutar contra os mouros, Ramiro então propõe um duelo entre os seus melhores guerreiros, e quem vencesse ficaria com a cidade.
 
Rodrigo se ofereceu para lutar, dizendo que se ele fosse inocente das acusações que pesavam sobre ele, Deus então ficaria a seu lado na luta. Rodrigo vence e passa a ser o novo Campeão do Rei.
 
Ele parte em uma missão e diz ao rei Dom Fernando que, se voltasse com vida, gostaria de se casar com Chimene, mesmo contra sua vontade.
 
Só que Chimene, ainda com ódio de Rodrigo, trama sua morte com um outro vassalo que era apaixonado por ela, García Ordoñez, que iria então armar uma emboscada para Rodrigo. Só que no momento da armadilha os mouros que Rodrigo libertou o ajudam e ele volta com vida, deixando também Ordoñez viver. 
 
Ao voltar, Rodrigo se casa com Chimene, que o ama mas não o perdoa.
 
Morre então o rei Dom Fernando, deixando, como esperado, parte do reino para cada um do dos filhos, que não concordam com a divisão e começam a lutar entre si.
 
Essas disputas então marcam o restante da trama. Rodrigo prefere ficar de fora para não ser injusto com nenhum dos novos reis, e acaba sendo exilado.
 
Naquele momento estavam começando as Cruzadas, que era a luta dos cristãos contras os muçulmanos, que iam expulsá-los de Jerusalém em troca de indulgências (perdão pelos seus pecados) mas também da Península Ibérica.
 
Rodrigo então parte para reconquistar a cidade de Valencia, no leste da península, porta de entrada dos mouros pelo Mar Mediterrâneo, e acaba reconquistando também o amor de Chimene e a confiança do rei Afonso VI, que havia vencido seus irmãos e era agora o soberano.