Filme de 2019, do diretor Martin Scorsese, conta a história de um ex-sindicalista, membro da máfia nos Estados Unidos, vivido pelo ator Robert de Niro, que confessa ter assassinado o líder sindical americano Jimmy Hoffa, interpretado por Al Pacino.
Hoffa também já havia sido representado nas telas pelo ator Jack Nicholson no filme "Hoffa - Um Homem, Uma lenda", de 1992, dirigido por Danny DeVitto.
O texto a seguir de autoria de Vitor Grané Diniz, da página "Noites de Cinema" do Facebook, brinda-nos com mais um pouco de história da sétima arte, fazendo um paralelo entre as atuações desses dois gigantes das telas, Nicholson e Pacino, desse personagem especificamente, falando também do desafio que é para um ator interpretar personagens reais.
Jimmy Hoffa: Al Pacino x Jack Nicholson
Interpretar um personagem real, ou uma figura histórica
não é fácil. Dar a vida a um personagem fictício permite ao ator gozar de uma
certa liberdade para criar e incorporar ao personagem os elementos que ele
julga serem necessários; já quando se trata de uma figura real, o ator fica bem
mais limitado, ele tem que aprender as características e hábitos de seu
personagem e se concentrar apenas nisso, sem muito espaço para criar ou
improvisar; mas isso não significa “imitar” o personagem que está sendo
retratado, “não se pode fazer imitações de pessoas, elas nunca funcionam”
garante Marlon Brando. Talvez seja justamente por essa dificuldade que tantas
interpretações vencedoras do Oscar foram de atores e atrizes que interpretaram
personagens reais, tomemos como exemplo Meryl Streep (Margareth Tatcher),
Daniel Day-Lewis (Abraham Lincoln), Eddie Redmayne (Stephen Hawking), Gary
Oldman (Winston Churchill), Jamie Foxx (Ray Charles), Rami Malek (Freddie
Mercury), Renée Zellweger (Judy Garland), dentre tantos outros...
Há quem diga que para se interpretar
um personagem real, o ator precisa extrair todas as suas principais
caraterísticas e reforçá-las em cena.
Como bem observou a autora e professora de interpretação
Ivana Chubbuck em seu livro O poder do ator: “Os atores mais consagrados
pelo seu talento são aqueles que nunca perdem de vista quem eles são como
pessoa quando estão atuando. Robert DeNiro, Jack Nicholson, Meryl Streep, Cate
Blanchett e Al Pacino interpretaram, cada um, uma variedade de personagens, mas
você sempre pode ver os traços do seu verdadeiro eu no seu trabalho.” De fato,
todo bom ator sempre manterá sua “base” na composição dos seus personagens,
além disso, acrescentará características únicas e especiais a cada um deles.
Tomemos como exemplo Jimmy Hoffa, líder
sindical e importante figura da história norte-americana do século XX. Hoffa já
foi interpretado nos cinemas por ninguém menos que verdadeiras lendas como Jack
Nicholson e Al Pacino. Na primeira versão, Hoffa – um homem, uma lenda
(1992), Nicholson abriu mão, quase que completamente, de sua base como ator
para assim tentar encarnar com precisão e detalhadamente a figura do ex-líder
sindical. Não deu muito certo, afinal o filme não fez tanto sucesso e Nicholson
foi indicado à Framboesa de Ouro na categoria de pior ator. Mesmo com toda a
sua experiência e com vários sucessos no currículo, Nicholson cometeu um erro
fatal. Já na segunda versão, em O irlandês, Al Pacino interpreta Hoffa
de forma livre e não totalmente presas às características do verdadeiro Hoffa,
embora Pacino tenha estudado seu papel a partir da figura real, ele se valeu
muito mais de sua base e de suas marcas registradas para compor o personagem do
que Nicholson. Deu muito certo! Por este trabalho Al Pacino foi indicado ao
Bafta, Globo de Ouro, Prêmio do Sindicato e o Oscar, todos na categoria de
Melhor Ator Coadjuvante.
Ou seja, é possível sim que um ator, ao interpretar um personagem real, ainda assim possa se valer de sua base sem ter que anular suas características para dar vida ao personagem.
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